Por Thiago Resende e Bernardo Caram, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – O governo quer que mudanças no sistema tributário entrem em vigor num prazo inferior a dez anos. A transição em estudo, portanto, é mais curta que a prevista na reforma em andamento na Câmara dos Deputados.
O secretário especial adjunto da Receita Federal, Marcelo de Sousa Silva, citou como exemplo, nesta terça-feira, 27, a possibilidade de o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) ser implementado em dois anos com a junção de PIS e Cofins.
Após mais um ano, o IPI seria incorporado a esse novo imposto. Depois, poderiam entrar o ICMS e o ISS, que são tributos estaduais e municipais. “Será que vamos conseguir ter um ambiente de negócios de forma que a gente consiga já alavancar investimentos, fazer o Brasil crescer, mantendo a mesma estrutura durante dez anos?”, questiona o secretário adjunto.
Ainda não há data para que o ministro Paulo Guedes (Economia) e o presidente Jair Bolsonaro enviem as sugestões próprias para a reestruturação de impostos e contribuições. O ministro se reúne nesta terça com o secretário da Receita, Marcos Cintra, para tentar arrematar a proposta.
Na Câmara, já está avançando um projeto encampado por
líderes partidários. O texto prevê a criação de um IVA com transição de dez
anos.
Silva avalia que a burocracia precisa começar a ser eliminada para estimular a
economia. “A diferença da proposta do governo e da proposta que está aí hoje (tramitando
no Congresso) se chama transição. Uma transição que entregue simplicidade ao
longo do processo”, completou.
O secretário especial da Receita, Marcos Cintra, voltou a falar que a reforma da equipe econômica deve prever a criação de um IVA (imposto sobre valor agregado), mudanças no IR (imposto de renda) e a criação de uma contribuição sobre transações financeiras, seguindo o molde da extinta CPMF.
Cintra e Silva participaram nesta terça de um café da manhã promovido pela Abrig (associação brasileira de relações institucionais e governamentais) para debater a reestruturação tributária no país. O governo apresentou as bases de sua proposta no evento.
Segundo Cintra, a ideia é priorizar a unificação de
impostos federais (PIS, Cofins e IPI) num imposto sobre valor agregado, que
deve ser chamado de CSBS (contribuição social sobre bens e serviços).
A junção de ICMS e ISS, porém, dependeria de consenso com estados e municípios.
Diante do histórico de fracasso de outras propostas tributárias, ele considera difícil uma reforma que inclua ICMS e ISS. “Mas vamos apoiar, vamos ajudar”, disse.
Cintra afirmou que não pretende obrigar nenhum estado e município a aderir à reforma. No entanto, quer deixar a opção para que, caso algum governador ou prefeito queria, o ICMS ou ISS possa ser incorporado ao imposto sobre valor agregado.
Além disso, o projeto do governo deve prever a criação da CST (contribuição social sobre transações), uma espécie de ‘nova CPMF’ e que já -há algumas semanas- era apresentada como CP (contribuição previdenciária).
Cintra informou que a alíquota inicial deve ser entre 0,2% e 0,22%, mas que o objetivo é deixar o Congresso calibrar a taxas a serem cobradas sobre transações e na CSBS.
Ele voltou a declarar que a equipe deseja mudanças no Imposto de Renda, como redução da alíquota máxima para algo entre 20% e 25%, tributação sobre dividendos, criação de um teto para dedução de despesas médicas e de um IR negativo, no qual a baixa renda seria compensada com a devolução de dinheiro.
O plano do time de Guedes inclui ainda a desoneração da folha de pagamentos. Esse tributo é pago pelas empresas e, segundo o governo, impede a criação de novos empregos no país. Em troca, a ‘nova CPMF’ financiaria os gastos da Previdência.
Em reuniões feitas no Ministério da Economia nessa segunda, 26, entrou em discussão a possibilidade de que o governo apresente uma reforma mais enxuta, apenas com a reforma do IR e a contribuição sobre pagamentos. Nesse caso, o governo negociaria para que os dois pontos fossem acoplados à proposta que já tramita no Congresso. Na avaliação de auxiliares de Guedes, essa seria uma opção conciliadora e que não abriria disputa com o Legislativo.