
Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS — O cardeal e arcebispo de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner, afirmou, nesta sexta-feira (9), que o papa Leão XIV “continuará a dialogar” sobre temas considerados controversos na Igreja Católica como a benção a casais homossexuais e o ordenamento de homens casados como padres.
“Conhecendo um pouquinho o papa Leão, ele não se fecha ao diálogo. Certamente continuará a dialogar”, disse Steiner, em entrevista coletiva em Roma. “Tenho certeza de que o papa Leão não há de tolher o diálogo. Pelo contrário, ele é um homem de muito diálogo, de muita escuta”, completou.
Steiner também afirmou que o novo pontífice “não será repetição de outro papa” e lembrou de Francisco, que, para ele, é “irrepetível como cada um de nós é irrepetível diante de Deus”.
O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi escolhido nesta quinta-feira (8) para liderar a Igreja Católica. O religioso fez carreira religiosa na América Latina, especialmente no Peru. Foi lá que se destacou até alcançar os cargos mais altos da Cúria Romana.
Steiner disse que teve pouco contato com Prevost, mas que o norte-americano é um homem de muita escuta. “Talvez alguns de nós até pensássemos que seria preciso repetir o papa Francisco. Mas o papa Francisco é irrepetível, assim como cada um de nós é irrepetível. Diante de Deus, cada pessoa é única”, disse Steiner.
“Acho que podemos agradecer a Deus pelo Papa que temos. Ele será ele mesmo, não uma repetição de outro papa. Será quem tem sido até agora: um grande missionário, um homem dedicado, com uma visão extraordinária de Igreja e de mundo. Mas não se repete”, completou.
Homossexuais
Ao ser questionado sobre como o novo papa deve se posicionar em relação aos homossexuais, Steiner lembrou que Francisco dialogava sobre o tema e defendia que a igreja deveria “levar adiante”. Para o cardeal da Amazônia, o papa Leão XIV seguirá nessa linha.
“O papa Francisco fazia questão de dialogar essas questões, de conversar sobre essas questões. Nós, que éramos da presidência [da CNBB] — Dom Sérgio, Dom Murilo e eu —, abordamos com ele certas questões. Ele disse: ‘É preciso dialogar, é preciso aprofundar, levar a diante’. Tenho certeza que o papa Leão não há de tolher o diálogo. Pelo contrário. Ele é um homem de muito diálogo, de muita escuta”, disse Steiner.
Sobre o mesmo tema, o cardeal Dom Jaime Spengler, arcebispo de Brasília, afirmou a igreja concede a benção a “quem se aproxima”, mas ela não se confunde com o sacramento [matrimônio, por exemplo].
“Quanto à bênção, a Igreja sempre a concedeu a quem se aproxima pedindo. A bênção não é sinônimo de sacramento. Aqui existe uma distinção que também precisamos considerar… Além disso, o último documento do Dicastério para a Doutrina da Fé [um dos órgãos da Santa Sé] trouxe indicações preciosas nesse sentido, que talvez mereçam um aprofundamento”, afirmou.
Ordenamento
Sobre mudanças no ordenamento na Igreja Católica, Steiner disse que a Igreja Católica deve “dar passos” e que a questão não virá da América Latina — a questão foi levantada durante o Sínodo da Amazônia em razão da falta de padres. Ele falou sobre a possibilidade de ordenamento de homens casados.
“A questão dos viri probati [homens casados que podem ser ordenados padres] não virá da América Latina, a meu ver. Hoje, há muitos lugares na Europa sem presbíteros. Essa questão será refletida e aprofundada pela Igreja inteira”, disse o cardeal da Amazônia.
“É claro que, depois de tantos séculos, isso não significa eliminar o celibato. Mas a Igreja, depois de tanto tempo, com toda a espiritualidade e teologia desenvolvidas em torno do celibato, terá que dar passos. Veja: nós, na Igreja Católica de outro rito — mas ainda católicos — temos padres casados. Isso não é novidade na Igreja Católica. Então, continuar o diálogo, continuar a aprofundar é necessário, para não criarmos divisões desnecessárias por questões disciplinares e não teológicas”, completou.
Dom Jaime Spengler afirmou que “as mulheres desenvolvem um ministério extraordinário” e defendeu que a igreja precisa de “mais tempo” para debater a situação.
“São questões que foram levantadas durante o Sínodo. Existem grupos de trabalho designados para aprofundar esse tema. Creio que precisamos de tempo e daquilo que a Igreja sempre orientou: discernimento. E o discernimento exige três aspectos fundamentais: saber do que estamos falando, ter a capacidade de rezar sobre isso em conjunto e a disposição para o diálogo fraterno”, disse Spengler.
“É assim que seguimos no lusco-fusco do tempo da história, sem perder aquilo que é parte do fundamento da fé cristã e da tradição da Igreja. Creio que é um caminho no qual precisamos, sim, avançar — mas também precisamos de tempo”, completou o arcebispo de Brasília.