Da Redação
MANAUS – O infectologista Marcus Lacerda, um dos responsáveis pela pesquisa com uso da cloroquina no Amazonas, lamentou, na manhã desta quinta-feira, 21, os ataques que ele e outros cientistas amazonenses receberam após a publicação de seu trabalho sobre o remédio, que concluiu pela ineficácia da droga para o tratamento de pessoas com a Covid-19.
Lacerda responsabiliza o ‘gabinete do ódio’, suposto grupo de agentes políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro que estaria promovendo discurso de ódio contra opositores, pelas notícias falsas que foram divulgadas sobre ele e seus colegas. “Após a publicação dos dados, em que demonstramos que a droga não elimina o vírus, e que não se devem tentar doses mais altas, fomos vítimas de uma terrível fake news oriunda de algum gabinete do ódio. Espalharam pro Brasil que havíamos matado 11 pessoas de propósito, porque éramos do PT e porque queríamos derrubar a menina dos olhos do presidente”, disse em rede social.
No texto, o infectologista disse que mesmo após dois meses os ataques ainda permanecem e estão vindo até mesmo de órgãos do Executivo federal, com abertura de inquéritos investigatórios que colocam em dúvida o trabalho dos cientistas. “Mesmo após todas as manifestações de apoio das sociedades científicas, esse grupo se vê ainda hoje intimidado por inquéritos civis e explicações a todo tipo de órgãos que deveriam também defender os pesquisadores, que são antes de tudo cidadãos, no exercício de sua profissão”, disse.
Lacerda também menciona a ausência de um posicionamento do Estado do Amazonas. O governador Wilson Lima não emitiu nota a favor dos cientistas ou da pesquisa desenvolvida, embora tenha aparecido com o pesquisador na divulgação inicial. “A sociedade amazonense se calou e perdeu a oportunidade de defender um dos seus patrimônios: a pesquisa clínica em doenças infecciosas, que aqui tem mais de 40 anos de excelência. Quem cala consente, quem cala apoia o novo regime”, disse.
O infectologista, que é doutor em Medicina Tropical e especialista em Saúde Pública da Fiocruz, lamentou a morte de pacientes que usaram a cloroquina sem prescrição e disse que são vítimas “das escolhas erradas de uma nação”. “Uma pena que não haverá responsáveis pelas mortes de idosos com Covid-19 usando cloroquina em casa, de form indiscriminada. A eles nosso mais profundo respeito, por pagarem o preço das escolhas erradas de uma nação. Nosso luto será ainda maior”, disse.
Lacerda conclui o texto agradecendo os amazonenses pelas oportunidades que encontrou no estado e fazendo um apelo para que conheçam mais seus cientistas. Lacerda é natural de Taguatinga, no Distrito Federal. “À sociedade amazonense, minha gratidão pelo que me proporcionaram até aqui, e um pedido de que conheçam melhor suas instituições, seus filhos de ‘bravos que doam’, e aqueles que pra cá migraram por opção. Como quis dizer o governador Eduardo Ribeiro, ao colocar uma bandeira na cúpula de seu teatro: ‘aqui também somos Brasil’ “, disse.
Leia o texto completo:
Há dois meses nos lançamos na aventura de ajudar a humanidade, fazendo o primeiro ensaio clínico controlado do mundo com cloroquina, para formas graves de Covid-19, em Manaus. Após a publicação dos dados, em que demonstramos que a droga não elimina o vírus, e que não se devem tentar doses mais altas, fomos vítimas de uma terrível fake news oriunda de algum gabinete do ódio. Espalharam pro Brasil que havíamos matado 11 pessoas de propósito, porque éramos do PT e porque queríamos derrubar a menina dos olhos do presidente. O poder dessa notícia impregnou a sociedade leiga, médica e científica.
Mesmo após todas as manifestações de apoio das sociedades científicas, esse grupo se vê ainda hoje intimidado por inquéritos civis e explicações a todo tipo de órgãos que deveriam também defender os pesquisadores, que são antes de tudo cidadãos, no exercício de sua profissão. As fake news encontraram terreno fértil na ignorância e no conceito popular de que: ‘onde há fumaça, há fogo.’ Quem acreditou na notícia deve ter o hábito de julgar os outros pelo que ele próprio teria coragem de fazer.
A sociedade amazonense se calou, e perdeu a oportunidade de defender um dos seus patrimônios: a pesquisa clínica em doenças infecciosas, que aqui tem mais de 40 anos de excelência. Quem cala consente, quem cala apoia o novo regime. Uma pena que não haverá responsáveis pelas mortes de idosos com Covid-19 usando cloroquina em casa, de forma indiscriminada. A eles nosso mais profundo respeito, por pagarem o preço das escolhas erradas de uma nação. Nosso luto será ainda maior.
À sociedade amazonense, minha gratidão pelo que me proporcionaram até aqui, e um pedido de que conheçam melhor suas instituições, seus filhos de ‘bravos que doam’, e aqueles que pra cá migraram por opção. Como quis dizer o governador Eduardo Ribeiro, ao colocar uma bandeira na cúpula de seu teatro: ‘aqui também somos Brasil’.
Nao duvido que os lunáticos por Bolsoanro nao tenha o que fazer so pode, venha querer desfazer um trabalho de um profisisonal