Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – A internação prolongada por questões de vulnerabilidade social, negligência ou abandono faz com que hospitalizados se apeguem aos profissionais de saúde que cuidam deles, principalmente idosos. É o que explica a psicóloga Houzane dos Santos, da Secretaria de Estado de Saúde, que trabalha no Hospital e Pronto Socorro Platão Araújo.
Houzane dos Santos afirma que a distância da família, do animal de estimação e a saúde frágil trazem a sensação de que não se é dono de si, quebrando a linearidade da vida e das funções cotidianas. “Ele [idoso] acaba se identificando com alguns profissionais de saúde e criando um sentimento de amor e dependência dentro do hospital”, diz.
A psicóloga explica que muitos desses pacientes contam os dias para receber a visita do psicólogo favorito. “Nesse momento é uma troca de sentimentos muito grande porque o profissional entra para poder amparar esse paciente e fazê-lo entender o processo da hospitalização e suas nuances diversas, no entanto eles o enxergam de maneira afetuosa e carinhosa no momento do atendimento ao leito”, conta.
Houzane explica que às vezes o paciente acaba se sentindo acolhido e se nega a receber alta. “Mesmo que a instituição hospitalar ofereça um abrigo, a família como apoio, o paciente recusa e quer ficar ali devido ao apego à equipe, devido aos cuidados recebidos, ao amor que recebe dos profissionais que cuidam desse paciente diariamente”, diz.
A profissional alerta que a internação prolongada gera outras complicações como a depressão. “Muitos pacientes com longa duração em hospitais perdem a esperança de sair, perdem a vontade de viver e de ir para casa ou de se curar”.
Houzane afirma que a internação de longa duração acarreta alterações emocionais que deixam sequelas, como a insônia, falta de apetite, irritabilidade, nervosismo e choro fácil.
Ocupação dos leitos
A assistente social Claudia Melo, do Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, afirma que a longa permanência no leito afeta o fluxo nos grandes prontos-socorros de Manaus, que possuem alta demanda de atendimentos emergenciais, com pacientes que necessitam de leitos disponíveis.
“Quando temos essa demanda de pacientes com situação social de abandono ou ausência familiar impacta na programação de alta hospitalar, pois os familiares precisam receber as orientações necessárias e encaminhamentos”, explica.
De acordo com Claudia Melo, a estatística do serviço social no Hospital João Lúcio nesses casos é a média mensal de quatro a cinco pacientes com vínculos rompidos e abandono para acompanhamento.
A assistente social Aparecida Oriente, do Hospital e Pronto Socorro de 28 de Agosto, afirma que a unidade está com dois pacientes em vulnerabilidade, que ainda não receberam alta hospitalar e sem acompanhantes. Um não verbaliza e o outro é venezuelano.
“Esses pacientes estão há mais de 30 dias e a faixa etária é acima de 40 anos. Os dois pacientes são cadeirantes e precisam de cuidados diários da enfermagem. Um paciente acamado de alta hospitalar gera um custo para o hospital de alta complexidade, como o HPS 28 de Agosto, e bloqueia um giro de leito que precisa existir, por conta das demandas”, diz
No Hospital Platão Araújo há dois pacientes idosos em longa permanência, devido a questões de vulnerabilidade social, negligência ou abandono. Os pacientes estão há 30 dias, e a faixa etária é de 60 a 80 anos.
No Hospital João Lúcio não há casos sociais de abandono ou ausência familiar. Quando ocorre, os pacientes são na maioria acima de 60 anos.
Os números foram fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde na sexta-feira (24).
Acolhimento
A psicóloga Houzane dos Santos afirma que quando não acolhidos pela família os pacientes são encaminhados para a Fundação Doutor Thomas.
A assistente social Claudia Melo afirma que o serviço social aciona os familiares para que façam o acolhimento necessário e quando há negativa por parte da família e o paciente é idoso ou incapaz, aciona-se o Ministério Público ou a Delegacia do Idoso para que sejam tomadas as medidas cabíveis.