
Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS — Após desistir do processo contra o namorado Diego Damasceno de Souza, de 29 anos, suspeito de espancá-la por ciúmes, a vendedora Kaline Milena Oliveira, de 30 anos, afirmou nesta sexta-feira (23) que foi manipulada pela advogada do artista, Leiliane Nóbrega.
“[Ficou acertado que] a Leidy [Pacheco] ia advogar pra mim porque a Leiliane não podia, já que ela estava advogando para o Diego. Mas ela [Leiliane] ia estar por trás manuseando as coisas para poder conseguir tirar ele de lá [cadeia]. Foi quando falaram para eu tirar a doutora Adriane [Magalhães] do caso”, disse Kaline.
A declaração ocorreu em uma live no Instagram com a advogada Adriane Magalhães, que acompanhou Kaline até o dia 15 deste mês, momento em que foi substituída pela advogada Leidy Pacheco de Souza. Na interação ao vivo, Kaline relevou o que a fez mudar a versão sobre o caso.
De acordo com Kaline, um casal de amigos a chamou para passar o último fim de semana em uma fazenda deles no município de Manacapuru (70 quilômetros de Manaus). Ela decidiu ir com as filhas no sábado (10). Segundo a vendedora, sob argumentos religiosos e pressão psicológica, essas pessoas a convenceram a mudar o depoimento, e organizaram o encontro com a advogada de Diego.
“Essa pessoa (nome não revelado) viu e conversou comigo. As primeiras palavras foram: ‘Meu Deus, amiga. Tu está muito mal, não está bem com isso. Falou assim: ‘Kaline, vocês se amam. Não era para isso ter acontecido. O inimigo usou vocês. Vocês precisam de terapia’. Foi o sábado todo assim. Fui para o quarto e ela fez uma oração comigo. Ela disse que estava muito preocupada com o Dieguinho na cadeia, que podiam matar ele”, disse Kaline.
“No sábado à noite, novamente tocamos no assunto e o esposo dela falou que a única solução que ele via era procurar a advogada do Diego e falar pra ela que eu iria ajudar ela. E assim foi feito”, completou.
A vendedora afirmou que, no domingo (11), ela foi apresentada à advogada Leiliane por videochamada e se prontificou a ajudar com o único objetivo de libertar Diego, pois tinha medo de que ele fosse assassinado na cadeia. O cantor estava detido na UPP (Unidade Prisional do Puraquequara), na zona oeste de Manaus.
“No domingo de manhã eles já estavam com o contato da advogada do Diego. Eu tinha dado uma saída com a filha dela. Quando voltei eles já tinham feito uma chamada de vídeo com ela e falaram pra ela que eu ia ajudar no caso. Então, fizemos uma nova chamada de vídeo com a Leiliane e eu falei que estava disposta a ajudar porque eu não queria que ele morresse ali dentro”, disse Kaline.
De acordo com Kaline, uma reunião foi agendada para o dia seguinte na casa de Leiliane. Nesse encontro, a estratégia traçada foi nomear uma advogada parceira de Leiliane, que passou a instruir a vendedora com o objetivo de encerrar o processo. A advogada Leidy Pacheco foi designada para o caso.
“Chegamos lá [na casa de Leiliane], estava a Leiliane, eu, a pessoa que me levou. Em seguida, chegou a doutora Leidy [Pacheco], que é amiga pessoal da Leiliane — elas trabalham no mesmo escritório, dividem sala”, disse Kaline.
“[Ficou acertado que] a doutora Leidy ia advogar pra mim porque a Leiliane não podia, pois estava com o Diego, mas ela [Leiliane] ia estar por trás manuseando as coisas para poder conseguir tirar ele de lá [cadeia]. Foi quando falaram para eu tirar a doutora Adriane do caso, pois ela havia me exposto muito. Falaram em vários momentos que eu poderia processar ela. Foi quando eu pedi para a doutora Adriane [Magalhães] sair do caso”, disse Kaline.
No dia 14 de maio, o promotor Davi Santana da Câmara apresentou denúncia contra Diego por lesão corporal no contexto de violência doméstica. Na peça, o promotor afirmou que havia provas claras do crime e da autoria, com base no depoimento da vítima e no laudo do exame de corpo de delito.
No dia seguinte, a juíza Ana Gazzineo recebeu a denúncia contra Diego e deu 10 dias para que ele apresentasse defesa. No mesmo dia, a advogada Leidy Pacheco apresentou à juíza a carta assinada por Kaline. Imediatamente, a juíza pediu ao promotor para que se manifestasse sobre a desistência.
No dia 16, a advogada de Diego pediu a revogação da prisão dele e a juíza convocou uma audiência presencial, agendada para o dia 21.
Na audiência, a juíza absolveu Diego da acusação e revogou a prisão preventiva e as medidas protetivas que impediam ele de se aproximar dela. A sentença foi dada após Kaline e o próprio Diego optarem por não falar sobre o que ocorreu na noite das agressões.
“Verifica-se que os elementos probatórios coligidos não se mostram aptos a amparar um édito condenatório, haja vista que se restringem à fase pré-processual, uma vez que, em sede judicial, tanto a suposta vítima quanto o acusado deixaram de ratificar ou confirmar suas declarações anteriormente prestadas”, escreveu a juíza, na sentença.
No mesmo dia, a advogada de Diego, Leiliane, divulgou vídeo em que fala com os pais de Diego. “Vim lhe dar boas notícias: Diego foi absolvido e sai hoje, tá bom? Saiba que eu estou muito feliz, muito grata por toda sua confiança no meu trabalho. Meu coração está aliviado. Foi a melhor notícia que eu poderia ter recebido durante esses dias”, disse a advogada.
De acordo com a advogada Adriane Magalhães, a confecção da carta foi uma ideia das advogadas de Diego como estratégia para encerrar o processo contra ele. Kaline disse que foi orientada por elas a escrever uma carta a punho pedindo o fim do processo.
Segundo Kaline, inicialmente, as advogadas buscaram o promotor para relatar a nova versão, mas não o encontraram. Em razão disso, orientaram a vendedora a escrever a carta “confirmando a versão do Diego”. “Me passaram o que eu tinha que escrever. Redigiram o texto e eu escrevi, e mandei a foto pra ela [do documento] assinado”, afirmou a vendedora.
Na carta, Kaline mudou a versão e afirmou que não tinha interesse em prosseguir com o processo. Ela também disse que havia prestado depoimento com raiva e havia sido orientada por Adriane Magalhães a expor o caso na mídia.
Na live, Kaline expôs arrependimento e afirmou que se sentiu usada. “Eu queria tirar ele [da prisão], queria ajudar. Só que eu não sabia que, na verdade, estavam querendo limpar a barra dele e me lascar”, disse a vendedora.
“Se eu soubesse que naquela fazenda iam usar o nome de Deus, usar os meus sentimentos, [de] que eu amo ele, que isso e aquilo, eu nunca tinha pisado lá, e eu não estaria aqui agora tendo que me retratar novamente por algo que aconteceu, sim [agressões]. (…) Se eu pudesse voltar lá naquele final de semana, eu não teria ido”, afirmou Kaline, emocionada.
Adriane Magalhães afirmou que sabia que Kaline tinha viajado a Manacapuru, pois foi informada pelas amigas da vendedora. Ela disse que tentou convencer a mulher a não viajar, mas não conseguiu. A advogada afirmou que, ao retornar na segunda-feira, Kaline voltou com outro pensamento, e pediu para que ela saísse do caso.
“Eu vi que a Kaline foi completamente induzida. E, ao meu ver, foi um ato criminoso. Cometeram, sim, crimes contra ela. Induziram a Kaline de todas as formas possíveis”, disse Adriane Magalhães.
“A Kaline foi manipulada, gente. (…) Lá, naquela fazenda em Manacapuru, com esses dois amigos — que são amigos do agressor, não da Kaline — eles, pessoas extremamente ricas e influentes, disseram: ‘Kaline, faz isso, faz aquilo. Tu não gosta dele? Tu ama ele? Coitado, está sofrendo na penitenciária, está apanhando, estão batendo nele’. Mentira! Nada disso estava acontecendo, mas a Kaline acreditou em tudo”, completou.
Adriane disse que, por estar vulnerável, Kaline foi enganada por golpistas que tomaram dela R$ 1,2 mil. Eles pediam dinheiro sob ameaça de que matariam Diego na cadeia.
“Havia pessoas se passando por membros de facção começaram a ameaçar a Kaline, mandando mensagens, dizendo que iam matá-la, que ela não deveria ter feito isso com ele, e pedindo dinheiro. O pouco que Kaline tinha, ela transferiu para esses golpistas, acreditando que eram eles mesmos que a ameaçavam. No total, foram R$ 1,2 mil. Temos comprovantes de PIX que foram enviados a essas pessoas. Tudo isso será levado à delegacia”, disse Adriane.
A advogada, que retomará o caso, afirmou que as provas contra as advogadas envolvidas serão apresentadas à Justiça, ao Ministério Público e à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
“Aqui eu tenho toda a conversa de WhatsApp [das advogadas de Diego] instruindo a Kaline sobre o que falar; fizeram a carta — a Kaline não a escreveu, ela apenas a transcreveu. Está tudo aqui: bendito print, bendito WhatsApp. Kaline não fez nada disso. Ela achava que ele só ia ser solto, não que seria absolvido do processo. Está tudo aqui”, declarou.
“Isso é certo? Manipular a mulher? Por que não disseram categoricamente: ‘Kaline, você vai absolver ele de tudo’? Entendeu? Por que não disseram? Ela queria apenas que ele saísse da cadeia. Justiça seja feita. Até porque Kaline ia entrar com uma ação de danos morais contra ele. E ela escreveu aqui, sim, que queria essa ação de reparação. Como pode? Uma mulher que foi agredida, induzida a dizer que nada disso aconteceu, e ela acreditou. Transcreveu uma carta que não foi feita por ela”, completou.
O ATUAL tentou ouvir a advogada Leiliane Nóbrega, mas ela não retornou às ligações. O espaço está aberto para manifestação.