Da Redação
MANAUS – “Mais perigoso que os decretos é a reeleição de Bolsonaro” disse o ex-vereador e ex-deputado federal Francisco Praciano (PT), entrevistado do programa de estreia O ‘A’ da Questão, transmitido nesta quarta-feira (4) pelas redes sociais do Site Amazonas ATUAL. “Passou a eleição, o decreto morre. Esse decreto não acaba com a Zona Franca. Ele diminui a competitividade. Qual é o nosso perigo: o decreto ou o Bolsonaro?”, questionou.
Apoiador do pré-candidato Luis Inácio Lula da Silva à presidente da República, Praciano aposta na vitória do petista para acabar com as ameaças ao único modelo econômico do Amazonas.
“Não é proibido alterar benefício da Zona Franca via decreto. Então, o que pode acontecer: passou a eleição, o benefício volta. Moral da história: Zona Franca não se acaba, mas tem que ser combatido [o decreto]. O pior são os decretos lá para frente”, disse.
Praciano afirmou que a ameaça à Zona Franca vem desde o início do governo Bolsonaro. Lembrou de uma entrevista de Paulo Guedes, em abril de 2019, quando o ministro da Economia questionou que não se podia mais reduzir impostos no Brasil por causa da Zona Franca de Manaus.
“Está sendo feita uma grande festa em torno desses decretos. Uns estão reclamando que o governador não entrou com Adin [Ação Direta de Inconstitucionalidade], que a Fieam [Federação das Indústrias] e a Assembleia deveriam ter entrado… Uma festa.”
A visão de Praciano é que se Bolsonaro continuar na Presidência, a Zona Franca tem tudo para acabar. E que os grandes políticos do Amazonas não estão focando no inimigo certo na defesa da Zona Franca, que é o presidente Jair Bolsonaro.
“Quem é que tá contra o Bolsonaro hoje? Wilson Lima [governador do Amazonas] está vacilando e eu acho que ele é Bolsonaro mesmo; o prefeito [David Almeida] acaba de se rebelar um pouquinho, tomara que ele se rebele; O Omar diz que tá com Lula; Braga e Amazonino não se posicionaram ainda”, avaliou.
Praciano concorda que é necessário o Estado se libertar da dependência da Zona Franca, com políticas de desenvolvimento para o interior do Estado. Os investimentos, segundo ele, devem partir do poder público.
“A nossa economia é 1,4 % do PIB [Produto Interno Bruto] nacional, 1.1% em Manaus e 0,3 no interior. Em 55 anos de Zona Franca não fizemos, como eu tenho dito, uma ‘fábrica de ticar jaraqui’. Açaí, parece que só tem no Pará; ninguém beneficia, ninguém exporta. A piscicultura praticamente doméstica, e ainda compramos peixe de Roraima.”
O ex-deputado disse que o Turismo é mal assistido por políticas públicas e a implantação de um aeroporto hub em Manaus nunca saiu do papel.
“Os aviões passam em cima de Manaus, a caminho de Miami, e não dão uma passadinha aqui, para o ‘cara’ visitar a Floresta, fazer um turismo regional”. A definição de aeroporto hub é um local que funciona como base operacional de uma grande companhia aérea. A ideia principal do modelo é que um aeroporto de maior porte sirva como ponto de redistribuição de uma malha de voos.
Lembrou também de projetos voltados ao progresso do interior que ficaram pelo caminho, como o Terceiro Ciclo, criado pelo ex-governador Amazonino Mendes, o Zona Franca Verde (gestão Eduardo Braga) e Amazônia Rural (Omar Aziz). “Passou a eleição, os projetos acabam. Por isso ficamos defendendo uma Zona Franca frágil, que pode se acabar não só por esse decreto, mas por vários decretos”.
Para Praciano, a saída econômica está na exploração da biodiversidade. Pré-candidato a deputado estadual, ele disse esperar encontrar no parlamento companheiros apaixonados pelo tema Amazônia. “O mundo cobiça a Amazônia, mas o Brasil não cobiça. E nós, amazonenses, também não cobiçamos”, disse.
Veja a entrevista: