Por Cleber Oliveira, do ATUAL
MANAUS – No discurso político, o Porto Novo de Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus), inaugurado em junho de 2018 e que desabou na manhã desta quarta-feira (11), foi construído para “levar dignidade aos seus usuários”, disse, na época, o então ministro Valter Casimiro (Transportes). O terminal custou R$ 66,8 milhões (R$ 89,8 milhões atualizados pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE).
“Quem conhece a realidade Amazônica sabe da importância que tem uma infraestrutura como a deste porto. Além de desenvolvimento e melhoria logística para o município, leva dignidade para seus usuários”, afirmou Casimiro, aplaudido por políticos do Amazonas na solenidade.
Na prática, a natureza amazônica levou uma parte da dignidade por água abaixo nesta quarta. Com a seca dos rios no Amazonas, a rampa de acesso entre à base na terra firme e a plataforma de embarque e desembarque na água ficou muito inclinada. O desmoronamento do barranco rompeu a ligação entre as estruturas. Chamado de “terras caídas”, o fenômeno é comum em período de vazantes dos rios na Amazônia.
Na época, o governo Temer lançou o Programa de Implantação de Pequenos Portos na Região Norte. O de Itacoatiara foi construído com emenda do então deputado federal Alfredo Nascimento e começou quando o parlamentar era ministro dos Transportes, no governo Dilma.
“Itacoatiara está recebendo um porto diferente de todos os outros do interior do Amazonas. Na minha cabeça é o diferencial para a economia local, mas está vinculado a isso a reconstrução da AM-010”, afirmou Alfredo, sobre a estrada estadual que liga Manaus ao município.
O porto tem capacidade para atracação de navios de até 35 mil toneladas, conta com uma ponte de acesso ao cais flutuante de 90 metros, uma rampa de concreto armado com 128 metros de comprimento para atracação simultânea de duas balsas de médio a grande porte, além de um pátio de cargas de 13.950 m² para 5 mil contêineres e amplo estacionamento para veículos, caminhões, carretas e bitrens.
O projeto levou 30 anos para sair do papel, durou cinco anos intacto até parte desabar com as “terras caídas” nesta quarta-feira. O Porto Novo não resistiu ao velho fenômeno natural amazônico, provavelmente não levado em conta no projeto da obra.
Na solenidade de inauguração, o então prefeito de Manaus, Arthur Neto, disse que seu grande sonho era transformar os rios do Amazonas em hidrovia. “Justamente para escoar, baixar os nossos custos e esse porto é fato. Então, eu tenho esperança de que esse porto venha a ser uma transição entre um momento de marasmo econômico para um momento de pujança, de mais geração de recursos para a nossa terra”, disse.
A esperança de Arthur durou até esta quarta-feira, quando parte da estrutura ruiu. O porto foi interditado. O Dnit não tem previsão para concluir os reparos.