
“Não consigo respirar”. Estas foram as últimas palavras de George Floyd, enquanto morria nos EUA sob o joelho de um policial. Talvez sejam as mesmas palavras ditas por inúmeras pessoas que morreram por falta de oxigênio, devido à pandemia do novo coronavírus no Brasil.
No dia 25 de maio de 2020, na cidade de Minnepolis, nos EUA, o policial branco, Derek Chaukin, ficou com o joelho pressionando o pescoço de George Floyd, negro, já imobilizado no chão, e não oferecendo nenhuma resistência e perigo. Mesmo apelando e dizendo que não conseguia mais respirar, não foi ouvido e morreu. Essa violência policial gerou protestos e manifestações, tanto nos EUA quanto em muitos países do mundo, inclusive, no Brasil, contra a truculência e arbitrariedade policial, bem como as discriminações contra os negros.
No Brasil, já morreram 333 mil pessoas devido à Covid e, no Amazonas, já são 12 mil mortes. Dentre os mortos, estão pessoas que não puderam ser atendidas adequadamente por falta de estrutura do sistema de saúde pública, com falta de vagas de leitos de enfermaria, UTI, profissionais e medicamentos, inclusive, pela falta de oxigênio.
O aumento do consumo de oxigênio medicinal e sua possível falta já haviam sido alertados desde o ano passado. Mas a 2ª onda da Covid no Amazonas fez com que faltasse oxigênio em Manaus e nos municípios do interior, nos meses de janeiro e fevereiro. O ministro da saúde tinha sido alertado no começo do ano, mas foi lento nas providências.
A demanda de oxigênio chegou a 78 mil metros cúbicos diários, mas a capacidade de fornecimento das empresas locais White Martins, Carbox e Nitron era de somente 28,2 mil metros cúbicos diários. Portanto, um déficit de quase 50 mil metros cúbicos. O Governo prometeu e de forma lenta iniciou a “Operação Oxigênio”, trazendo oxigênio de outros estados.
Mas foi a solidariedade de muitas pessoas, entidades, empresas, artistas que fez a diferença, com doações de cilindros de oxigênio no período mais crítico. Até o Governo da Venezuela enviou uma ajuda humanitária, com 8 caminhões com oxigênio.
Inúmeros foram os relatos e notícias sobre mortes que tiveram como causa a asfixia por falta de oxigênio, tanto em Manaus, mas também em municípios como Itacoatiara, Manacapuru, Parintins, Coari, dentre outros. “Minha sogra não faleceu de Covid-19, ela morreu por falta de ar”, diz alguém de Manaus. “Ele foi assassinado. Morreu porque deixaram faltar oxigênio no hospital”, fala a filha de uma pessoa que morreu em Manacapuru. Em Coari, sete morreram por falta de oxigênio, noticia a imprensa. E muitos outros registros macabros de mortes por falta de oxigênio.
A falta de oxigênio mostrou a situação vulnerável dos hospitais, que não têm equipamentos para produzir oxigênio em suas próprias instalações. O Governo do Estado ainda adquiriu algumas usinas, que hoje funcionam em alguns municípios.
Por esta razão, apresentei Projeto de Lei, na Câmara dos Deputados, juntamente com o deputado federal Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, para que cada hospital tenha obrigatoriamente uma Usina de Oxigênio. Assim, como no hospital não pode faltar água, energia e tantos outros insumos, não pode faltar oxigênio. Não pode ficar à mercê da disponibilidade do “mercado”, que no momento mais difícil, não supre as necessidades.
O drama da falta de oxigênio agora se repete em muitas cidades e estados do Brasil. E não há oferta suficiente e rápida para garantir a vida de milhares de pessoas. São urgentes as usinas nos hospitais.
Nos EUA, o povo foi às ruas protestar contra a morte de George Floyd, que morreu por falta de ar. No Amazonas e no Brasil, estão morrendo muitas pessoas por falta de oxigênio, sem condições de respirar. Será que vamos ter manifestações pela inoperância do poder público e pela situação precária dos hospitais? Aqui, muita gente está sem condições de respirar, também.
*José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e atualmente é deputado federal pelo Amazonas, filiado do PT.
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