MANAUS – Reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibido neste domingo, 29, mostrou que o Ministério Público denunciou, na última quinta-feira, 26, o ex-prefeito Adail Pinheiro, o filho dele Adailzinho e os advogados Fabrício de Melo e Elizabeth Cavalieri por falsidade ideológica, uso de documento falso, corrupção ativa de testemunha e formação de quadrilha.
De acordo com a denúncia, os quatro estavam coagindo testemunhas dos casos de pedofilia pelos quais Adail Pinheiro responde a pelo menos cinco processos na Justiça do Amazonas. Em um desses processos, Adail foi condenado, em novembro do ano passado, a 11 anos e 10 meses de prisão. O ex-prefeito de Coari está preso em um batalhão especial da Polícia Militar.
O Ministério Público assegura que de dentro do Batalhão da PM ele comanda uma quadrilha que atua na coação de testemunhas para que mudem os depoimentos dados na Justiça contra o ex-prefeito. Uma das testemunhas que aparece na reportagem afirma que recebeu a oferta de R$ 100 mil para mudar o depoimento. Caso não aceitasse o “acordo”, pessoas da família seriam mortas.
“A gente receberia 100 mil para retirar a acusação do Adail ou então iria começar a morrer gente. O dinheiro só seria passado no dia do julgamento. Eu estava ameaçada, restringida de pedir ajuda até para minha família. Não queria ver um banho de sangue. Deixaram nas nossas mãos. Ou vocês aceitam o dinheiro que eles estão oferecendo ou vai morrer pessoas. E se eu pudesse fazer alguma coisa para não morrer pessoas, eu faria. Eu não tinha escolha”, conta a vítima, que disse ter mudado o depoimento. No entanto, o desembargador relator dos processos contra Adail Pinheiro não aceitou os novos depoimentos.
De acordo com as investigações do Ministério Público, o plano do ex-prefeito Adail Pinheiro e do filho dele era esconder as testemunhas da família, dos amigos, da imprensa e do Ministério Público. Para isso, alugaram dois apartamentos em Manaus. Os dois imóveis ficam no mesmo prédio, com vista para a Arena da Amazônia. O aluguel e todas as despesas eram pagas pela quadrilha comandada por Adail Pinheiro, segundo o Ministério Público.
Advogada
Contra a advogada Elizabeth Cavalieri pesa a acusação de que ela levou duas testemunhas a um cartório para deixar registrado que elas teriam mentido sobre a acusação de estupro. As mulheres dizem que a própria advogada ditou o depoimento delas e que só fizeram assinar o documento. “Foi a Doutora Elizabeth (quem ditou o depoimento). Mas só que a gente não falou nada, ela estava com um rascunho e ela mesma ditou para ele falar”.
Uma das vítimas gravou escondido a advogada ditando a declaração no cartório, de acordo com o Ministério Público.
O procurador-geral de Justiça, Fábio Monteiro, diz na reportagem do Fantástico que está pedindo a transferência do ex-prefeito Adail Pinheiro para o sistema prisional organizado pela Secretaria de Administração Penitenciária. Ele está no Batalhão da PM porque não havia deixado de ser prefeito. A decisão do TSE que cassou o mandato dele só passou a valer na semana passada.
Para o advogado Fabrício de Melo, a denúncia “é uma armação de cunho político”. Segundo ele, o prefeito está numa cela, que passa por revista quase que todo dia ou dia sim, dia não. “Então essa história de que de dentro do presídio ele comande alguma coisa é invencionice”, diz Fabrício de Melo. Ele nega a participação no esquema de coação de testemunhas. “Eu não tomei conhecimento dessa denúncia, isso pra mim é uma novidade. Eu refuto integralmente”.
A advogada Elizabeth Cavalieri foi procurada, mas não quis falar com a reportagem do Fantástico. O filho de Adail Pinheiro, o Adailzinho, não foi localizado.
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