Da Redação
MANAUS – Em 2019, a cada 10 mil habitantes 10,9 pessoas foram internadas por doenças associadas à falta de saneamento (diarreia, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária) no Amazonas. É o que mostra o estudo “Saneamento e Doenças de Veiculação Hídrica”, do Instituto Trata Brasil, divulgado nesta terça-feira (5).
O Amazonas registrou 4.519 internações por doenças de veiculação hídrica em 2019. Conforme a pesquisa, estados do Sudeste apresentam números de internação maiores que os do Norte, porém possuem sete vezes mais habitantes.
O estudo traz os casos por 10 mil habitantes, que considera a forma mais correta para fazer comparações. Com base nisso, os estados do Norte e Nordeste concentram as maiores incidências.
O Maranhão é o que tem mais casos, com 54,4 internados a cada 10 mil habitantes, seguido de Pará com 32,62, e Piauí com 29,64. Neste quesito, o Rio de Janeiro foi o que menos apresentou internações por 10 mil habitantes, com 2,84, seguido por São Paulo com 5,67 e Rio Grande do Sul com 7,14.
Regiões
A pesquisa constata que as internações por doenças causadas pela falta de saneamento se distribuem pelo país refletindo as condições sanitárias de cada região.
“Nota-se que a ausência dessa infraestrutura é mais evidente no Norte, onde somente 12% da população possui coleta de esgoto; na região foram 42,3 mil internações por doenças de veiculação hídrica. Em seguida, veio o Nordeste, onde somente 28% da população possui coleta de esgoto, e onde ocorreu o maior número de hospitalizações – 113,7 mil em 2019”, diz o estudo.
De acordo com o levantamento, o Sul foi a terceira pior região com 46,3% da população tendo acesso à coleta de esgoto e 47% do esgoto coletado é tratado. O Centro-Oeste tem 57,7% da população com coleta dos esgotos e 56,8% de tratamento do volume esgoto coletado. As duas regiões registram 27,7 mil internações cada.
Já o Sudeste tem os melhores indicadores com 79,2% da população com coleta de esgotos, porém com apenas 55,5% do esgoto gerado sendo tratado e 61,7 mil internações.
Como na comparação das internações por estado, a pesquisa traz dados por 10 mil habitantes para avaliar a situação real de cada região.
Levando em consideração a taxa de incidência por 10 mil habitantes, no Norte são 22,9 contra 19,9 do Nordeste, 17,2 do Centro-Oeste, 9,26 do Sul e 6,99 do Sudeste. A incidência nacional foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes.
Mortes
Em 2019, a falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário resultaram em 2.734 mortes, uma média de 7,4 óbitos por dia. No Nordeste, os óbitos ultrapassam mil casos, no Sudeste, 907 mortes registradas. O Norte registrou 214 casos.
Despesas
Em 2019, as mais de 273 mil hospitalizações decorrentes das internações por doenças de veiculação hídrica resultaram num custo de R$ 108 milhões.
Série histórica
De 2010 a 2019, o Brasil registrou uma queda com relação às internações por doenças de veiculação hídrica. Elas passaram de 603,6 mil para 273,4 mil internações no período, no entanto, houve um acréscimo de quase 30 mil internações de 2018 para 2019.
O estudo considera que isso mostra, mesmo ainda distante do ideal, que a expansão do saneamento trouxe ganhos à saúde, sobretudo com a expansão das áreas de cobertura com água tratada e coleta de esgoto ao longo dos anos.
“Em 2010, por exemplo, 54,6% da população não tinha coleta de esgoto, mas com o avanço, mesmo que tímido em nove anos, a população sem acesso foi reduzida a 45,9%. Sem dúvida, o avanço permitiu expressiva redução das doenças e óbitos por veiculação hídrica”, avalia a pesquisa.
Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, explica que essas são hospitalizações ocupando leitos que poderiam estar sendo destinados a doenças mais complexas.
“Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento dos esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não contar com a infraestrutura mais elementar”, afirma.
Dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) de 2019 mostram que quase 35 milhões de pessoas vivem em locais sem acesso à água tratada no país, 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta de esgoto e somente 49% dos esgotos no país são tratados.
Quando analisada a relação entre saneamento e doenças em 2020, dados preliminares mostram que o país teve 174 mil internações por doenças de veiculação hídrica.
“Seria uma redução de 35% comparativamente a 2019, mas os dados precisam ser analisados com cuidado pelas instituições médicas, pois a queda pode estar relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação da Covid”, informa o estudo.
Os óbitos em 2020 estão estimados em 1,9 mil, o que também seria uma redução entre 30% e 35% comparativamente ao ano anterior.
O estudo foi feito a partir de dados públicos do SNIS e o DATASUS, portal do Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e outras ocorrências relacionadas à saúde da população do Brasil.