Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – A centralização do poder político e econômico em Manaus e a integração da capital com as demais cidades que formam a Região Metropolitana faz com que nelas haja discrepância entre o número de eleitores e o de habitantes.
A análise é do cientista social Alex Regis, com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral). Proporcionalmente, há mais eleitores nas cidades do interior do que na capital.
Em Manaus, o eleitorado representa 63% da população. De 2,2 milhões de habitantes, somente 1,4 milhão estão aptos a escolher o próximo prefeito, vice-prefeito e vereadores.
Em sentido contrário, nas cidades do interior, principalmente nas que formam a Região Metropolitana de Manaus, a quantidade de eleitores chega a 94% do total de moradores. É o caso do Careiro da Várzea, que tem 19,8 mil habitantes, dos quais 18,5 mil são eleitores.
Para chegar aos números, o ATUAL cruzou o número de eleitores por município divulgado pelo TRE-AM neste ano com o total de habitantes estimado pelo IBGE em 2024.
Os dados indicam que, na capital, proporcionalmente, o total de eleitores está abaixo da média. Nas cidades próximas, o eleitorado ultrapassa a média.
Para o cientista social, a discrepância é resultado de um intenso processo migratório entre os municípios que envolve a busca por melhores condições de vida e a manutenção de laços com o local de origem.
“Não dá para negar que existe uma intensa troca, em todos os sentidos, um intenso processo migratório dessas cidades do entorno de Manaus para Manaus, em função de vários fatores”, afirma Alex Régis.
“A busca de melhores condições de trabalho, educação para os filhos, as trocas econômicas de maneira geral… Então, esse fluxo entre as redes de parentesco de maneira geral, redes de compadrio, é bem intenso, é muito forte. E isso, naturalmente, influencia também nessa manutenção de registros eleitorais desses municípios”, completou o cientista.
“Muitas pessoas ficam temporariamente em Manaus, depois retornam para os seus municípios. E nesse contexto de processo eleitoral, serve também como um meio deles retornarem para os seus municípios”, disse Alex Regis.
Em nove cidades do Amazonas o número de eleitores se aproxima ao de habitantes: Anamã (89%), Careiro (85%), Careiro da Várzea (94%), Guajará (88%), Itapiranga (91%), Manaquiri (91%), Novo Airão (82%), Presidente Figueiredo (87%) e Rio Preto da Eva (92%).
A maioria dessas cidades (7) estão na Região Metropolitana de Manaus. Itapiranga e Rio Preto da Eva são interligadas à capital pela rodovia AM-010, Presidente Figueiredo pela BR-174 e Novo Airão pela AM-070.
Manaus, que acolhe mais da metade da população do Amazonas (2,2 milhões de 4,2 milhões), tem apenas 1,4 milhão de eleitores, que representa 63% da população que mora na capital.
De acordo com o cientista social Alex Sander Regis, a facilidade em transitar entre as cidades, principalmente por rodovias, e a centralização do poder econômico na capital gera um “intenso processo migratório”. Com isso, Manaus acolhe pessoas que moravam ou que têm família que moram nas cidades do interior. Em período eleição, essas pessoas voltam às suas cidades de origem para votar.
“Municípios como Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Careiro da Várzea, quando a gente faz esse cruzamento entre número de eleitores e população, o índice de eleitorado se apresenta altíssimo, acima dos 80%. Então, claramente tem uma influência muito forte nesse sentido essa proximidade de Manaus”, afirma Alex Regis.
De acordo com Alex Regis, a facilidade de transitar entre as cidades, no entanto, também pode ser usada como estratégia de políticos, que cooptam pessoas da capital para transferirem título de eleitor em busca de eleição em troca de vantagens.
“Manaus é uma cidade-estado. Então, acabam orbitando em torno dela todos os demais municípios do estado. E, claro, aqueles que estão mais próximos dessa órbita de poder político e econômico acabam também tendo uma influência maior nesse contexto eleitoral, um impacto maior nessa dinâmica de votos, nesse mercado de votos de maneira mais ampla”, afirmou o cientista político.
O cruzamento de dados mostrou que, nas cidades amazonenses, os eleitores representam, em média 67%, do total de habitantes. Em caso inverso ao dos quatro municípios, Ipixuna, no sudoeste do estado, o eleitorado representa 46% da população.
Veja os dados abaixo:
Municipio | Eleitores | População | Cruzamento eleitores/população |
ALVARÃES | 12.260 | 16.670 | 74% |
AMATURÁ | 7.041 | 11.411 | 62% |
ANAMÃ | 9.141 | 10.318 | 89% |
ANORI | 10.887 | 17.932 | 61% |
APUÍ | 11.657 | 21.735 | 54% |
ATALAIA DO NORTE | 9.683 | 15.892 | 61% |
AUTAZES | 32.436 | 45.328 | 72% |
BARCELOS | 12.733 | 18.626 | 68% |
BARREIRINHA | 21.712 | 33.436 | 65% |
BENJAMIN CONSTANT | 23.119 | 40.509 | 57% |
BERURI | 14.801 | 22.136 | 67% |
BOA VISTA DO RAMOS | 13.535 | 25.769 | 53% |
BOCA DO ACRE | 22.970 | 38.246 | 60% |
BORBA | 23.973 | 34.879 | 69% |
CAAPIRANGA | 9.754 | 14.310 | 68% |
CANUTAMA | 10.861 | 17.885 | 61% |
CARAUARI | 21.100 | 30.892 | 68% |
CAREIRO | 27.699 | 32.442 | 85% |
CAREIRO DA VÁRZEA | 18.571 | 19.809 | 94% |
COARI | 51.690 | 73.820 | 70% |
CODAJÁS | 16.814 | 24.451 | 69% |
EIRUNEPÉ | 23.019 | 35.534 | 65% |
ENVIRA | 10.808 | 17.920 | 60% |
FONTE BOA | 16.823 | 27.875 | 60% |
GUAJARÁ | 12.599 | 14.332 | 88% |
HUMAITÁ | 33.090 | 62.312 | 53% |
IPIXUNA | 11.650 | 25.458 | 46% |
IRANDUBA | 44.805 | 67.114 | 67% |
ITACOATIARA | 74.674 | 112.520 | 66% |
ITAMARATI | 7.445 | 11.730 | 63% |
ITAPIRANGA | 9.799 | 10.805 | 91% |
JAPURÁ | 5.940 | 9.397 | 63% |
JURUÁ | 7.663 | 11.152 | 69% |
JUTAÍ | 15.322 | 27.656 | 55% |
LÁBREA | 27.455 | 48.927 | 56% |
MANACAPURU | 79.355 | 110.691 | 72% |
MANAQUIRI | 15.398 | 17.009 | 91% |
MANAUS | 1.446.315 | 2.279.686 | 63% |
MANICORÉ | 33.108 | 57.758 | 57% |
MARAÃ | 10.429 | 15.843 | 66% |
MAUÉS | 37.932 | 65.714 | 58% |
NHAMUNDÁ | 16.301 | 21.106 | 77% |
NOVA OLINDA DO NORTE | 19.888 | 28.267 | 70% |
NOVO AIRÃO | 13.509 | 16.467 | 82% |
NOVO ARIPUANÃ | 13.532 | 24.987 | 54% |
PARINTINS | 72.209 | 101.956 | 71% |
PAUINI | 11.644 | 20.232 | 58% |
PRESIDENTE FIGUEIREDO | 28.767 | 33.004 | 87% |
RIO PRETO DA EVA | 23.584 | 25.723 | 92% |
SANTA ISABEL DO RIO NEGRO | 8.722 | 14.176 | 62% |
SANTO ANTÔNIO DO IÇÁ | 18.031 | 30.448 | 59% |
SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA | 31.301 | 56.406 | 55% |
SÃO PAULO DE OLIVENÇA | 20.093 | 35.196 | 57% |
SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ | 7.718 | 12.247 | 63% |
SILVES | 9.628 | 12.404 | 78% |
TABATINGA | 38.425 | 72.283 | 53% |
TAPAUÁ | 14.616 | 20.501 | 71% |
TEFÉ | 48.220 | 79.278 | 61% |
TONANTINS | 11.310 | 20.224 | 56% |
UARINI | 9.557 | 15.278 | 63% |
URUCARÁ | 12.801 | 19.505 | 66% |
URUCURITUBA | 14.418 | 25.592 | 56% |
TOTAL | 2.750.340 | 4.281.209 |