Da Redação
MANAUS – Defensor de um modelo econômico para a região norte que não dependa de incentivos fiscais do governo federal, o empresário Samuel Hanan afirma que os benefícios concedidos com a criação da Zona Franca de Manaus funcionaram como uma “ponte” para o desenvolvimento regional e que é necessário investir em novos potenciais.
“Temos que ter outra Zona Franca que independa de incentivos fiscais do governo federal. Eles não gostam desse modelo. O ministro da economia, hoje, é inimigo da Zona Franca. Ele não gosta talvez até porque ele não conheça. Eu acho que ou é preconceito ou ele não conhece”, disse Hanan, em entrevista ao ATUAL nesta quinta-feira (24).
O empresário, que acompanhou de perto os principais debates sobre a Zona Franca de Manaus, disse que o modelo deve passar por uma reformulação para “não perder mais 50 anos”. “Temos petróleo, potássio, podemos ter fertilizantes. Devemos fortalecer o polo eletroeletrônico trazendo uma fábrica de chips. Tem muita coisa pra ser feita”, disse Hanan.
“Direito nosso”
Ao comentar sobre a promessa do governo federal em editar decreto que garantisse a competitividade da Zona Franca de Manaus, Hanan afirmou que políticos e empresários do Amazonas não devem ir até Guedes com “pires na mão” para pedir o que já é garantido pela Constituição da República. “Nós não temos que pedir nada. É direito nosso”, afirmou.
De acordo com Hanan, a redução da alíquota do IPI impactará nos municípios e estados mais pobres do país. “Ele está tirando receita de estados e municípios mais pobres do país, nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. Para quê? Para dar incentivo para o sul e sudeste. Está tirando dos pobres para dar para os ricos. Isso se chama Robin Hood às avessas”, disse.
O empresário cobrou a manutenção dos incentivos aos municípios que sobrevivem dos recursos colhidos com esse imposto. “Ele (Paulo Guedes) tem que devolver os tributos dos prefeitos. Por que ele não tira do tributo dele? Por que não tira do Cofins, do PIS, da Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Ele quer tirar dos pobres”, afirmou Hanan.
Para o empresário, a solução para defesa da Zona Franca de Manaus é o STF (Supremo Tribunal Federal).
Reeleição, farra e impunidade
Crítico de um Brasil que está “na UTI”, Hanan lançou o livro “Brasil: um país à deriva”, em parceira com o filho, Daniel Falcone Hanan. Na obra, publicada pela Editora Valer, os empresários criticam a possibilidade de reeleição de políticos, o inchaço da máquina pública e a impunidade, que, segundo eles, surgiram após a Constituição de 1988.
“Fizeram a farra na máquina. Pós-Constituição, começou o marco: 1.440 novos municípios. Isso significa 1.440 novos prefeitos, vice-prefeitos e câmaras municipais, secretarias, prédios, luz, telefone… Uma farra. E a farra tem preço. O preço quem paga somos nós com a qualidade dos serviços cada vez pior”, afirmou Hanan.
“Vem depois a reeleição. Pior que existe. Político se elege hoje, no dia seguinte, o que ele pensa? Reeleição. O povo não é mais a prioridade. Na Constituição, a reeleição gerou farra da máquina pública. Depois a impunidade. A corrupção tomou conta, se alastrou. Agora estamos onde estamos. Todo mundo empobrece a cada dia”, completou o empresário.
Para Hanan, a solução não é mudar a economia, mas combater o problema ético, moral e de conduta de políticos brasileiros. “Então, só tem um jeito. Acabar o foro privilegiado, prisão em segunda instância tem que existir. Crimes contra o erário, crime contra a coisas públicas, improbidade, tem que ser imprescritível. Não tem que prescrever nunca”, afirmou.
“Muita gente comete o crime, se apropria de dinheiro e a prescrição leva ele para a inocência. Essas três coisas são de ordem moral e ética. Hoje, no Brasil, a tristeza que me dá é de ver réu poder ser candidato. Nós damos ao réu a condição de continuar assinando cheque no nosso nome”, completou Hanan.