MANAUS – A entrevista do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, no programa Conversa com Bial, da Rede Globo, exibido na madrugada desta quarta-feira, 23, foi uma aula sobre o Brasil atual e as perspectivas de saída para a situação que nos coloca próximos do fundo do poço. Toda a entrevista é merecedora de atenção, mas destaco a última parte, quando o ministro diz que é necessário “construir uma nova narrativa para o Brasil, reimaginar um novo país”.
Na visão de Barroso, um novo país precisa de uma narrativa comum. “Porque quando você não compartilha projetos comuns, quando um país não é generoso com todos, não dá igualdade de oportunidades, quando a pessoa tem a sensação de não pertencimento, ela rompe os laços”. Ele cita o Rio de Janeiro onde cada um cria seus próprios espaços e transformam a cidade, o Estado em uma zona de conflitos.
Essa narrativa proposta pelo ministro precisa, em primeiro lugar, ter um denominador comum de valores, a começar pela integridade pessoal. “É por isso que eu digo que não há corrupção de esquerda ou de direita. A corrupção é um mal em si e ninguém pode ter corrupto de estimação”. Integridade é entendida como o indivíduo íntegro, probo, irrepreensível na sua conduta, honesto, incorruptível,
Para o ministro, é preciso criar um país em que a integridade seja o ponto de partida. “Um país democrático pode ter projetos liberais de país, pode ter projetos conservadores de país, pode ter projetos progressistas de país. O que não pode é ter um projeto de país que não seja baseado na honestidade e sim na apropriação privada de dinheiro para distribuir para os amigos ou para comprar seja lá o que for. Então, a integridade é um valor comum; não tem integridade de esquerda ou integridade de direita”.
Outro ponto destacado por Roberto Barroso é que o país precisa gerar riquezas para poder ter o que distribuir. Ele defende a livre iniciativa como uma forma de se gerar riqueza, porque na opinião dele, se provou uma forma melhor de geração de riquezas do que os modelos alternativos, mas chama a atenção para a justiça. “Hoje, a iniciativa privada, com concorrência, risco, inovação e os proveitos que ela traz de lucro e dividendos, se revelou melhor. Portanto, porque acho que gera mais riqueza, eu apoio a livre iniciativa. Porém, um país tem que ser justo. Portanto, você tem que ter mecanismos adequados de distribuição de riqueza”.
Nesse ponto, o ministro lista uma série de mecanismos de distribuição riquezas: “Um sistema tributário que não seja concentrador de renda, como é o nosso; serviços públicos de qualidade; programas sociais eficientes, como rede social para quem não é competitivo e que não pode ser; e educação de qualidade da pré-escola até o final do ensino médio. Esse é o grande projeto brasileiro”.
Luís Roberto Barroso diz que um projeto de país tem necessariamente que pensar a educação para daqui a um ano, cinco anos, dez anos, cinquenta anos. Além da educação, é fundamental criar uma cultura de integridade. “Uma cultura de boa fé objetiva, em que um não passe o outro pra trás. Essa tem que ser uma preocupação na vida: não passar os outros pra trás e não querer ser passado pra trás. Que nada mais é do que a regra de ouro, que você pode escolher em que tradição quiser, na tradição judaica, na tradição budista, na tradição cristã, que é não fazer aos outro o que você não quer que façam a você; ou no imperativo categórico kantiano, que é ‘haja como se a máxima da sua conduta pudesse ser uma lei universal’ ou seja, você não cria regras especiais para você. O que você quer para você é o que você quer para todo mundo”.
O ministro aprofunda ainda mais o tema, ao dizer que se os brasileiros conseguirem disseminar a ideia de integridade e tolerância, o país pode tomar um novo rumo. “Não tem problema se você é mais a esquerda ou mais à direita. Se você ganhou a eleição, é o seu projeto, mas na próxima eu vou tentar ganhar de você. Um jogo limpo, um jogo de tolerância, um jogo em que as pessoas se respeitem”.
Barroso também cobra um debate púbico de qualidade sobre os problemas do país e a busca de soluções. “É preciso acabar com esse debate que desqualifica o outro. Essa ideia autoritária e primitiva de que se você pensa diferentemente de mim, você só pode ser um cretino completo a serviço de alguma causa escusa, que é um pouco o debate público que você ainda tem no Brasil. Aliás, não só no Brasil, porque os Estados Unidos enveredaram por esse caminho também”.
Resumindo a proposta de Barroso: “Integridade, retomar a qualidade do debate público, tolerância e respeito ao outro. Esse é um projeto de país que nem é tão difícil assim”.
A LINHA DE PENSAMENTO DO DR. LUÍS ROBERTO BARROSO É LÚCIDA, FACTÍVEL, MAS DIVULGADA NO BRASIL SOA COMO PROMESSA DE CAMPANHA. REPORTA A SOCIEDADE À LEI DA FICHA LIMPA, QUE, AGORA FICA SABENDO QUE CABE RECURSO JURIDICO PARA TODO AQUELE QUE FOI CONDENADO E RESPONDE EM LIBERDADE. CASO NÃO HOUVESSE ESTA PRERROGATIVA A CLASSE POLÍTICA BRASILEIRA, MAL MAIOR NESTE CENÁRIO ATUAL, IRIA SER DEPURADA, SOBRANDO POUCOS PARA QUE A SOCIEDADE PUDESSE SANEAR.