Por Katna Baran, da Folhapress
CURITIBA-PR – A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira, 23, a 64ª fase da operação Lava Jato, que envolve investigações sobre propina paga pela empreiteira Odebrecht. Estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão na casa de Graça Foster, ex-presidente da Petrobras, e de André Esteves, ex-presidente do BTG Pactual.
As buscas se relacionam a diferentes inquéritos policiais que contaram com as revelações do ex-ministro dos governos petistas Antonio Palocci em acordo de delação premiada. Nos documentos da Odebrecht, ele é chamado ‘Italiano’. O objetivo da PF é identificar outros beneficiários do dinheiro da planilha denominada ‘Programa Especial Italiano’.
Na quarta-feira, 21, a PF prendeu Mauricio Ferro, que era diretor jurídico da Odebrecht. Na casa dele, a polícia afirma ter encontrado quatro chaves de criptografia para acessar informações que podem ser inéditas e relacionadas ao setor de propinas da empresa. Estão sendo cumpridos 12 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Segundo a PF, os crimes abrangem corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Segundo
a PF, também é objeto dessa fase esclarecer atos de corrupção envolvendo
a BTG em um projeto de vendas de ativos da Petrobrás na
África. As investigações apontam que o negócio pode ter lesado os cofres
públicos em pelo menos US$ 1,5 bilhão, aproximadamente R$ 6 bilhões.
Esta fase é chamada de operação ‘Pentiti’, que significa ‘arrependidos’. O
termo faz referência a integrantes de organizações criminosas italianas que,
após as prisões, se ‘arrependeram’ e passaram a colaborar com as investigação.
Em maio, reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que o ex-ministro petista Antonio Palocci disse em delação premiada que o banqueiro André Esteves, dono do BTG, deu R$ 5 milhões para cobrir custos da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência da República, em 2010.
A contrapartida seria o governo petista transformar Esteves no ‘banqueiro do pré-sal’, segundo Palocci disse aos policiais federais em seu acordo de delação. À época, procurado pela reportagem e informado sobre o teor da reportagem, Esteves não quis se manifestar.
Palocci assinou três acordos de delação, dois com a Polícia Federal, de Curitiba e Brasília, e um com o Ministério Público Federal do Distrito Federal. O acordo de Curitiba foi recusado pela Procuradoria e criticado pelo procurador da Lava Jato Carlos Fernando Lima, que o chamou de “acordo do fim da picada”. Mais tarde, foi assinado com a Polícia Federal e homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Num outro caso, de 2015, André Esteves foi inocentado. Chegou a ficar 23 dias preso naquele ano por seu nome ter sido citado em conversas gravadas por um delator, num esquema que seria capitaneado pelo ex-senador do PT Delcídio do Amaral para obstruir a Lava Jato. Sem provas além da menção nas conversas, a prisão de Esteves foi revertida, e o caso, encerrado pelo Supremo Tribunal Federal.
A história agora contada por Palocci, negada por alguns dos citados e sem documentos que a comprovem, consta do termo de colaboração 7 do conjunto de histórias que compõem a delação que tramita em Curitiba e serve como base para investigação de desvios na Petrobras. O documento tem data de 17 de abril de 2018 e trata de operações financeiras relativas ao financiamento da construção de navios-sonda que atuariam nos campos de petróleo em alto mar.