EDITORIAL
MANAUS – O ministro da Defesa de Lula, José Múcio Monteiro, a quem as Forças Armadas estão subordindas, perdeu as condições para continuar no cargo e deveria pedir para sair, para evitar maiores problemas para o governo que mal se iniciou.
José Múcio foi contra a retirada imediata de acampamentos bolsonaristas das portas dos quarteis das Forças Armadas, como defendia o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Para o Ministro da Defesa, a melhor estratégia era dialogar com os golpistas para tentar uma saída pacífica. Esse comportamento demonstra um ministro medroso.
Como demonstraram no domingo, não era pacificação que desejavam os golpistas. Eles acreditavam que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica estavam do lado dos criminosos e que poderiam, sim, promover a tão esperada intervenção militar para impedir o governo de Lula.
Desde que assumiu o cargo e nomeou os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além do chefe do Estado Maior, nenhuma autoridade militar veio a público marcar posição nem contra nem a favor dos arruaceiros, que já haviam ensaiado a baderna no dia da diplomação do presidente Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin.
Aliás, ainda é necessário que as Forças Armadas se manifestem publicamente sobre o que vem ocorrendo no Brasil desde o resultado das urnas, em 30 de outubro de 2022. Nenhuma autoridade militar disse claramente que eram contra ou a favor dos acampamentos em frente aos quarteis, nem disse se apoia ou é contra as pautas reivindicadas pelos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
É curioso que o Exército, uma Força que sempre zelou por seus quartéis, tenha deixado os golpistas acampar por tanto tempo em frente a sua maior representação na Amazônia, o CMA (Comando Militar da Amazônia). Nunca se viu qualquer manifestação contrária a essa ocupação.
Fosse qualquer outro movimento, seria retirado imediatamente de frente dos quartéis. Os seguidores do capitão reformado instalaram banheiros químicos ou fizeram dos locais públicos de banheiros – em Manaus, o mau cheiro em frente ao CMA era insuportável nesta segunda-feira (9), durante a retirada dos golpistas.
Os acampados em Manaus fecharam totalmente a entrada principal do CMA. Os militares tiveram que usar um acesso alternativo para não incomodar os arruaceiros, cuja reivindicação era inconstitucional, qual seja, a não aceitação do resultado das urnas.
Era compreensível que tudo isso viesse ocorrendo durante o governo (ou desgoverno) de Jair Bolsonaro, mas inaceitável que permanecesse depois do dia 1° de janeiro, com a posse de Lula.
José Múcio Monteiro, como toda a mídia noticiou, foi contra a retirada imediata dos golpistas das dependências dos quartéis. Não marcou posição sobre o suposto apoio dos militares aos artífices do vandalismo ocorrido em Brasília. Acreditou na lorota contada pelo governador do Distrito Federal de que estava tudo sob controle e que os bolsonaristas fariam uma manifestação pacífica.
Pior foi a frase de Múcio no dia da posse: “Aquelas manifestações no acampamento, e eu digo com muita autoridade porque tenho familiares e amigos lá, é uma manifestação da democracia. Eu acho que aquilo vai esvair e chegar até um ponto que todos nós queremos”. Errou feio.
José Múcio se comporta como um subordinado das Forças Armadas quando, na verdade, o cargo que ocupa é a representação do chefe supremo dessas Forças, o presidente da República.
Outro equívoco é a fala do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, de que “o pior já passou”.
Lula precisa agir rápido. As Forças Armadas precisam dizer de que lado estão. E o Ministério da Defesa precisa tomar as rédeas, e auxiliar o presidente da República para que não seja pego de surpresa.
Os próximos dias é quem irão dizer se realmente o pior já passou. Mas primeiro, Lula precisa de um ministro da Defesa com pulso firme.