Por Daniela Arcanjo, da Folhapress
SÃO PAULO-SP – A despeito das falas de apoio do presidente Jair Bolsonaro aos atos em sua defesa no domingo, 15, a atividade no Twitter relacionada às manifestações caiu – e não engata desde 28 de fevereiro. Os protestos, que estão sendo convocados por grupos críticos ao Congresso, têm na rede um outro tipo de simpatizante: os robôs, que podem representar cerca de 6% dos usuários que tuitaram apoiando a manifestação.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), personifica essa rejeição ao Poder Legislativo e é a figura pública que mais vem sofrendo ataques na rede. Os dados são fruto de monitoramento de atividade na rede feito pela consultoria Quaest entre 24 de fevereiro e 9 de março.
A empresa analisou postagens que mencionavam #Dia15PeloBrasil, #Dia15BrasilNasRuas, #15DeMarcoEuVou ou #Dia15PorBolsonaro. As hashtags são um recurso que organiza assuntos e campanhas no Twitter e são usadas livremente pelos usuários em suas publicações. A amostra foi de 256.267 tuítes.
De 24 a 27 de fevereiro, a atividade na rede vinha em franca ascensão. O pico (quando os tuítes sobre os atos geraram mais reações positivas e republicações) foi no dia 27, quando Bolsonaro cobrou votações do Congresso em live.
Para medir a atividade na rede social, a Quaest criou um índice de 0 a 100, em que 100 indica o momento em que os tuítes sobre as manifestações geraram mais reações positivas e retuítes. No dia 27, o nível registrado foi de 98,8.
A análise começou um dia antes da revelação de que Bolsonaro compartilhou vídeos que incitavam a população a ir às ruas para defendê-lo. As convocações ganharam força em meio à disputa entre Legislativo e Executivo por R$ 30 bilhões do Orçamento.
No dia 26, Maia pediu respeito às instituições. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não comentou o fato publicamente. Com isso, #MaiaGolpista e #MaiaVaiSerPreso passaram a ser algumas das hashtags mais utilizadas até o dia 1º de março, e a conta do deputado, a segunda mais mencionada.
O dia 28, quando o índice da Quaest começa a apresentar queda e atinge 37,9, foi aquele em que Alcolumbre marcou sessão que discutiria os vetos de Bolsonaro ao Orçamento impositivo. Entre os atacados, teve destaque Vera Magalhães, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura.
Responsável pela revelação de que o presidente havia compartilhado os vídeos pelo WhatsApp, a jornalista entrou na mira dos apoiadores de Bolsonaro com a hashtag #VeraFakeNews, a décima mais utilizada ao longo de todo o período. Sua conta foi a terceira mais mencionada.
No sábado (7), em Boa Vista, diante de 400 autoridades e simpatizantes, Bolsonaro convocou a população aos atos, sem meias palavras. “É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político”, afirmou. “Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil”.
O chamado não animou bolsonaristas, que já amargavam oito dias patinando na rede. No sábado, o índice da Quaest sobre as manifestações bateu 6,5 – ante os 98,8 do dia 27. Desde então, a atividade dos usuários no Twitter vem caindo. Na segunda, 9, registrou 3,2.
O coordenador da pesquisa, Felipe Nunes, tem uma hipótese para o encalhe do engajamento: o aceno de Bolsonaro ao Congresso para negociar o Orçamento pode ter minado o apoio. “A negociação que ele fez, na minha avaliação, fragilizou o presidente em relação à sua base porque mostrou um certo descompasso”, afirma.
Bolsonaro dá sinais de que sabe disso. “Não houve qualquer negociação em cima dos R$ 30 bilhões”, afirmou ele em 3 de março, mesmo dia em que o governo enviou ao Congresso projetos de lei com proposta de divisão das verbas. De acordo com o levantamento, cerca de 1% das contas analisadas é de robôs, e 5% são prováveis robôs.
Os resultados obtidos pela Quaest não são suficientes para prever o tamanho dos atos do dia 15. “Pode ser que essa mobilização esteja sendo feita por meio do WhatsApp, por exemplo. Mas o indicativo que a gente tem é de que a mobilização no Twitter é muito menor do que já foi”, afirma o cientista político.