Por Clayton Castelani, da Folhapress
SÃO PAULO – O temor de que uma nova variante do coronavírus possa ser resistente a vacinas, o que exigiria medidas de contenção que vão afetar a economia, abalou mercados financeiros pelo mundo nesta sexta-feira (26), provocando fuga de ativos considerados mais arriscados. Bolsas, câmbio, criptomoedas, juros futuros e preços de commodities, especialmente o petróleo, foram afetados.
O Ibovespa, índice de referência para a Bolsa de Valores brasileira, caiu 3,39%, a 102.224 pontos. O dólar comercial fechou em alta de 0,53%, a R$ 5,5950. Na máxima do dia, a divisa chegou a saltar a R$ 5,6730.
As commodities mais importantes para o mercado brasileiro também sofreram impacto, com destaque para a forte queda do petróleo. O barril do Brent afundou 11,55%, a US$ 72,72 (R$ 406,20), a menor cotação desde 9 de setembro, quando a commodity fechou em US$ 71,45.
Diretamente afetadas pela variação do petróleo no mercado internacional, as ações preferenciais da Petrobras caíram 3,88%. Os papéis da estatal lideraram as negociações no pregão desta sexta.
Os contratos futuros de minério de ferro para janeiro de 2022 desabaram 4,87%, após uma sequência de altas impulsionadas pela esperança de aceleração da atividade econômica na China. Os papéis da Vale recuaram 2,64%.
Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram 2,53%, 2,27% e 2,23%, respectivamente.
O mercado de criptomoedas também registrou fortes perdas. A cotação diária do bitcoin cedeu 8,36%, a US$ 54.259,93 (R$ 303.090,54). O ethereum caiu 9,86%, a US$ 4.076,30 (R$ 22.769,80).
O Brasil seria especialmente prejudicado por novas medidas de restrição de circulação para conter uma nova onda da Covid-19, segundo Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. “Uma nova paralisação reduziria drasticamente a perspectiva de crescimento para os próximos anos, que já não é grande coisa”, diz.
João Leal, economista da Rio Bravo, destaca que o Brasil desenvolveu ao longo da pandemia mecanismos para “evitar uma retração econômica mais intensa” e que essas medidas ainda existem.
O governo precisaria, porém, gastar mais em um momento em que o risco de desequilíbrio fiscal já vem derrubando os investimentos nas empresas do país. “Haveria nova necessidade de estímulos fiscais e monetários”, diz Leal.
Os juros futuros fecharam a sessão em forte queda, prevalecendo a percepção de que o risco de desaceleração global trazido pela nova cepa pode reduzir a necessidade de um aumento tão agressivo de juros como estava sendo previsto.
Os contratos para janeiro de 2023 recuaram para 11,90%, ante 12,05% no fechamento da véspera, enquanto os que vencem em janeiro de 2027 passaram de 11,81% para 11,71%.
“Um crescimento menor demanda um ritmo mais lento de aperto da política monetária por parte dos bancos centrais”, afirma Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos.
Na Ásia, o mercado de ações em Tóquio caiu 2,53%. A Bolsa de Hong Kong cedeu 2,67%. O índice CSI300 (Xangai e Shenzhen) recuou 0,74%.
O mercado acionário europeu fechou em forte queda. O índice Stoxx 50, que reúne grandes empresas da região, caiu 4,74%, e registrou a menor cotação desde 14 de outubro.
As bolsas de Londres, Paris e Frankfurt recuaram 3,64%, 4,75% e 4,15%.
O Reino Unido anunciou proibição temporária a voos da África do Sul e de vários países vizinhos. A União Europeia planeja movimento similar.
O mercado acionário europeu já estava sob estresse nesta semana uma vez que o ressurgimento de casos de Covid-19 levou a novas restrições em vários países.
Pouco se sabe sobre a variante, detectada na África do Sul, em Botswana e em Hong Kong, mas cientistas dizem que ela tem uma combinação atípica de mutações, que pode ser capaz de evitar respostas imunológicas e que seria mais transmissível.
“O pânico impõe cautela no meio dos investidores, que, temerosos pelo avanço da nova variante do vírus mundo afora, se afastam do risco e se refugiam nos ativos que representam segurança”, escreveu Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora.
Quem lidera perdas no Brasil
Poucas empresas escaparam da queda generalizada do mercado de ações do país, mas o impacto foi maior nas companhias mais vulneráveis a eventuais medidas de restrição de circulação, com destaque para os setores de transporte, aviação, turismo e varejo.
Atividades ligadas ao setor financeiro e à produção de petróleo, aço e mineração também apareciam na lista dos principais prejuízos.
As aéreas Azul e Gol afundaram 14,18% e 11,81%, respectivamente. A empresa de viagens CVC despencou 11,06%. Completam a lista das dez maiores quedas Meliuz (-10,42%), PetroRio (-8,74%), Embraer (-8,41), Magazine Luiza (-7,36%), Banco Pan (-6,75%), Usiminas (-6,58%) e Americanas (-6,22%).
Ações disparam nos EUA
Entre as empresas listadas no S&P 500, referência do mercado acionário americano, companhias de turismo e de transporte aéreo lideraram as quedas.
As companhias de cruzeiros marítimos Royal Caribbean, Norwegian Cruise e Carnival perderam 13,22%, 11,36% e 10,96%, respectivamente. As aéreas United, American e Delta recuaram 9,57%, 8,79% e 8,34%.
As farmacêuticas que estão entre as principais desenvolvedoras de vacinas e medicamentos contra a Covi-19 foram as mais valorizadas. A Moderna disparou 20,57% e a Pfizer subiu 6,11%.
Mercados da China
As ações da China fecharam em baixa nesta sexta, refletindo a preocupação com a nova variante e os casos domésticos de Covid.
O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve queda de 0,74%, enquanto o índice de Xangai caiu 0,56%.
Na semana, o CSI300 perdeu 0,6%, mas o índice de Xangai teve ganho de 0,1%.
Uma série de casos locais de Covid-19 em algumas partes da China levou a cidade de Xangai a limitar as atividades turísticas e uma cidade próxima a cortar serviços de transporte público.
Isso derrubou as ações de turismo e as de consumo básico em 1,8% e 0,8%, respectivamente.
As ações relacionadas a semicondutores e de energia lideraram as perdas. Os subíndice imobiliário, de energia e de semicondutores caíram entre 1,2% e 2,8%.