EDITORIAL
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demonstra dia a dia que seu desespero cresce à medida que diminui o tempo para as eleições gerais de 2022. Nos últimos meses, passou a criar uma cortina de fumaça em torno da segurança da urna eletrônica, que vem sendo usada nas eleições brasileiras desde 1994.
Desde 2018, temendo perder a eleição no segundo turno, Bolsonaro passou a colocar sob suspeição o resultado da urna e a falar no voto impresso. Ele foi eleito, mas não abandonou o discurso contra a segurança das eleições. Ali, o presidente já preparava o terreno para o que vem fazendo agora, visando a reeleição a qualquer custo.
Bolsonaro cria uma narrativa de que só com o voto impresso haverá lisura no processo eleitoral. Nesta semana, o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM) trouxe uma reflexão segundo a qual a impressão dos votos pode gerar uma onda de denuncismo descarado pelo candidato perdedor para tentar inviabilizar o resultado das urnas.
Portanto, o risco do voto impresso para a democracia e para a lisura das eleições é muito maior do que os benefícios que a medida possa gerar para a sociedade.
Felizmente, nesta semana, mais de uma dezena de líderes dos maiores partidos na Câmara dos Deputados declamou-se contrária ao voto impresso, e sinalizaram que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para sua criação deve ser arquivada.
Na quarta-feira, esses líderes partidários se reuniram com três ministros do STF – Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli – para discutir o assunto. Além desses três, outros ministros do Supremo também são contra o voto impresso por entenderem que a urna eletrônica é segura.
Desde que foi criada, a urna eletrônica vem sendo aperfeiçoada e universalizada, gerando, principalmente, rapidez na divulgação do resultado das eleições. E nunca houve qualquer episódio que colocasse sob suspeição a licitude de uma eleição.
Agora, ao contestar a segurança da urna eletrônica, Bolsonaro quer apenas preparar o terreno para tumultuar o processo eleitoral, porque se vê diante de uma iminente derrota em 2022. Como presidente não aceita perder a eleição presidencial de 2022, ameaça quem o contraria no intento de instituir o voto impresso.
Nesta quinta, ele usou um tom ameaçador contra os ministros do STF que se reuniram com os líderes dos partidos: “Se essa articulação prosperar, esses três [ministros] vão ter que inventar uma outra maneira de termos eleições confiáveis, com a contagem pública de voto”. E completou: “Se não tiver, vão ter problemas ano que vem”.