Por Valéria Costa, da Redação
MANAUS – Presidente por 5 anos da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), o professor aposentado da Universidade Federal do Amazonas, Odenildo Sena, lamentou os últimos acontecimentos envolvendo a instituição e as declarações do governo José Melo (Pros). Para Odenildo, o professor Melo deve estar “mal assessorado” em relação aos modus operandis da concessão de bolsas.
Nesta sexta-feira, 9, quando participava de solenidade no Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), ao ser questionado pela imprensa sobe o atraso no pagamento das bolsas dos mais de 6 mil pesquisadores da Fapeam, Melo informou que está realizando auditoria na instituição para analisar a qualidade das pesquisas financiadas pelo Estado e também para “caçar” e tirar da fundação os “bolsistas-fantasmas”. Sobre o atraso no pagamento de bolsas, ele afirmou que vão continuar até sejam equilibradas as finanças do Estado, porque a prioridade são os pagamentos do funcionalismo e de prestadores de serviços da área da saúde.
“Acho muito esquisito isso e são afirmações produto de desinformação em relação à Fapeam, que é uma instituição rigorosíssima na concessão de bolsas. A seleção passa por um comitê que decide ou não pela aprovação das bolsas”, afirmou Odenildo.
Sobre a fala de Melo, de que quer a pesquisa voltada para as necessidades locais e questiona linhas de pesquisas de bolsistas que nada tem a ver com a realidade amazonense, Odenildo Sena discordou. Para ele, a pesquisa não necessariamente está voltada para temáticas regionais porque a ciência é universal. “Isso é muito natural porque a ciência não se alimenta apenas do regional. A ciência tem um horizonte mais largo”, defendeu.
O ex-dirigente da Fapeam disse que prefere não acreditar na existência de bolsistas-fantasmas na instituição, até porque além da fiscalização externa, a fundação possui uma rigorosa auditoria interna. Segundo ele, além de o processo interno de seleção ser rigoroso, a primeira coisa que o pesquisador que concorre ao benefício tem que fazer é passar numa seleção, seja de mestrado ou doutorado. “Se você vai para USP ou qualquer outra instituição fazer mestrado ou doutorado, tem que passar numa seleção. Tem que comprovar que está matriculado. É um acompanhamento muito rigoroso. Tem que enviar relatórios mensais. Prefiro não acreditar nisso. Pelo menos até enquanto a Maria Olivia (ex-presidente da Fapeam), esteve lá, até o início deste ano, não se tinha notícias disso”, disse o pesquisador.
Odenildo classificou a suspeita de José Melo como perigosa, e ressaltou que a afirmação em relação à Fapeam desqualifica e desacredita a instituição, que ainda é respeitada fora do Estado.
Quanto ao atraso do pagamento das bolsas – a terceira em menos de um ano – isso mostra uma quebra de paradigma muito grande, segundo o pesquisador. Ele ressaltou que, há pelo menos 5 anos, as bolsas da Fapeam eram consideradas pagamentos de primeira ordem. “Eram pagas junto com o funcionalismo público. Quem faz pesquisa pela Fapeam e é bolsista depende da bolsa para viver. Atrasar causa um transtorno enorme. Fui bolsista da Capes no mestrado e doutorado e sei o que representa o atraso da bolsa, principalmente para quem está fora do Estado. Só tenho a lamentar muito. A Fapeam já foi referência no Brasil inteiro e hoje parece que ela está perdendo esse status, principalmente porque o Estado como o nosso, que é distante e tem uma biodiversidade riquíssima, precisa desesperadamente de ciência”, afirmou.
Na avaliação de Odenildo, a possível decadência do incentivo à pesquisa no Estado se iniciou a partir do desmonte da extinta Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sect), que foi anexada à Secretaria de Estado de Planejamento e Administração (Seplan) no início deste ano, logo que Melo assumiu o segundo mandato e realizou a sua primeira reforma administrativa.
“Esse desmonte já se sinalizava uma desaprovação da ciência no Estado. Estamos num processo de retrocesso muito grande. O Amazonas foi referência na Região Norte e no Brasil. Onde chegávamos, éramos bem recebido e elogiado pelo trabalho que se desenvolvia em pesquisa aqui. É muito lamentável”, criticou.
Odenildo Sena dirigiu a Fapeam entre julho de 2005 a julho de 2010 e, segundo ele, tem muito orgulho deste período, do trabalho que desenvolveu há frente da instituição. “Foi um trabalho que enriqueceu muito o meu currículo e conseguimos, com a ajuda de muitas pessoas, tornar a Fapeam respeitada no Brasil inteiro. Ela era a quarta do Brasil, ficando atrás somente de instituições de fomento à pesquisa de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Atualmente, a Fapeam é dirigida pelo ex-secretário da Região Metropolitana, Renê Levy, que sempre esteve envolvido no governo em trabalhos na área da construção civil.