Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – A apreensão de um aparelho de som por policiais civis em um evento político no município de Tonantins (a 863 quilômetros de Manaus) gerou confusão e terminou com um homem baleado na perna, no último domingo, 11. Vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que participantes do evento tentam impedir os policiais de levar o equipamento e um policial faz diversos disparos para baixo.
O policial civil, identificado pela SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública) como Alan de Andrade Sampaio, é investigador e gestor da 54ª DIP (Delegacia Interativa de Polícia). Conforme o vídeo, ele sacou a arma e deu o primeiro disparo para baixo logo após ser atingido por um objeto lançado por um dos participantes do evento.
O vídeo mostra o momento em que dois policiais levam o equipamento para a viatura da Polícia Civil e um grupo se aproxima do investigador, que recua, pede para que os homens se afastem e dispara mais duas vezes para o chão. Em seguida, Sampaio é atingido por outro objeto.
Ainda conforme o vídeo, outros participantes tentam se aproximar do investigador e são empurrados por ele. Um deles reage ao empurrão e avança contra Sampaio. Um policial tenta afastar o homem de perto do investigador, que dispara mais duas vezes para o chão. O rapaz insiste em avançar contra o investigador e o terceiro disparo atinge a perna dele. A situação gera revolta nos participantes e Sampaio é atingido por outros objetos.
Outros participantes do evento político ainda tentaram avançar contra o investigador, que deixou o local na garupa de uma motocicleta. Os dois policiais civis permaneceram no local e o rapaz atingido pelo disparo foi levado para o hospital.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Tonantins, o homem baleado, identificado como Josimar Castro Rodrigues, 27, sofreu fratura cominutiva (quebra do osso em mais de dois fragmentos) na tíbia e na fíbula. Ele estava internado há dois dias no hospital do município e está sendo transferido para Manaus para passar por cirurgia.
A SSP-AM informou que o investigador realizava diligência no local após receber denúncia de “perturbação de sossego, poluição sonora e descumprimento de decreto governamental contra a Covid-19, ocorrida na Rua São Francisco, bairro Centro, naquele município”.
“Conforme o gestor, na ocasião, o dono de uma lanchonete denunciou que estava sendo prejudicado pelo volume alto da caixa de som do ponto comercial ao lado. O comerciante mencionou que não estava conseguindo realizar os atendimentos de pedidos de delivery, e dos clientes que estavam no local”, afirmou a SSP-AM.
Ainda de acordo com a secretaria, o investigador constatou a veracidade da informação e solicitou apoio de policiais militares e da guarda civil municipal. No local, a equipe solicitou que o homem baixasse o volume do som, mas ele se recusou. “Sendo assim, os policiais tentaram apreender o aparelho de som, mas foram impedidos por populares”, informou a SSP-AM.
A Secretaria de Segurança Pública informou que o corregedor-geral do Sistema de Segurança Pública determinou a instauração de procedimentos apuratórios e o envio de uma equipe ao município para fazer todo o levantamento necessário sobre o caso.
Nesta terça-feira, 13, o Sinpol-AM (Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Amazonas) divulgou uma “moção de apoio” a Alan Sampaio, afirmando que ele “agiu no estrito cumprimento do seu dever, pois a legislação não o faculta agir de modo diverso”.
O sindicato afirmou que Sampaio, em legítima defesa própria e de terceiros, “foi compelido a conter a ação de um grupo que tentou contra a sua integridade física e estava sendo estimulado a tentar contra a sua vida pelo candidato a vereador”.
De acordo com o Sinpol, Sampaio foi acionado pelo proprietário de uma lanchonete após um candidato a vereador, que usava o aparelho de som após o horário permitido pela legislação eleitoral, se recusar a baixar o volume. Entretanto, segundo o sindicato, o candidato se recusou a cumprir a ordem e aumento o som, “afrontando o policial civil e instigando as demais pessoas a agirem com violência contra o referido agente público”.
“Nesse contexto, a fim de cumprir a lei e manter a ordem, numa ação interinstitucional, o policial civil pediu apoio da PM e da GCM, momento em que iniciou os procedimentos para adotar as providências previstas em Lei na Delegacia, razão pela qual o infrator se opôs as ordens das autoridades públicas e estimulou outras pessoas a um tumulto generalizado”, diz trecho da nota do Sinpol.