“É urgente eliminarmos da mente humana a ingênua suposição de que seja possível sair da grave crise em que estamos mergulhados, usando o mesmo pensamento que a produziu” é uma frase frequentemente atribuída a Albert Einstein, mas pouco usada como referência ativa. Em quase todo o tempo o Brasil está em crise. Adoramos tanto elas, que ficamos de crise em crise, sem mudar nossas atitudes.
A maioria de nós não gosta da ciência e não a usa como referencial para os atos – os líderes que temos apenas espelham a sociedade. É muito frequente observar gestores que se orgulham de não ter estudado e, apesar de grande experiência, muita prática e um sucesso relativo, não possuem a capacidade de interagir com respeito com cientistas, pelo fato de eles não possuírem dinheiro em abundância, em razão de terem direcionado as suas vidas para outros objetivos.
Por um conjunto grande de razões não houve um período de crescimento expressivo e contínuo do Brasil. Sempre tivemos reveses antes da hora necessária para começar uma diferenciação em relação ao mundo desenvolvido. Como constatado por Thomas Piketty, a desigualdade não é econômica ou tecnológica, mas ideológica e política. Não conseguimos unir politicamente a Amazônia em um bloco com uma pauta única. A ideologia é a da vitória individual e não da sociedade. Enquanto isso não for possível, continuaremos numa situação onde o interesse de poucos se sobreporá ao interesse de muitos.
Há tantas alternativas para unir a região com um conjunto pequenos de prioridades, mas estamos constantemente nos dividindo, atrás de interesses particulares de A, B ou C. É porque a crise não chegou verdadeiramente ao sentimento das lideranças. Elas notam as crises, interagem com ela, mas nada sentem. Assim, sem sentir, fica difícil unir-se por alguma causa comum. Com isso, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia perde seu orçamento e musculatura ano após ano, o Centro de Biotecnologia da Amazônia é um prédio sem cientistas e Manaus, com sua belíssima floresta e rio, está engarrafada e de costas para a natureza.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Excelente o artigo. De há muito tempo a pesquisa não interessa aos gestores públicos deste estado e do país como um todo. O INPA, sonho brasileiro de fazer frente aos interesses internacionais, aos poucos foi se convertendo em uma espécie de acampamento avançado para pesquisadores estrangeiros, devido a falta de convergência com o poder central e a pouca visão de seus gestores, nos últimos 30 anos, e , como bem coloca o artigo cada um olhando para seu próprio interesse deixando de lado a visão maior que são os destinos da ciência na região. Por não ter e nem buscar ter força política, ele foi sendo esquecido nos debates sobre a importância que representa, diante de uma sociedade que não acredita no poder da ciência para alavancar melhores padrões de qualidade de vida. Quanto ao CBA, sua criação passou por um pesadelo e após mais de duas décadas de sua criação, continua vazio e sem diretrizes quanto ao seu futuro. Lá estão alocados, em equipamentos (muitos com certeza já ultrapassados) milhares de reais como a mostrar que os pesadelos podem ser transformados em sonhos, quando são compartilhados com a comunidade.