Em momentos de política econômica que promete o paraíso na terra, nada mais necessário que um exame profundo e histórico do que realmente nos aguarda enquanto país periférico e subdesenvolvido. Henrique Meirelles e seu grupo garantem recuperar em breve a economia, 0,1% de crescimento já é motivo de estourar champanhes em algum restaurante caro. Enquanto isso, Manhattan e Washington, no outro polo, comemoram com uma bebida ainda mais cara.
Quem já olhou para história vê que todos os países desenvolvidos – chamados de primeiro mundo, numa péssima nomenclatura – não praticaram, para chegar aonde chegaram, o manual neoliberal constantemente. Pelo contrário, todos esses países do centro do capitalismo possuem em sua história econômica, com raras exceções, uma prática protecionista, com forte presença estatal dentro e fora de seu perímetro.
O mais curioso, e aparentemente contraditório, é que por mais que realizem essa prática, espalham para os quatro cantos do mundo um discurso neoliberal como o mapa da mina, supostamente o melhor caminho a ser trilhado até o Eldorado dos países desenvolvidos.
Pelo menos desde a formulação da teoria da dependência tucana, encabeçada por FHC e Enzo Faleto, se escolhe como prática nacional entrar para o lado dos Estados Unidos dessa forma em particular, e aceitar sua condição, isto é, desistir dum projeto sério de desenvolvimento de combate estrutural do subdesenvolvimento e da dependência tecnológica, intelectual e científica.
O México, país cujo povo sente na pele as marcas dessa relação continental com os Estados Unidos, simboliza agora, melhor do que muitos, o futuro de quem abre sua economia e a deixa livre para os monopólios e o imperialismo parasitarem. O México não só estagnou seus combates à dependência e subdesenvolvimento, mas os aprofundou! A civilização que se fundou por cima da cultura do milho, hoje importa o alimento. Na sua versão transgênica.
Aqueles que, numa demonstração de enorme senso crítico e poder argumentativo, desejam mandar qualquer um que se oponha ao sistema vigente “para Cuba” costumeiramente esquecem dos vizinhos dessa ilha. A barbárie nasce e se prolifera na periferia do capital como uma peste.
Enquanto isso, aqui a promessa de crescimento está obrigatoriamente atrelada a um funcionamento natural do capitalismo. O Brasil para subir sua posição nos rankings das maiores economias do mundo medidas em PIB, terá de jogar o jogo com as regras dos vencedores. Para ascender seu crescimento, e “entrar no G5”, deve aumentar aqui o nível de exploração sobre o trabalhador. Reduzir salários, direitos, aumentar e piorar as condições e a quantidade de trabalho realizado.
Tal funcionamento, longe de negar a essência do capital, traz um elemento fortíssimo para a luta de classes contemporânea. A desigualdade aumenta não só na periferia – EUA, França e outros países centrais apresentam agora fenômenos de miséria antes só encontrados nos países subdesenvolvidos.
Os Estado de bem estar social, que foram por algumas décadas uma grande forma de trazer prosperidade econômica, apaziguando as contradições entre capital e trabalho, entram em colapso. O que esperar de um mundo em que o Estado não fará mais essa mediação?
Em tempos como esses não há alternativa a não ser procurar entender e combater os problemas em suas raízes mais fundamentais; não são tempos de pedir paz, porque a paz oferecida é a paz do cemitério.
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