“A Sociedade é Culpada” – O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, falou a Veja e afirmou que “A sociedade não é vítima da corrupção, impunidade e violência, além da má gestão dos políticos no Brasil. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria”. A coisa tá tão feia que, em alguns casos, vou falar num português mais “claro”. Aquele bom e velho português que todo mundo entende. Não vou falar coisas tipo: foi “abrido” um novo processo contra Adail Pinheiro ou coisa do tipo, mas vamos ser francos em dizer que assistir a um pronunciamento de Dilma Rousseff é mais engraçado que ver Zorra Total na Globo… de 10 X 0.
Para Marco Aurélio Mello[2] “há um vício no Brasil de acreditar que podemos ter melhores dias mediante novas leis. Mas nós não precisamos de novas normas. Precisamos é de homens, principalmente públicos, que observem as já existentes”. O governo não reconhece a existência no Brasil de cidadãos capazes de ter dúvidas, questionar ou fazer perguntas. Brasileiros que terminam o ensino básico pensam com a própria cabeça e podem, mais que eventualmente, não entender direito que diabos está acontecendo com seu país.
O sistema elétrico no Brasil agora é definido como “Pisca-Pisca”. O governo do PT aumentou o poder aquisitivo das classes menos favorecidas em geral e isso foi muito bom, mas esqueceu que mais TVs ligadas, mais condicionadores de ar, máquinas de lavar, notebooks… etc., consomem mais energia. E não houve investimento nessa produção de energia. Tem gente na lamparina! E ainda tem gente, por incrível que pareça, que nunca viu uma TV ou geladeira, apesar de já ter ouvido falar. A fechadura de cilindro, inventada em 1860, muita gente no Nordeste nunca viu uma! Mas em Davos, Dilma disse que está tudo de vento em popa no Brasil… aquele outro Brasil, é claro!
O Brasil vai crescer este ano (2014), cerca de 2,5%, segundo o Banco Mundial. O menor crescimento entre os BRICs. Mas entre 2014 e 2030 precisaria crescer ao menos 4,7% de forma estável, sustentável… e ininterrupta ou a coisa vai piorar. E até o PIB da China está em declínio desde 2007… Em 2013 o PIB da China fechou em US$ 7,6 trilhões (segunda potência econômica mundial). Só que o PIB dos EUA[3] fechou em mais de US$ 20,43… trilhões. E o Brasil perdeu a chance de aceitar a proposta americana de aumentar o comércio bilateral entre os dois países em 7 vezes mais (multiplicar por 7), porque Dilma ficou preocupada em ser espionada. E seria melhor mandar alguns brasileiros da Agência brasileira (ABIN) fazer estágios por lá para aprender as táticas do ramo com quem entende, ao contrário de está construindo Porto em Cuba[4].
Morre mais gente por dia no Brasil que na Guerra Civil da Síria. O Rio de Janeiro, sede da final da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, vitrine do Brasil potência, vê a volta dos justiceiros, criminosos impunes – e nem é só lá -, colapso nos transportes, caos aéreo e apagões. E… me pergunto, onde está o Brasil equilibrado, rico em petróleo, educado e viável que o governo enxerga? Ainda, parece que o país ficou “rico” em petróleo muito tarde. O maior consumidor mundial, os EUA, estão abandonando o uso do petróleo, apesar de ser 2º maior produtor mundial e maior consumidor no planeta. Acho que agora os desinformados vão entender, aos poucos, que as guerras nas quais os EUA estão envolvidos ou se envolveram pouco têm haver com petróleo.
Nesses últimos três anos, o Brasil de Dilma foi despertado de um sonho bom. Governo e sociedade vêm tendo de encarar uma dura realidade: ao contrário do que supunham, o Brasil não criou fórmula miraculosa unindo alto crescimento à inclusão social. Não há no país pilares de um novo modelo de desenvolvimento. Dada a baixa poupança interna, o Brasil continua a depender de grande influxo de capitais financeiros e também de investimentos estrangeiros diretos (IEDs). Por isso o tapering (diminuição de estímulos monetários nos EUA) e a própria retomada da expansão nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) causam apreensão no governo brasileiro.
Sem a certeza de um crescimento automático e inevitável, ilusão alimentada pela cúpula dos governos Lula-Dilma durante o período em que o país era o “queridinho dos mercados” e só recebeu a “marolinha” da crise de 2008, o Brasil começou a descer do salto alto. Daí Dilma, notadamente desinteressada em temas internacionais, ter optado por ir a Davos. Muitos dos fatores que permitiam tal entusiasmo foram perdendo a máscara. Perspectivas de biocombustíveis, petróleo e pré-sal não são mais tão animadoras. A governança e planejamento do setor energético brasileiro estão à deriva. Efeitos da expansão do crédito e consumo não têm mais caráter tão multiplicador. O apetite da China por commodities em que temos vantagens comparativas não parece mais tão vantajoso. Além disso, em razão dos conhecidos problemas logísticos brasileiros, os chineses têm buscado diversificar seu quadro de fornecedores.
Assim, foram quatro os pontos nevrálgicos em relação ao que a comitiva brasileira tinha a dizer: (1) Protestos: Isso é da democracia, e Dilma o ressaltou bem em seu discurso. A apreensão, no entanto permanece em relação ao que pode acontecer durante a Copa do Mundo; (2) Mudança no Panorama Internacional da Liquidez: Dilma também mencionou isso e sublinhou os mais de US$ 370 bilhões de nossas reservas cambiais. Muito do que se espera do afrouxamento da política monetária dos EUA nos próximos meses já foi precificado e incorporado ao atual patamar do câmbio no Brasil (e a depreciação dos últimos dias reflete os efeitos colaterais do que está acontecendo na Argentina); (3) Gestão da Política Econômica. O Brasil ainda vai sofrer por algum tempo os efeitos dessa combinação de afastamento do tripé, microgestão das concessões, custosos equívocos na política industrial (as tais “campeãs nacionais”), além do peso fiscal dos incentivos setoriais e do gigantismo da folha de pagamento. Aqui, os números não batem com o discurso de Dilma.
Além disso, do ponto de vista comercial, o país está sem bloco. O Mercosul converteu-se numa plataforma de empatias políticas, e o Brasil não negociou acesso aos principais mercados compradores do mundo. Sua ênfase nas negociações multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostrou-se ingênua, dada a inoperância e lentidão da entidade. Todos esses erros de política exterior no campo econômico hoje têm perceptível impacto negativo nas contas externas; (4) Reformas Estruturais. Esta foi a parte mais decepcionante do discurso de Dilma. Nada falou sobre reforma tributária, trabalhista ou de seguridade social. Em termos de melhora do ambiente de negócios, Dilma anunciou apenas a implementação do portal “Empresa Simples”, que prevê a redução para 5 dias do tempo médio para se abrir uma empresa. Embora importante, esse tipo de medida favorece, sobretudo empresas de pequeno porte.
Essa medida pouco interessa ao tipo de empresário e/ou investidor que frequenta Davos. Estes sofrem por custos diretos e indiretos da bizantina legislação trabalhista e fiscal no País. Têm de contratar verdadeiros exércitos de contadores e advogados, em vez de gente voltada à atividade fim da empresa. Mesmo quando mencionou a necessidade de “mudanças” num painel sobre BRICs, o Ministro da Fazenda Guido Mantega elaborava mais em termos conceituais do que sobre um plano de trabalho a ser efetivado nos próximos meses. Talvez tenha buscado sugerir algumas pistas do que seria a orientação no segundo governo Dilma, mas a probabilidade desse processo iniciar-se neste ano, ainda mais por razões eleitorais, é nenhuma.
O marco maior da conjuntura do Brasil no mundo é que o país está poupando e investindo menos que os 22% do PIB – média da América Latina. Esta, por seu turno, já é muito inferior ao percentual de investimentos do Sudeste Asiático. O Brasil não conseguirá investir mais sem quebrar vários “ovos” nas áreas trabalhista, fiscal e de seguridade social. Dilma não parece ter gosto ou mesmo vocação para liderar reformas. Seu presidencialismo de coalizão está mais a serviço do projeto de sua perpetuação no Planalto do que orientado à modernização institucional do país. Assim, o Brasil de Dilma utilizou Davos essencialmente para apresentar relatório de realizações, vocalizar compromisso com alguma política macroeconômica, elencar fronteiras móveis de consumo e sublinhar a continuação do programa de concessões.
No limite, a ida a Davos evidencia que Dilma e equipe se convenceram de que o Brasil também precisa ser vendido, e não simplesmente comprado. Estão se dando conta de que o cenário global mudou. E ele não é favorável às escolhas “desglobalizantes” feitas pelo Brasil nos últimos 11 anos em termos de comércio e investimento. Dessa forma, antes encastelada no isolamento seguro de suas convicções sobre os rumos supostamente alvissareiros do país, Dilma fez da viagem uma espécie de “Busca do Tempo Perdido”. Não representou, contudo, um “divisor de águas”. Nada se aventou da indispensável agenda de reformas estruturais. Em vez de desilusão ou entusiasmo, a resposta do “Homem de Davos” à passagem da comitiva brasileira pelos Alpes provavelmente é apenas apertar o botão de “pause”. Em termos de construção do futuro, o Brasil está imobilizado até 1º de janeiro de 2015. Depois disso, só um profeta poderia especular sobre alguma coisa.
[1] VEJA: Edição 2.360 – ano 47 – n°. 07 fevereiro de 2014.
[2] Presidente do TSE e a 24 anos no Supremo Tribunal Federal (STF).
[3] EUA têm o maior PIB mundial. O PIB mundial é de cerca de US$ 64 trilhões, segundo o Banco Mundial.
[4] O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) parece ter virado PAC – Programa de Assistência a Cuba e sua gerontocracia.
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Antero Simões / facebook/antero.simoes.RI / www.twitter.com/AnteroSimoesRI