Da Redação
MANAUS- A taxa de morte em pacientes com sintomas graves do novo coronavírus que estão fazendo uso da cloroquina no Amazonas é de 13% – em outros países, nos pacientes internados no mesmo estado de saúde que não usavam o antiinflamatório, a porcentagem é de 18%, segundo pesquisadores da FMT (Fundação de Medicina Tropical). O índice foi divulgado pelo pesquisador Marcus Lacerda na manhã desta segunda-feira, 6, nas redes sociais, na companhia do governador Wilson Lima.
Lacerda explica que para saber se a cloroquina tinha ou não efeito positivo no tratamento da Covid-19, era preciso comparar pacientes internados que receberam esta medicação com aqueles que não foram tratados com o antiinflamatório. Entretanto, o pesquisador afirma que não seria ético dar a alguns o acesso ao medicamento e a outros não.
Por este motivo, todos os pacientes do grupo em observação no Amazonas receberam doses de cloroquina e para comparar, os pesquisadores usaram resultados de estudos de pessoas internadas em outros países nas mesmas condições que do Hospital Delphina Aziz, mas sem serem medicadas com a cloroquina.
“Como a gente não tinha esse grupo de pessoas que não usaram cloroquina nós pegamos os dados da literatura, pegamos outros países que tinham feito exatamente a internação como nós estamos fazendo no Delphina e a letalidade, o risco de morrer era de 18%. Nos nossos pacientes, todos eles que usaram a cloroquina, esse risco ficou em 13%. Portanto um pouco mais baixo do que aquilo que é relatado na literatura internacional”, disse o pesquisador.
A pesquisa também mostrou a dosagem correta da cloroquina. Os pesquisadores compararam a dosagem feita pelos EUA e pela China, e concluíram que a dose maior era mais tóxica aos pacientes.
“Nós testamos duas doses de cloroquina, uma que está sendo usada pelos americanos e uma dose que os chineses usavam, que é uma dose muito alta e foi usada no início da epidemia na China. A nossa conclusão é que essa dose muito alta feita por dez dias tem de fato mais toxidade, ela levou mais pacientes para a internação e estamos desaconselhando que essas doses altas sejam dadas. Essa dose mais baixa que estamos usando é equivalente ao que o MS está recomendando. Então podemos dizer que mesmo o paciente grave pode usar a cloroquina sem o risco de morrer mais. Essa é a primeira grande conclusão que tiramos”, disse Lacerda, que confirmou a continuidade do uso do remédio.
Os estudiosos pretendem pesquisar o uso da cloroquina em pacientes que não estão em estado grave da doença. “A gente está querendo usar esse antiinflamatório que é a cloroquina antes que ele (estado de saúde) se agrave. Então isso potencialmente poderia diminuir a chance dele evoluir para a gravidade”, afirmou Lacerda.
Até o último domingo, 5, 81 pacientes estavam inscritos no protocolo de pesquisa e recebendo dosagens de cloroquina no Amazonas. Deste total, 11 morreram. Lacerda destaca que essa porcentagem considera apenas os casos graves do Delphina e não de todo o estado, uma vez que o remédio está sendo indicado por outros médicos da rede pública e privada.
“A gente desconhece o total de pessoas no Amazonas que usaram a cloroquina, mas esses 81 casos do hospital Delphina Aziz são casos que nós temos pleno controle. Nós sabemos quem é a pessoa, como ela entrou, que doenças ela tinha e nós fizemos eletrocardiograma diário, para garantir a segurança da droga. Porque é muito importante dizer que a cloroquina numa dose mais alta pode sim dar arritmias graves e até eventualmente levar a morte”, disse.
Os resultados da pesquisa serão divulgados em revistas científicas por meio de artigo.
Automedicação
Lacerda adverte para o perigo automedicação, uma vez que não há resultados suficientes sobre os efeitos da cloroquina no tratamento do novo coronavírus.
“Isso não deve ser feito justamente porque nós não temos essas informação ainda. E as pessoas estão confundindo muito o uso da cloroquina como uma forma profilática, ou seja, eu vou tomar a cloroquina como se fosse uma vacina e ao tomar eu não pegarei Covid-19. Essa informação não existe”, afirmou.