Recorrer ao crédito diante de queda do salário e desemprego foi a principal alternativa, segundo especialistas
O número de brasileiros endividados não para de crescer. Para saber as causas desse fenômeno social, leia mais artigos sobre economia e política, e a resposta estará lá. Mas alguns motivos já são conhecidos, como a falta de poder econômico, a diminuição dos salários, o desemprego na casa dos 12% da população e a inflação alta, que joga o preço dos produtos nas alturas.
Assim, pagar contas básicas, como água, luz e aluguel tornou-se missão impossível para muitos. Consumir algo que fuja do tradicional feijão com arroz também é algo raro para a maioria da população. Ainda assim, o número de endividados só aumenta no Brasil. O percentual alcançou seu maior índice em 12 anos, o que mostra um cenário delicado para o país neste momento.
De acordo com pesquisa da A pesquisa e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o número de brasileiros endividados bateu recorde em março: 77% das famílias fecharam o mês com alguma dívida: no cheque especial, empréstimo consignado, prestação do carro, carnê de loja e, principalmente, no cartão de crédito.
De acordo com a entidade que fez o levantamento, o endividamento registrado pela pesquisa cresceu mesmo com as taxas de crédito mais caras, diante da escalada dos juros no país. E de cada dez famílias, três estão com contas em atraso. É o maior número desde janeiro de 2010.
“Preço dos alimentos maior, preço dos combustíveis maior, e está sobrando menos dinheiro para elas consumirem itens de primeira necessidade, como, por exemplo, alimentos, medicamentos, e elas estão recorrendo ao crédito para sustentar esse consumo até o final do mês”, afirma Izis Ferreira, economista da CNC, em entrevista recente à TV Globo.
De acordo com a avaliação dos economistas ouvidos pela reportagem da emissora carioca, o endividamento do brasileiro está baseado em alguns fatores, como a diminuição do orçamento e o aumento nos preços, em decorrência da inflação. Em resumo: a grana está curta e o custo de vida não para de subir. Sem reposição nos salários, fica difícil manter o padrão de vida, ainda que ele não seja elevado.
No trimestre que terminou em fevereiro, a renda média do brasileiro atingiu o menor patamar dos últimos dez anos. Pesquisa do IBGE mostra que o ganho médio foi de R$ 2.511. Um ano antes era de R$ 2.752.
“As pessoas estão se reempregando, elas estão, digamos assim, de alguma forma buscando se ocupar, só que elas ainda não conseguem trabalhar o quanto elas conseguiam trabalhar antes, e elas ainda não conseguem receber o que elas recebiam antes da pandemia, principalmente naqueles setores que foram muito atingidos, como comércio e serviços”, explica Cosmo Donato, economista sênior da LCA Consultores, também em entrevista à TV Globo.
O Brasil já havia iniciado o ano de 2022 com índices de endividamento acima do normal. De acordo com um levantamento da CNC de janeiro, uma média de 70,9% das famílias brasileiras estavam com dívidas.
Na avaliação por faixa de renda, o endividamento médio das famílias com até 10 salários mínimos mensais havia aumentado 4,3 pontos percentuais (p.p), chegando 72,1% do total. Na faixa de renda superior, acima de 10 salários mínimos, o indicador aumentou ainda mais, 5,8 p.p., e fechou em 66%.