MANAUS – O estresse faz parte do nosso cotidiano, e qualquer situação que nos tira da zona de conforto pode desencadear essa resposta automática do organismo. Embora possa ser útil em pequenas doses, o estresse crônico tem efeitos prejudiciais à nossa saúde física e mental.
Para entender o que ele representa podemos imaginar que quando estamos diante de uma ameaça, nosso cérebro ativa o mecanismo de “luta ou fuga”. Se percebemos fraqueza no oponente, lutamos. Se é algo mais poderoso, como um leão, fugimos.
Esse mecanismo é parte do nosso instinto de sobrevivência. Diante do estresse, o corpo é inundado por substâncias como adrenalina e cortisol, que preparam o organismo para a ação imediata. A pressão sanguínea aumenta, garantindo que sangue, oxigênio e nutrientes sejam direcionados aos músculos, deixando-nos prontos para correr, pular ou lutar. A visão se estreita para focar exclusivamente no problema, e processos como digestão e imunidade são temporariamente interrompidos.
No mundo moderno, o estresse não se restringe apenas às ameaças físicas. Atualmente, nossas preocupações giram em torno de outras situações, como contas a pagar, trabalho, filhos e incertezas futuras. Não estamos mais diante de leões como nossos antepassados das cavernas; e as situações que enfrentamos raramente podem ser resolvidas com luta ou fuga. No entanto, o nosso corpo reage a essas pressões modernas da mesma forma que reagiria se estivésseos diante de um predador.
Por isso, o estresse crônico pode trazer uma série de problemas à saúde, como insônia, hipertensão, gastrite, depressão, e outras síndromes psicológicas.
O estresse contínuo prejudica o funcionamento do corpo e da mente. Como não podemos fugir das obrigações do dia a dia, nossos músculos reagem de forma danosa, acumulando tensões no organismo.
Quem nunca se pegou perdendo o controle, batendo portas, falando coisas das quais se arrependeu, ou tomando decisões impensadas?
Sob estresse intenso, perdemos o acesso ao córtex pré-frontal, a parte mais racional e inteligente do cérebro. Somos dominados pela emoção do momento — raiva, tristeza, desapontamento —. E nossa racionalidade é diretamente afetada.
Nossos pensamentos também podem ser fontes de estresse, principalmente quando nós deixamos levar pelas emoções negativas. Isso corta a racionalidade e nos coloca em um ciclo vicioso, no qual reagimos de forma automática, muitas vezes causando ainda mais sofrimento para nós mesmos e para os outros.
Para lidar com o estresse, sem cair na resposta primitiva de lutar ou fugir, é preciso estar em um estado de atenção plena, em que o corpo e a mente estão presentes no momento. Quando estamos conscientes, deixamos de reagir automaticamente aos estímulos. Isso abre espaço para substituir a reação impulsiva por uma resposta inteligente ao desafio que se apresenta.
Às vezes, a melhor resposta é o silêncio — reconhecer que não temos condições emocionais para enfrentar uma situação agora é um ato de inteligência emocional. Respirar, concentrar-se e, literalmente, “esfriar a cabeça” são passos essenciais para estabilizar a pressão sanguínea e retornar ao equilíbrio.
A prática diária do mindfulness (meditação) pode ser uma ferramenta valiosa para a recuperação mais rápida do equilíbrio emocional. Ao praticarmos a atenção plena, treinamos nossa mente a focar no presente, a reconhecer nossas emoções e a responder de forma consciente, em vez de agir no piloto automático.
A psicóloga brasileira Marilda Lipp, referência em estudos sobre o estresse no país e autora de livros como “O Estresse Está Dentro de Você”, afirma que a percepção do estresse e a forma como lidamos com ele são fatores determinantes para a nossa saúde. Em suas pesquisas, Lipp reconhece que o controle do estresse depende da capacidade de autoconsciência e da aplicação de técnicas de relaxamento para lidar com situações adversas.
Um estudo publicado na Psychological Science também reforça os benefícios do mindfulness. Os pesquisadores descobriram que a prática regular de atenção plena pode aumentar a resiliência ao estresse, reduzindo os sintomas de ansiedade e melhorando a capacidade de tomar decisões racionais, mesmo sob pressão.
Precisamos reconhecer que nossos desafios modernos raramente podem ser resolvidos com uma resposta de “luta ou fuga”. A chave para lidar com o estresse de forma saudável é a prática da atenção plena, que nos ajuda a agir de maneira consciente e equilibrada diante das situações do dia a dia.
Praticando o mindfulness, treinamos nosso cérebro para pausar, respirar e dar uma resposta inteligente aos desafios, em vez de reagir impulsivamente. Isso nos permite recuperar o equilíbrio emocional e abrir caminho para uma vida mais tranquila e saudável. Afinal, às vezes, a melhor resposta ao estresse é reconhecer nossos limites, encontrar serenidade e agir com sabedoria.
Roseane Mota é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aluna do programa mentorado Bússola Executiva. É servidora pública do quadro efetivo do Estado e coordenadora de Comunicação na Unidade Gestora de Projetos Especiais - UGPE, do Governo do Amazonas.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.