Da Redação
MANAUS – Os picos de mortes por coronavírus em Manaus aconteceram 18 dias após os picos de tráfego de veículos e pessoas na cidade, afirma o relatório Atlas ODS Amazonas, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Ao infectar uma pessoa, o vírus leva, em média, 14 dias para desenvolver a doença.
“Concluiu-se que existe correlação forte e estatisticamente significativa entre o índice de intensidade de tráfego e a velocidade de óbitos e de sepultamentos em Manaus. Essa correlação ocorre com uma defasagem de tempo igual ao período indicado no estudo clínico. Ou seja, em torno de 18 dias após um pico de tráfego na cidade se segue um pico de óbitos por COVID”, afirma o estudo, coordenado por Henrique dos Santos Pereira, Danilo Egle Santos Barbosa, Pedro Henrique Mariosa e Bruno Cordeiro Lorenzi, mestrando de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia.
Segundo o estudo, a alta taxa de mobilidade provoca maiores números de mortes e o motivo disso seria a quebra do isolamento social. “Essas análises indicam que uma maior mobilidade urbana provoca um aumento na mortalidade por COVID-19 na cidade por anular o efeito das medidas que visam assegurar maiores taxas de isolamento e distanciamento social”, dizem os pesquisadores.
No gráfico abaixo é possível notar que os picos de tráfego levaram, após alguns dias, picos elevados de mortes. Veja:
Os pesquisadores relacionaram a curva de congestionamento no trânsito de Manaus com os índices de óbitos e de sepultamentos, baseados nos dados divulgados pela FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) e pela Semulsp (Secretaaria Municipal de Limpeza Pública).
Para medir a intensidade do tráfego foram usadas informações fornecidas pelo IDB (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que utiliza o Waze for Cities Program. Eles observaram que os picos de congestionamentos em Manaus acontecem aos domingos e as reduções nas quintas e sextas-feiras, chegando a reduzir até 90% do tráfego.
O maior pico ocorreu no dia das mães, no domingo do último dia 10. Outros acontecimentos também se relacionam com os índices, como a manifestação pró-governo que aconteceu no dia 15 de março com carreatas em Manaus.
Os pesquisadores analisaram também que as reduções de tráfegos só aconteceram até o segundo decreto de suspensão das atividades e, após isso, mesmo com outras medidas sendo decretadas, nenhuma redução significativa aconteceu.
“Em Manaus, os decretos que se sucederam parecem não ter provocado uma maior redução na intensidade do tráfego após o segundo decreto estadual da série. Essas variações na mobilidade urbana podem se decorrentes do comportamento da população de descumprimento das medidas de isolamento e distanciamento social”, dizem.