Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – Seis médicos pediram ao CFM (Conselho Federal de Medicina) que apure a conduta do senador Otto Alencar (PSD-BA) durante depoimento da médica Nise Yamaguchi à CPI da Covid na última terça-feira, 1º. No documento, os profissionais pedem a abertura de sindicâncias e processos administrativos disciplinares contra o senador, que também é médico.
No documento enviado ao presidente do CFM, Mauro Ribeiro, na quarta-feira, 2, os médicos citam uma sequência de interrupções do senador após passar a palavra para a depoente, com transcrições e links para o vídeo no canal da TV Senado.
O grupo denuncia que o senador “ao se qualificar como médico perante a sociedade, se valeu fortemente do estudo da medicina, com condutas e afirmações peremptórias (algumas inverídicas)”.
É transcrito no documento o momento em que o senador duvida da capacidade da médica, dizendo que “a senhora não soube responder absolutamente nada. Eu fiz um ‘testezinho’ simples com ela. Qualquer menino do segundo ou terceiro ano… Eu fui professor por muitos anos de química e biologia. Isto é beabá, é beabá. A senhora não sabe, jogou no escuro, junto com um grupo de pessoas que não entendiam absolutamente nada sobre a doença”, disse o senador.
Além de repudiar a abordagem à médica, o grupo lista as infrações ao código de ética médica cometidas pelo senador durante a sessão. Entre elas, está o anúncio de títulos científicos que não se possa comprovar, conforme é ilustrado no documento com o printscreen de uma busca no portal do CRM da Bahia, que comprova que o senador não tem especialidade em ortopedia, como havia anunciado:
O texto cita “inverdades” na fala de Otto Alencar e relaciona equívocos com base em artigos da literatura científica e links de referência. No trecho em que o senador se opõe ao uso da cloroquina no tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19, os médicos atenuam a posição de Nise, afirmando que “diante da incerteza científica que ainda permeia o uso de antivirais reposicionados nos primeiros dias após a provável exposição e aparecimento de sintomas preliminares, é notável a tendenciosidade, não correspondência com a verdade e falta de bases fática e científica para substantivar suas afirmações e acusações contra a doutora”.
O uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves no início de quadro clínico foi considerado pelo CFM em parecer de nº 4/2020.
Por fim, o documento em defesa de Nise Yamaguche assinado pelos médicos Flávio José Dantas de Oliveira, José Cavalcante Monteiro, Carlos Antônio Dantas de Oliveira, Hélio Teixeira, Luiz Gonzaga Dantas de Oliveira e Evandro Guimarães de Sousa, expõe o “desagravo coletivo aos médicos que usam responsavelmente drogas reposicionadas para o tratamento da Covid-19”.
Os questionamentos de Otto também foram usados pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Bolsonaro compartilhou trecho de vídeo em que o presidente do CFM Mauro Ribeiro classifica a CPI como “tóxica e vergonhosa”.
O CRF publicou na quarta-feira uma moção de repúdio contra as atitudes adotadas por “alguns senadores” na condução dos trabalhos. Na nota, é reforçado que o teor da publicação “se refere aos médicos e médicas depoentes enquanto indivíduos, não significando apoio aos seus posicionamentos técnicos, éticos, políticos, partidários e ideológicos.”
Leia na íntegra a carta redigida pelos médicos enviada ao conselho: