Da Folhapress
SÃO PAULO – A deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal (PSL), que apoiou a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) e quase foi sua candidata a vice, defendeu a renúncia do presidente nesta segunda-feira, 18, no ‘Ao Vivo em Casa’, série de lives (transmissões ao vivo) da Folha de S.Paulo.
Uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a professora de direito e advogada é hoje crítica a Bolsonaro, mas diz não ver motivos para um processo de impedimento dele. Ela atacou, contudo, o que chama de loucura e burrice do governo.
“As pessoas mais ponderadas, mais racionais, que o apoiaram e ainda torcem por ele (Bolsonaro), e eu me coloco entre essas pessoas, ficam numa situação difícil para defender. Porque é muita loucura”, afirmou a parlamentar.
“Quando é que o país vai ter um pouco de estabilidade, de tranquilidade? Mantendo esse comportamento, ele não tem condição (de permanecer)”. “Ele podia renunciar, né? Ele insiste nos erros”, disse ela, que em março já havia falado que o titular do Planalto deveria deixar o cargo.
Janaina contestou a versão de que o excesso de polêmicas e recuos de Bolsonaro seja uma estratégia política. “É muita burrice, não dá para ter estratégia nisso aí, entendeu? Não consigo ver as Forças Armadas dando respaldo para algo tão grotesco”.
“É muita ambiguidade. Tem quem diga que é para ele estar sempre em evidência e com isso a esquerda nem sequer aparece. Mas todo dia cansa. Ninguém aguenta mais”, completou. “Coloquei todas as esperanças e expectativas no presidente. Foi muito trabalho para tirar o PT, para elegê-lo”.
E acrescentou: “É triste ver que uma pessoa que chegou aonde chegou, a duras penas, está jogando essa oportunidade no lixo. Porque não consegue ter humildade de ouvir, de recuar um pouquinho em alguns posicionamentos. Talvez de fazer uma terapia”.
A parlamentar minimizou o impacto das revelações feitas pelo empresário Paulo Marinho à Folha de S.Paulo. Para ela, a afirmação de que um delegado da Polícia Federal vazou ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a informação de que seria deflagrada uma operação contra Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, deve ser investigada, mas é, por enquanto, um elemento frágil aos olhos da Justiça.
A deputada também demonstrou preocupação com a defesa que políticos, de esquerda e de direita, passaram a fazer de uma anulação da eleição de 2018 com base nas revelações de Marinho.
Se, no impeachment e na renúncia, quem assume a Presidência é o vice-presidente, no caso de anulação da eleição há dois caminhos: a realização de novo pleito ou a vitória do segundo colocado, no caso Fernando Haddad (PT).
“Não consigo ver, sob o ponto de vista do direito eleitoral, uma relação de causa e efeito (entre a entrevista e a anulação da eleição). (…) Depois de todo o meu trabalho? Vão criar um caminho forçado para entregar a Presidência para o PT? Tudo que eu não quero na vida é o PT no governo”, disse.
A entrevista de Marinho foi mais um capítulo em meio ao inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga se Bolsonaro interveio na Polícia Federal para proteger sua família. A investigação foi aberta após as acusações do ex-ministro Sergio Moro.
Para Janaina, porém, não há crime de Bolsonaro nessa questão. “Nós não temos indício nenhum de uma interferência real na Polícia Federal. (…) No direito, a gente não pune intenção”, afirmou.
Sem apoiar integralmente o governo, mas ainda torcendo para que a gestão de Bolsonaro dê certo, Janaina diz que se sente “muito isolada” –outros ex-aliados de Bolsonaro hoje fazem oposição declarada. “Não estou batendo panela na varanda. Até porque quem está batendo panela é o povo que me chama de golpista (por ter atuado no impeachment de Dilma)”, continuou.
“Não consigo ver como eles (Bolsonaros) pensam em reeleição. Com essa dinâmica, eu não consigo ver. É que infelizmente faltam quadros alternativos. Talvez por isso eles achem que têm chance”, disse.
Indagada sobre a pressão que seu partido, o PSL, faz para que ela seja candidata à Presidência em 2022, Janaina desconversou, insistindo no discurso de que “não é o momento” de pensar em sucessão.