MANAUS – O dia 05 de setembro, em que comemoramos o Dia da Amazônia, foi marcado por manifestações públicas contra a omissão dos poderes públicos frente às agressões sociais e ambientais. Neste dia, diversas organizações se mobilizaram para expressar a sua indignação contra inúmeras violações a direitos fundamentais do ser humano, inclusive os direitos da natureza, que são constantemente ignorados pelas classes políticas e demais instituições públicas na Amazônia.
Os ataques contra a natureza já estão basicamente normalizados. Os gestores municipais e estaduais não apresentam as políticas públicas necessárias para proteger o meio ambiente nem melhorar a qualidade de vida dos amazônidas. Manaus não tem dado sorte na escolha dos seus prefeitos e vereadores. A natureza é percebida como um empecilho para o progresso e o desenvolvimento urbano, por isso ela é constantemente devastada e aniquilada. É comum tomarmos conhecimentos de projetos de lei e deliberações que enfraquecem a legislação ambiental e ameaçam o equilíbrio ecossistêmico transformando a vida urbana em um pesadelo.
Manaus já enfrenta sérios problemas ambientais como a falta de arborização, a elevação das temperaturas e a poluição do ar e das águas. Como se isso não bastasse os parques florestais da cidade sofrem fortes ameaças provenientes do setor imobiliário. O Parque dos Bilhares tem sido abalado pela forte redução da sua constituição florestal e o Parque Sumaúma foi interditado por pressões que favorecem ao mercado da construção civil. Essas ações representam a política urbana há muito tempo adotada na cidade.
Em vários locais a Natureza é suplantada para dá lugar aos empreendimentos do mercado capitalista, tornando a vida na cidade um desafio cada vez mais insuperável. Algumas pesquisas já mostram que a vida em Manaus se torna cada dia mais ambientalmente insustentável. Direitos básicos como a água potável e o saneamento são ignorados. As empresas chegam para lucrar e favorecer aos financiadores, mas a população recebe serviços inadequados e insatisfatórios. Elas vêm para extorquir a população e explorar as riquezas naturais. A qualidade de vida da população é o que menos importa.
Neste dia da Amazônia, os protestos contra o fechamento do Parque Sumaúma alertaram sobre o perigo desta política antiambiental implantada na região. Se não respeitamos as florestas afrontamos diretamente inúmeras formas de vida e inviabilizamos a existência humana neste planeta. A falta das florestas promoverá uma escassez hídrica de grandes proporções e graves consequências para todas as formas de vida. As espécies não vivem de forma isolada, mas integram uma rede de vida que é rompida com a extinção de apenas uma delas.
O grito dos excluídos e excluídas bradou aos céus amazonenses as dores das populações atingidas por inúmeras carências e precariedades. A precariedade democrática, que impede aos cidadãos de participarem diretamente das decisões que os afetam. A precariedade cidadã que inflige à maioria da população violações de direitos essenciais como a saúde e educação.
A precariedade habitacional que obriga grandes contingentes populacionais a vivem em moradias inadequadas. A precariedade profissional que tira das pessoas a possibilidade de terem um trabalho digno. A precariedade ambiental que proíbe as pessoas que viverem em um ambiente sadio e equilibrado.
A vida em primeiro lugar! Todas as formas de vida importam, mas quem se importa? Uma pergunta que transmite a percepção de que as vidas não são respeitadas nas suas diversas modalidades. Mas também pode ser uma pergunta que abre um horizonte de esperança, pois se alguém se importa e se empenha na defesa destas vidas há um sonho que pode ser alimentado e quem sabe transformado em realidade.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.