EDITORIAL
MANAUS – A expressão “assalto a mão desarmada” para se referir ao lucro da Petrobras e sua política de preços dos combustíveis foi usada pelo candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT), em entrevista à Globo News, na última quarta-feira (27).
Ciro Gomes disse outra frase emblemática e que traduz em parte os argumentos que o AMAZONAS ATUAL vem usando há quase um ano neste espaço de opinião: “Acredite brasileiro, você está sendo assaltado pela Petrobras”.
O candidato do PDT criticava o exatamente o lucro exorbitante da companhia e a distribuição de dividendos sem qualquer critério aos seus acionistas. Lembrou que em 2021 a Petrobras distribuiu 38% do lucro, enquanto as empresas de petróleo mais competitivas do mundo remuneram seus acionistas com no máximo 9% do lucro.
No primeiro trimestre deste ano, a Petrobras anunciou lucro líquido de R$ 44,5 bilhões e distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos.
Para a tristeza dos brasileiros, no segundo semestre – números revelados nesta sexta-feira (29) – o lucro líquido da Petrobras saltou para R$ 53,4 bilhões, e a companhia anunciou que irá pagar R$ 87,8 bilhões em dividendos.
Em seis meses, a Petrobras superou todo o ano de 2021 em distribuição de dividendos (lucro que vai para o bolso dos acionistas e para o caixa do governo). São R$ 136,3 bilhões de janeiro a junho contra R$ 106 bilhões em todo o ano de 2021.
Ciro Gomes usou o termo assalto quando explicava a política de preços da Petrobras, que é responsável por grande parte dos lucros exorbitantes da companhia.
Ele lembrou que a Petrobras importa 30% do diesel consumido no Brasil, e que esse combustível, que tem embutido o preço do frete e de seguro e é comprado em dólar, baliza o preço dos 70% produzidos no Brasil, com custos em real.
Ou seja, o brasileiro paga pelo combustível produzido aqui (70% do total) o mesmo preço do combustível importado (apenas 30%) comprado em dólar.
O candidato do PDT defendeu, para acabar com o “assalto” praticado pela Petrobras, a mudança na política de preços, que, como bem lembrou, foi criada no governo de Michel Temer.
Por quase 70 anos, a Petrobras sobreviveu e se tornou uma das maiores empresas de petróleo mundial com uma política de preços que protegia o consumidor brasileiro das tempestades financeiras no mercado internacional. A mudança foi uma decisão de governo e, agora, o governo diz não ter força para retornar a uma política razoável para o consumidor.
O que fez o governo e o Congresso Nacional para reduzir o preço dos combustíveis? Reduziu os impostos, e quem vai pagar a conta são os estados e municípios, que terão queda de arrecadação.
Enquanto isso, a Petrobras exibe com descaramento o resultado da alta dos combustíveis para o consumidor. Enquanto estados e municípios perdem, a Petrobras comemora a distribuição de lucros como nunca antes na história, coisa de fazer inveja às mais ricas companhias de petróleo do mundo.
Por fim, Ciro Gomes argumentou que pretende mudar a política de preços da Petrobras porque em qualquer lugar do mundo o monopólio tem preço administrado pelo governo, na literatura e na prática.
“Porque a lógica do mercado não existe em ambiente de monopólio. Qual é a lógica do mercado? É que os preços não devem ser controlados, porque o mercado, ao concorrer, garante a eficiência para o consumidor e a lucratividade razoável para o fornecedor. Ora, a Petrobras é um monopólio na prática. Não está mais na lei, mas é um monopólio”, disse Ciro Gomes.
Grande parte desses argumentos já havia sido defendida aqui ao longo de quase um ano, desde que a política de preços da Petrobras começou a elevar de forma descontrolada os preços dos combustíveis no Brasil.