MANAUS – Nos dias 24 e 25 de agosto passados, tive o prazer de participar, junto com o time da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão do Governo do Amazonas onde atuo como coordenadora de Comunicação, do curso “Gestão de Conflitos”. Ministrado pelo defensor público Thiago Rosas, do Instituto Arandu, o curso tem como público-alvo operadores do direito. Porém, como jornalista que tem se enveredado ultimamente em uma jornada de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e profissional, me identifiquei e me encantei com o conteúdo.
Foram dois dias, um sábado e um domingo, de imersão e aprendizado sobre a cultura da paz. Aprendi que a gestão de conflitos é uma ferramenta poderosa que, assim como pode ser usada no nosso dia a dia, no ambiente familiar ou de trabalho, pode selar um acordo de paz e pôr fim a uma guerra. No cenário mais natural, ela emerge como uma alternativa ao paradigma tradicional do litígio.
Aprendi que, diferente da cultura do litígio, que quase levou o sistema judiciário ao colapso de tantas causas por se resolver, na cultura da paz o objetivo não é simplesmente vencer, mas encontrar soluções que beneficiem todas as partes envolvidas. Na gestão de conflitos está em jogo o ganha-ganha, ou seja, que todas as partes saiam satisfeitas, diferente do litígio, no qual, por regra, um ganha e outro perde.
Também entendi a diferença entre mediação, conciliação, negociação e construção de consenso, formas distintas de resolver conflitos, cada uma com suas características e métodos específicos. Mas que todas dependem da cooperação mútua. E que para haver cooperação é preciso ter compaixão, gentileza, comunicação assertiva e não violenta.
A mediação é um processo voluntário em que um mediador imparcial auxilia as partes em conflito, porém não adversárias, a chegarem a um acordo mutuamente satisfatório. O papel do mediador é facilitar a comunicação, ajudar as partes a entenderem os interesses e as necessidades uns dos outros, sem impor uma solução ou julgamento, buscando compreender as necessidades e sentimentos dos envolvidos.
O foco da mediação é no relacionamento entre as partes e na busca de uma solução que atenda aos interesses de ambos. O processo permite que as partes construam novas histórias e foquem no futuro, transformando o conflito em uma oportunidade de crescimento.
Já na conciliação, na qual se pode sugerir soluções para o conflito, o conciliador atua mais ativamente, propondo alternativas para que as partes possam considerar e chegar a um acordo. O conciliador, através da escuta ativa e da imparcialidade, expõe as vantagens e desvantagens das posições e propõe soluções que incentivem a cooperação.
A negociação, por sua vez, é um processo direto de comunicação entre as partes em conflito, sem a intervenção de um terceiro, com o objetivo de alcançar um acordo que seja aceitável para ambos. É um processo de tomada de decisão que envolve a busca por soluções que satisfaçam os interesses materiais, psicológicos e processuais de todas as partes envolvidas.
Habilidade intrínseca à condição humana, essencial para a convivência social, a negociação é bem-sucedida quando se baseia na cooperação e no respeito mútuo, resultando em acordos que promovem o bem-estar coletivo. É baseada em princípios, como bem definem os autores Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton no livro “Como Chegar ao Sim”, no qual afirmam que vivemos a “revolução da negociação”.
O desafio, afirmam, não é eliminar o conflito, mas transformá-lo. Mudar a forma como lidamos com as diferenças. Afinal de contas, “o conflito está no cerne do processo democrático, e as melhores decisões não nascem do consenso superficial, mas da exploração de diferentes pontos de vista. De uma luta destrutiva e antagônica para uma prática harmoniosa de resolução de problemas.
E, dessa forma, chegamos à construção de consenso, outra maneira de gerir conflitos. O consenso é a tomada de decisão em que todas as partes envolvidas colaboram para chegar a uma solução que seja aceita por todos. Muito usada em acordos coletivos de categorias trabalhistas, é uma abordagem que fortalece a democracia, trazendo ao debate todos os afetados pelo conflito. A decisão final deve levar os envolvidos a um lugar melhor do que estavam antes, promovendo uma transformação significativa nas relações sociais.
Nas suas variadas formas, a gestão de conflitos, quando bem conduzida, tem o poder de transformar problemas em oportunidades de crescimento e cooperação, sem judicialização, que demanda tempo, recursos e pode destruir sonhos e expectativas. A mudança de paradigma, do litígio para a cultura da paz, exige uma abordagem baseada na comunicação colaborativa, no respeito à dignidade humana e na valorização das emoções pessoais.
Aprendi no curso do Dr. Thiago Rosas que a verdadeira vitória em um conflito não é aquela em que uma parte sai vencedora, mas sim aquela em que todas as partes encontram um caminho para a cooperação e o bem comum. Afinal, melhor que uma causa ganha é uma causa em que todos ganham.
Roseane Mota é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aluna do programa mentorado Bússola Executiva. É servidora pública do quadro efetivo do Estado e coordenadora de Comunicação na Unidade Gestora de Projetos Especiais - UGPE, do Governo do Amazonas.
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