Por Matheus de Souza e Sofia Aguiar, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na manhã desta segunda-feira (18) o uso da religião como instrumento político.
Durante sua fala inicial na primeira reunião ministerial do ano, o presidente mostrou que o tema continua sendo uma preocupação do governo, que tem visto no eleitorado evangélico um grupo desafiador de se aproximar.
“A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo neste país”, disse Lula, que também destacou a importância de a população apoiar o Estado Democrático de Direito.
O eleitorado evangélico mostrou, ao longo dos últimos anos, uma proximidade maior com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tem estado no mapa do atual governo como uma área de alerta. Para citar um exemplo da dificuldade do governo com esse público, pesquisa Genial/Quaest divulgada no início do mês sobre o governo mostra uma queda na aprovação do trabalho do presidente Lula.
A avaliação de governo também piorou. De acordo com a pesquisa, 34% avaliam como negativo (eram 29% em dezembro) e 35% como positivo (eram 36%). Segundo o levantamento, os índices foram puxados principalmente pela opinião dos evangélicos no que diz respeito às declarações de Lula sobre o conflito entre Israel e Palestina.
“A pior avaliação veio dos evangélicos, que respondem por 30% do eleitorado brasileiro, influenciado pelas declarações em que Lula comparou a guerra em Gaza com a ação de Hitler na Segunda Guerra Mundial”, diz o levantamento. A comparação foi considerada exagerada por 60% dos entrevistados e por 69% dos evangélicos.
Recuperação
Segundo Lula, o último ano foi de “recuperação”. O presidente disse que sabe que ainda falta muito a fazer naquilo que se comprometeu durante a campanha eleitoral e renovou críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Todo mundo aqui sabe que recuperar uma coisa estragada é mais difícil do que começar uma coisa nova. Todo mundo sabe a quantidade de obras em cada área que vocês pegaram, sobretudo na Saúde”, disse o presidente. “Foi um trabalho hercúleo para recuperar tudo isso”.
Lula criticou o governo Bolsonaro. “Ele (Bolsonaro) nunca se preocupou em governar esse país, ele nunca se preocupou com economia, ele nunca se preocupou com políticas de inclusão social, ele se preocupa em estimular o ódio entre as pessoas, estimular a mentira nesse país”, afirmou.
Lula citou inclusive os recentes avanços nas investigações contra Bolsonaro no que diz respeito à tentativa de golpe de Estado. “Hoje, a gente tem clareza por depoimento de gente que fazia parte do governo dele, ou que estava no comando inclusive das próprias Forças Armadas, de gente que foi convidado pelo ex-presidente para fazer um golpe”, disse. “Se há três meses atrás, quando a gente falava em golpe parecia apenas insinuação, hoje nós temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022”.
Lula avaliou que um golpe não ocorreu apenas por uma falta de adesão das Forças Armadas, mas também porque o ex-presidente é um “covardão”. “Ele não teve coragem de executar aquilo que planejou, ele ficou dentro de casa aqui no Palácio chorando quase que um mês e preferiu fugir para os Estados Unidos do que fazer aquilo que ele tinha prometido”, disse Lula.
Sobre os ministérios, o presidente falou em trabalhar para repor o dinheiro das pastas para que o País possa crescer nos próximos anos. “Vamos ter que fazer trabalho imenso para repor dinheiro em ministérios”, disse.