EDITORIAL
MANAUS – Uma decisão da Justiça estadual do Amazonas, na semana passada, animou políticos e consumidores de energia elétrica, ao proibir a concessionária Amazonas Energia de realizar a troca de medidores.
A empresa começou a substituir, em Manaus, os medidores instalados nas paredes e muros dos imóveis por outros colocados nos postes, a uma altura de 3 a 4 metros.
Essa medida não é nova. No fim dos anos 1990 e início da década passada, quando a distribuição ainda era um serviço estatal, a empresa responsável também trocou medidores das paredes pelos de postes em diversas regiões de Manaus.
O projeto, no entanto, não se sustentou. Houve muita reclamação, ações judiciais, e não produziu os resultados esperados, principalmente a redução do furto de energia.
Eis aí o “x” da questão: o furto de energia. A empresa concessionária alega que com os medidos nos postes será mais difícil ao consumidor manter o “gato” de energia. Ocorre que o problema do furto de energia vai muito além da simples troca de medidor.
O furto de energia em Manaus e em grande parte do interior do Estado virou um problema insustentável no curto prazo. Cada vez menos pessoas paga em sua totalidade a energia que consome.
Os “gatos”, aquelas ligações escondidas ou a manipulação do medidor para contar aquém do consumo, são uma prática comum em Manaus em imóveis de todos as classes sociais.
Recentemente, um alto funcionário de uma empresa produtora de energia elétrica disse, em depoimento à CPI da Energia, na Assembleia Legislativa do Amazonas, que os mais ricos são os que mais furtam energia elétrica.
Mas os “gatos” como prática clandestina não é a única e nem a mais usual das práticas de furto de energia. As ligações diretas dos postes de energia passaram a ser feitas sem qualquer preocupação por consumidores que não conseguem mais pagar a conta de luz.
Diariamente, equipes da Amazonas Energia passam retirando essas ligações, mas elas são religadas minutos após a saída das equipes. Para muitos, essa prática de furto deixou de ser um crime, e é encarada com naturalidade, como se ele estivesse apenas suprindo uma necessidade básica.
Não se pode negar que a energia elétrica, numa sociedade em que tudo funcionar com energia, é uma necessidade básica do ser humano. Mas se um consumidor não paga a energia consumida, alguém pagará por ele.
Uma conta de energia a que o ATUAL teve acesso, com vencimento neste mês e consumo de 575 kWh, tem o valor total de R$ 775,05, incluindo a taxa de iluminação pública de R$ 50. Mas o que chama a atenção na composição da tarifa é a inclusão de R$ 113,81 de “perdas”. Veja abaixo:
Essas “perdas” que compõem a tarifa de todos os consumidores de Manaus é o pagamento pelo furto, pelos “gatos” de energia elétrica. A concessionária, apesar de tentar mostrar serviço para coibir o furto de energia, nada perde com essa prática criminosa dos consumidores.
Quem perde, em última instância, é o consumidor que não furta e que paga suas contas em dia. Imagine, um único consumidor pagar R$ 113,81 de perdas. Esse imóvel está pagando por pelo menos dois imóveis que poderiam estar incluídos na tarifa social.
Portanto, é necessário um esforço maior de todos: governo, prefeitura, polícia, órgãos de controle, concessionária e consumidores para combater o furto de energia. Iniciativas nesse sentido devem ser encaracas como urgentes.
Não basta simplesmente impedir a concessionária de instalar medidores em postes. Não haverá qualquer prejuízo para a empresa com essa proibição enquanto ela puder repassar aos consumidores honestos o custo do furto de energia.