Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – O atacante do Nacional Patrick Correia Sales, 24 anos, denunciou que foi alvo de racismo praticado por um torcedor não identificado, localizado na torcida organizada do Manaus FC, que o chamou de ‘macaco’. Conhecido como Patrikão, o jogador comunicou o ocorrido ao árbitro da partida, Halbert Luis Moraes Baia.
O relato da denúncia está na súmula da partida da vitória do Nacional por 2 a 1 sobre o Manaus FC, na tarde de sábado (10), no Estádio Ismael Benigno, a Colina, em Manaus, pelas quartas de final do Campeonato Amazonense 2024, o Barezão.
“Informo que após o término do jogo o jogador Patrick Correia Costa [na verdade o último sobrenome é Sales], da equipe do Nacional, veio em minha direção e me comunicou que um torcedor não identificado localizado na torcida organizada do Manaus, o ofendeu com injúria racista, o chamando de macaco. informo que comuniquei o policiamento para tomar as providências cabíveis”, diz o texto da súmula da partida.
Na sexta-feira, durante o 48º Congresso Ordinário da Uefa, realizado em Paris, na França, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, prometeu ‘medidas mais robustas’ contra o racismo no futebol.
Em 11 de março do ano passado, em confronto entre os mesmos clubes, em Rio Preto da Eva, o árbitro Halbert Luís Moares Baia foi vítima de injúria racial. Em julgamento no TJD-AM (Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas) o Nacional foi condenado a pagamento de R$ 80 mil.
O ATUAL fez contato com a assessoria da PMAM (Polícia Militar do Estado do Amazonas) para saber as providências tomadas após a denúncia, mas não houve resposta até a publicação da materia.
O Manaus FC emitiu nota oficial sobre o episódio. “O Manaus FC repudia veementemente qualquer ato de racismo. A discriminação racial é inaceitável e vai contra os princípios de respeito e igualdade que defendemos. O caso só veio ao conhecimento do clube através do relato na súmula. Se o clube tivesse presenciado o fato, teria identificado o torcedor envolvido e tomaria as medidas imediatas”, diz o texto divulgado na tarde deste domingo (11).
Relato da vítima
O atacante Patrikão, que estava no banco de reservas, deu detalhes da ação racista e disse que ao se dar conta da gravidade do fato, o torcedor não identificado trocou de camisa e fugiu das arquibancadas da Colina.
“Antes de acabar o jogo, eles começaram a chutar água [choveu durante a partida e a água ficou acumulada em alguns pontos da arquibancada], a cuspir, a jogar as coisas e acabaram acertando meu amigo. Eu disse ‘cara não precisa disso, não tem porque chegar e fazer isso’. Ele fez gesto de macaco e falou bem assim ‘você é macaco’. Tocou no amigo dele e disse ‘aquele dali é macaco’, apontado para mim”, disse o atacante.
“O quê? Você me chamou de macaco? Olha, ele me chamou de macaco”, reagiu o jogador, chamando a atenção dos demais jogadores. “Quando ele viu que eu escutei o que ele tinha falado, o que ele fez comigo, começou a sair. O amigo dele viu”.
De acordo com o jogador, ele disse “cara, vocês podem me xingar, falar o que quiser. Agora, de macaco, não. De macaco eu não admito. Nisso ele começou a sair, viu que ia ficar ruim para ele. Eu disse que quando acabasse o jogo ia comunicar à polícia e ir atrás de vocês e continuei seguindo eles”.
Patrikão disse que o torcedor procurou se esconder e trocou de camisa. “Ele estava com uma camisa preta e trocou por uma verde. No fim do jogo eu chamei a polícia e o pessoal do clube e quando ele ficou visível e eu apontei para ele, ele saiu correndo. Quem corre, numa situação dessas, você já sabe o que aconteceu”, disse o jogador, que afirma ter testemunhas do caso.
“É chato. A gente está em 2024 e ainda ter que passar por essa situação. Ele era um cara de pele negra, me chamando de macaco”, disse Patrikão, que registrou boletim de ocorrência ainda no sábado (10). Nesta segunda-feira (12), o departamento jurídico do Nacional vai se reunir para decidir os próximos procedimentos.
Outras ocorrências
Halbert também relatou que “cerca de 6 torcedores sem camisa, porém da torcida organizada do Nacional FC, localizado atrás da meta do goleiro visitante, invadiram o campo de jogo com um tambor para comemoração da vitória de sua equipe juntos com alguns jogadores”.
Na outra partida deste sábado (10) em Manaus pelas quartas de final do Barezão 2024, entre Manauara e São Raimundo, no Estádio Carlos Zamith, o árbitro Raimundo José Azevedo de Medeiros relatou em súmula que “a torcida do Manauara Esporte Clube, arremessou uma garrafa com líquido na direção do assistente Alexsandro Lira de Alexandre. A mesma foi recolhida pelo assistente e entregue ao quarto árbitro da partida”.