Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – A automedicação por cloroquina e a prescrição em doses altas para pacientes de coronavírus foram desaconselhadas pelo pesquisador Marcus Lacerda, da FMT (Fundação de Medicina Tropical de Manaus). Segundo o especialista, pacientes estão chegando aos hospitais em estado grave por uso de cloroquina e a medicação só deve ser usada em ambiente de pesquisa, sob aconselhamento médico, com doses baixas.
“As pessoas só devem usar cloroquina ou azitromicina em um ambiente de pesquisa. Elas precisam estar monitoradas por um médico e sob um regime de pesquisa clínica. Não há qualquer evidência no planeta de que pessoas que usam cloroquina não vão desenvolver formas graves (do coronavírus). Estamos vendo isso na prática, com várias pessoas chegando com quadro grave e que estavam usando cloroquina”, disse o pesquisador.
lacerda esclareceu que o medicamento pode ser tóxico ao coração e pode causar arritmia. “Não estamos mais recomendando cloroquina, estamos desestimulando o uso dessa medicação. Como todos já sabem, a cloroquina tem potencial sim de toxicidade para o coração, especialmente associada com azitromicina, que é um antibiótico que pode causar também arritmia no coração”, disse.
Para os médicos que optarem pela prescrição do remédio, o pesquisador esclarece que só pode ser feita em doses baixas, e que nesses casos o remédio é seguro. A análise foi feita após estudo com dosagens baixas e altas, aplicadas em 81 pacientes no Hospital Delphina Aziz.
“Não recomendamos a cloroquina em dose alta em nenhum lugar do mundo. O que mostramos aqui em Manaus é que essa dose baixa tem segurança, e caso o profissional tenha o desejo de prescrever, ainda sem evidência, pode prescrever com segurança. Até então essa informação ainda não existia e vários países estavam prescrevendo doses muito altas que nós não recomendamos baseado nesse estudo”, disse.
Sobre a pesquisa, o médico informou que deve continuar e que tem apoio do Ministério da Saúde e da Secretaria de Ciência e Tecnologia. Segundo Lacerda, comprovadamente a dosagem alta não é segura, mas não foi responsável por nenhuma das 11 mortes que aconteceram com os pacientes que utilizaram o medicamento em Manaus.
“Diariamente monitoramos os pacientes que usaram duas doses. Acontece que essas doses não se mostraram seguras. O eletrocardiograma que era feito diariamente mostrou isso. Portanto, essa dose foi suspensa, mas o estudo não. Continuamos estudando pessoas internadas no Delphina Aziz e acompanhando elas com a menor dose. É importante lembrar que a mortalidade de pessoas identificadas pelo estudo não foi diferente da de outras pesquisas. Muito possivelmente a morte se deveu à própria Covid-19 e não à cloroquina”, explicou.
Além da cloroquina, os pesquisadores da FMT também estudam outros anti-inflamatórios que podem ser úteis para pacientes em estado grave da doença.