
EDITORIAL
MANAUS – Ao anunciar novo recorde de lucro líquido da Petrobras para um trimestre, o presidente da empresa de economia mista, José Mauro Coelho, fez uma afirmação que soa como gozação aos brasileiros.
A frase completa abaixo:
“Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado, condição necessária para a geração de riqueza não só para a companhia, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para atrair investimentos para o país e para garantir o suprimento de derivados que o Brasil precisa importar”.
De que sociedade Coelho está falando? Não é da sociedade que paga a gasolina mais cara do mundo proporcionalmente aos salários ou à renda dos trabalhadores. Certamente, o presidente da Petrobras se refere à sociedade dos sócios privados da estatal, que embolsam o lucro líquido da empresa sem pagar qualquer tributo ao país.
Uma das linhas de defesa dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro quando o assunto é a alta dos preços dos combustíveis é que na Europa o valor do litro da gasolina, por exemplo, está mais caro que no Brasil. E é verdade, mas na Europa o valor do salário mínimo é incomparável ao do Brasil.
Não existe um salário mínimo para toda a Europa. Cada país define o seu. Na França, por exemplo, está 1.603,12 euros/mês. Na cotação de hoje do Euro em relação ao Real, o mínimo na França vale R$ 8.592,72. Ou seja: sete vezes o salário mínimo no Brasil, de R$ 1.212,00, o que equivale 226,11 euros. Nenhum país da Europa paga tão palco aos seus trabalhadores. Na Alemanha, o mínimo é 10,5 euros por hora e no Reino Unido, 10,68 euros a hora.
O argumento de que o preço do petróleo puxou para cima os preços dos combustíveis no mundo é verdadeiro, mas não serve para justificar os preços abusivos da Petrobras no Brasil.
O próprio presidente Jair Bolsonaro disse, na sexta-feira (6), que o lucro líquido da Petrobras é um crime. E está correto. Se as ações de Robin Hood eram consideradas crime porque ele roubava a nobreza para dar aos pobres, o que dizer de quem rouba dos pobres para encher a burras de investidores privados que fazem fortuna com o capital financeiro?
A “prática de preços de mercado” alegada pelo presidente da Petrobras nunca serviu para “gerar riqueza para a sociedade”, como ele diz. Apesar de a União ser sócia majoritária, o Estado brasileiro tem 51% das ações ordinárias (que dão direito a voto, por exemplo), mas apenas 28,7% das ações preferenciais (que remuneram os acionistas).
Dos R$ 48,5 bilhões de dividendos (lucro) que serão distribuídos aos acionistas, referente ao lucro líquido do primeiro trimestre deste ano, a União receberá apenas R$ 14 bilhões aproximadamente. O BNDES, que também têm 7,9% das ações da Petrobras, receberá R$ 3,8 bilhões. Portanto, R$ 30,7 bilhões vão para os acionistas privados.
Mas o Brasil ainda não está no fundo do poço. A Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) diz que os preços praticados pela Petrobras estão defasados e pressiona a companhia a elevar em R$ 1,27 o preço do litro do diesel e R$ 0,78 o litro da gasolina nas refinarias. Significa um reajuste de 21% no preço do diesel e de 17% na gasolina.
O presidente da Petrobras já afirmou que o reajuste será feito no momento certo.