Por Ana Carolina Amaral, da Folhapress
GLASGOW, ESCÓCIA – Nos corredores da COP26, diplomatas têm criticado a condução do Reino Unido na presidência da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, por privilegiar a negociação de questões que não estão na regulamentação do Acordo de Paris. Essa atitude, avaliam, prioriza a busca de um resultado político que marque o evento.
O objetivo da presidência britânica, segundo os críticos, seria criar manchetes positivas para a COP26 na mídia global, dando uma sinalização de sucesso e cavando protagonismo britânico para a pauta climática –que tem no Acordo de Paris a sua maior conquista internacional.
A urgência climática tem pautado o tom de discursos políticos que argumentam que a COP26 poderia ser mais importante que o Acordo de Paris. Assinado em 2015, ele já foi ratificado como lei por 193 países.
A reportagem apurou que a tensão deixada pelo brexit tem impactado a relação da presidência britânica com os europeus. A União Europeia (UE) já protagonizou a discussão sobre financiamento climático em edições anteriores da conferência –especialmente diante da ausência americana nos anos de governo Trump. Na COP26, no entanto, o bloco mantém silêncio sobre o possível aumento dos recursos para ações climáticas.
A percepção dos negociadores é que os britânicos –que pertenciam à União Europeia quando o Acordo de Paris foi assinado– agora buscam deixar a sua própria marca na negociação climática. A UE não estaria disposta a colaborar com o feito, que tem sido visto por diplomatas de diferentes blocos como uma tentativa de reescrever Paris.
“Precisamos provar aos países em desenvolvimento que nossos esforços em financiamento têm credibilidade. Não apenas a quantidade exata de dinheiro, mas a estrutura que providenciamos para isso”, afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.
No fim da tarde de quarta (10), foi publicada uma declaração conjunta dos Estados Unidos e da China reafirmando compromissos pelo clima. Ela foi interpretado nos corredores da conferência como um sinal político de que as duas nações estão dispostas a chegar a um acordo na COP26 e não querem ser apontadas como culpadas por um eventual fracasso.
A tensão política entre os dois países gerava o receio de que eles poderiam deixar de cooperar em Glasgow. A declaração, assim, busca indicar, segundo analistas da COP26, que a trava nas negociações não vem dos dois líderes do ranking de emissões globais de gases-estufa.
Questionado pelo jornal Folha de S.Paulo quanto ao impacto da declaração conjunta nas negociações, o enviado especial de clima dos EUA, John Kerry, disse que espera ajudar [a conclusão da COP]. “[Comunicamos] nosso trabalho conjunto para vencer esse desafio e cumprir o Acordo de Paris”, afirmou.
“É um sinal político muito poderoso. Está tendo um impacto nesta conferência, nos ajuda a chegar num acordo”, avaliou Timmermans. Embora não tenha trazido avanços significativos em itens pendentes da regulamentação do Acordo de Paris, o último esboço da decisão da COP26, publicado na quarta, propôs 71 artigos.