Em seu livro ‘Lanterna na popa’, o economista Roberto Campos descreve a trajetória caótica do Brasil e do Ocidente e a mistura com suas memórias pessoais. Ele navega ao sabor de suas convicções filosóficas, ao mesclar o conceito de caos para apontar as razões porque o País vai demorar a construir o conceito de logos, o mito da prosperidade e da harmonia social. “Continuamos a ser colônia, um país não de cidadãos, mas de súditos, passivamente submetidos às ‘autoridades’ – a grande diferença, no fundo, é que, antigamente, a ‘autoridade’ era Lisboa. Hoje, é Brasília.”
Ele identifica nessa passividade, perante as autoridades despreparadas, uma das raízes das incoerências nacionais. A outra é o ensino gratuito das universidades públicas. “Todo mundo sabe que grande parte do dinheiro do governo é gasto para sustentar universidades ruins e grátis para classes médias que podem pagar. Nada melhor. Garante comícios das UNE´s da vida, ótima preparação para futuros políticos analfabetos”.
Podemos refletir sobre o significado dos últimos três anos que, aparentemente, ao menos, estão propiciando a expectativa das mudanças e a adoção de alguns modelos de transparência na aplicação dos recursos públicos. Essa expectativa se inspira nas ações do Ministério Público, da Polícia Federal e do Poder Judiciário, embora ainda continuemos a assistir ao predomínio da velha política que nada teme e nada busca em termos de mudança.
Como pensar na mudança da sociedade se o caos está entranhado nos critérios de governo na gestão pública? Em meio à grave crise na saúde, segurança, educação, viu-se, nas comemorações de fim de ano, a gastança nababesca à custa do contribuinte. E o que é pior: com a subserviência da população, o consentimento silencioso de quem paga a folia com elevadas e inaceitáveis cargas tributárias.
Basta relembrar a pirotecnia do Rio de Janeiro, um dos Estados mais atingidos com as mazelas da corrupção e do desmando, com presídios apinhados de gestores públicos de alto escalão. Foi ali que mais se gastou na farra de réveillon, com a justificativa esfarrapada de que o dinheiro arrecadado com o turismo seria expressivo em favor da população. Quem acredita nisso? E, se ninguém acredita, por que admitir esse nível de enganação? O ano começou e com ele permanecem os problemas. Por que continuamos a escolher esse tipo de autoridade e a obedecer-lhe? Podemos deduzir, então, que o caos permanecerá na medida em que o motor da estrutura e funcionamento do Brasil for o povo brasileiro, passivo e conivente com a gestão pública indecente.
O que esperar do Amazonas diante de sua aparente resignação com os últimos acontecimentos políticos e policiais ainda em curso? Ao menos, há a percepção de que nossos graves problemas não começaram agora. Nunca é demais recordar, há quase cem anos, o brado do advogado Heliodoro Balbi: “Qual será o estado definitivo e último da constituição social?” No coração da maior floresta tropical do Planeta, estamos à procura de uma bússola, em direção a dias melhores. Não podemos esquecer que há vestígios de nossa participação nos episódios constrangedores, caóticos, porém, necessários, que a justiça e a polícia estão devastando.
Resta, agora, utilizar nossas escolhas a favor de um novo tempo: digno, transparente e participativo na reconstrução do Amazonas. Como dito por São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.