O Estado do Amazonas registrou oficialmente até hoje mais de 4,8 mil casos do novo coronavírus (Covid-19), com mais de 380 mortes. Números que, a cada dia, vêm sendo questionados, sob a suspeita de estar havendo subnotificações. O certo é que os casos estão aumentando assustadoramente e as projeções são as piores possíveis. O pico da pandemia ainda deve acontecer no mês de maio, com previsão de até 4,2 mil enterros nesse mês. E o desespero vai tomando conta.
A saúde do Amazonas entrou em colapso, com lentas ações do Estado, da Prefeitura e do Governo Federal. Fiz várias cobranças e propostas para melhorar o sistema. Mas hoje os hospitais estão lotados. Faltam leitos de UTIs, respiradores. Quem procura as unidades de saúde têm dificuldade de internação até em leitos clínicos. Não há testes suficientes para a grande demanda. Muitos estão adoecendo e não mais procurando os hospitais. Estão fazendo quarentena e se medicando em casa. Alguns desses têm o quadro agravado e acabam falecendo em casa mesmo, sem os familiares ao menos saberem, precisamente, a causa da morte.
Exemplo disso é que somente na última terça-feira (28/4) foram registrados 122 sepultamentos nos cemitérios públicos da cidade. Desse total, 34 aconteceram em casa e 15 têm como causa a Covid-19. Porém, outros 57 morreram por insuficiência ou síndrome respiratória ou parada cardiorrespiratória e outros 50 por outros motivos ou causas desconhecidas.
O sistema funerário também está em colapso. A Prefeitura começou a fazer enterros em sistema de trincheiras, ou seja, em valas comuns, com a ajuda de retroescavadeiras. Alega que não tem pessoal suficiente para abrir tantas covas individuais de uma única vez. Antes dessa pandemia, era realizada uma média de 30 enterros/dia na cidade. Ontem, o prefeito quis piorar e desumanizar ainda mais essa situação, ao autorizar enterros com caixões empilhados (um por cima do outro), não tendo mais como a família identificar seu ente querido. Depois de muita pressão, voltou atrás dessa desumana decisão. Porém, ainda continuarão enterrando em valas comuns, tentando identificar cada túmulo.
Na semana passada, questionei o Governo do Estado sobre os números oficiais de mortes. Mesmo documento foi enviado à Prefeitura de Manaus, solicitando informações sobre os enterros na cidade. Levantamento feito por nossa assessoria no portal de transparência dos cartórios de Registro Civil Brasileiro revelou que o número de óbitos no Amazonas relacionados ao novo coronavírus teve um crescimento de 158,4% (um total de 796 mortes) entre março e abril de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado (308 mortes). Pelos dados do Estado até o dia 24 de abril, haviam sido identificados somente 234 óbitos no Amazonas, uma diferença de 562 em relação aos números dos cartórios (796), o que podem representar 70% a mais no número de mortes oficiais por Covid-19.
Tanto os números oficiais quanto os dados dos cartórios assustam. O cenário é muito preocupante. Apesar disso tudo e mesmo com a manutenção do decreto do Estado de fechamento do comércio não essencial, de órgãos públicos, de escolas e faculdades, determinando o isolamento social, grande parte da população parece não temer o perigo desse vírus, longe de ser uma simples “gripezinha”, e já considerado um perigoso inimigo invisível.
Manaus não está com 50% da sua população em isolamento. Ainda é comum ver parte da população, principalmente da periferia, circulando normalmente pelas ruas, feiras e o que é pior, não usando máscaras de proteção, um dos principais itens de prevenção. A Prefeitura publicou decreto recomendando que a população use as máscaras caseiras, quando precisar sair às ruas. Mas também não fez distribuição em massa desse importante item de segurança. Fiz essa proposta tanto ao Município quanto ao Estado, por meio de parceria com Ifam e associações de costureiras do Amazonas. Seria uma ação importante neste momento.
O desemprego crescente neste período e a falta de renda de muitas famílias é o que têm levado uma multidão aos bancos nesses últimos dias, em busca do auxílio emergencial ou de informações sobre seu cadastro. Recebi reclamações e já cobrei do Governo Federal com relação à demora na análise dos dados no site da Caixa. E o que vemos diariamente é o povo sofrendo nas filas quilométricas em frente às agências da Caixa Econômica Federal e das loterias, locais com grande risco de contaminação.
Para vermos luz no fim do túnel e projeção de dias melhores, não há outra saída para combater um vírus ainda sem cura e sem vacina. É preciso isolamento total. O governador falou dias atrás em estabelecer na cidade o sistema de “lockdown”, quando as pessoas são proibidas de sair de casa e até acesso aos serviços essenciais fica restrito, necessitando de autorização. Ele ainda não decidiu por esse meio mais drástico de isolamento. Porém, algo a mais precisa ser feito o quanto antes. Caso contrário, viveremos dias terríveis neste estado que já é destaque no país em meio a essa pandemia. Ficar em casa é o que deve ser feito por todos nós. Isolamento total!
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