
Por Felipe Campinas e Iolanda Ventura, do ATUAL
MANAUS – Elane Freire, de 43 anos, vendedora, estava em casa com o marido no momento em que o barranco caiu sobre moradias na Comunidade Nova Floresta, zona leste de Manaus, e deixou oito mortos na noite deste domingo (12). Ela conta que a queda de energia foi um alerta para ela sair de casa e que testemunhou uma mãe tentando salvar seus filhos. Eles morreram soterrados.
“Eu conhecia todos eles, desde o início que vieram pra cá com a gente. A moça que morreu com as crianças agarradas, ela nem morreu com a queda do barranco. Ela morreu porque uma árvore caiu por cima da cabeça dela. Deu na cabeça dela, ela caiu, a árvore sufocou ela na lama com os filhos dela. Depois veio o restante do barranco em cima”, disse a moradora.
“Ela não estava dentro da casa. Ela conseguiu correr com os gritos da gente. Ela tinha três crianças, mas não conseguiu levar as três. Ela pegou uma e as outras correram atrás, e a árvore caiu em cima. Já foi tirando a vida dela, do irmão, do sobrinho, todos que estavam lá no momento”, completou Elane Freire.
Equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil estão desde a noite deste domingo retirando terra e escombros no local. Eles buscam por outras vítimas, apesar de moradores do local afirmarem que não há mais ninguém desaparecido. As famílias estão abrigadas em uma escola municipal na zona leste. Elas receberão auxílio-aluguel.
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A casa de Elane, que fica próximo ao barranco, foi destruída. Ela conta que saiu de casa com o marido assim que houve a queda de energia. “A maioria das pessoas estão vivas porque saíram na hora que foi embora a energia para ver por que a energia foi embora. Aí deu pra gente ver o barranco caindo, mas não conseguimos salvar as pessoas que estavam mais na frente”, afirmou.

Cristiano da Silva, de 36 anos, vendedor e líder comunitário, estava jantando com a família quando ouviu um forte barulho de árvores quebrando e, em seguida, gritos de desespero. Ele e a família correram para se salvar e deixaram tudo para trás. A casa dele também foi destruída com a queda do barranco. Ele tinha um comércio no local. Perdeu eletrodomésticos, incluindo geladeira e máquina de lavar.
“A gente estava jantando e escutamos o barulho de mato quebrando e as pessoas gritando. A gente saiu e viu aquele negócio vindo, com um barulho feio, e saímos correndo. Ainda tirei a televisão e o som. O resto ficou tudo. Lá era um comércio. Tinha quatro geladeiras. Ficou tudo soterrado. Geladeira, fogão, máquina de lavar, muita coisa ficou”, disse Cristiano.
“A gente saiu na carreira, desespero. Foi um horror. Grito de socorro. Foi horrível. Ouvimos o grito do pessoal ‘corre, corre’ e o mato quebrando, um barulho feio, e saí. Só corri. Não me lembrei de nada, de querer voltar pra casa. Só queria salvar a minha vida e a da minha família. Foi muito triste pra mim chegar e ver essas pessoas mortas”, completou o morador.
Vítimas
O Departamento de Polícia Técnico-Científica trabalha na identificação dos oito corpos levados ao IML (Instituto Médico Legal). Das vítimas, quatro adultos e quatro crianças, cinco são do sexo masculino e três do sexo feminino. O Departamento usará solicitará o apoio da Polícia Federal para identificar as vítimas, uma vez que informações indicam que quatro são de origem venezuelana.
(Colaborou Murilo Rodrigues)