No Brasil, pós-ditadura militar e com a redemocratização, o eleitor tem comprado gato por lebre todas as vezes que é chamado a votar. Vota no candidato que vê e elege o que não vê. Não apenas pelo sistema proporcional, que soma os votos de todos para eleger os mais votados, mas como resultado do ‘marketing’ político, avassalador e progressivo a cada pleito.
O candidato, notadamente em eleições majoritárias, faz o que lhe dita o marqueteiro. Segue os conselhos e repete a postura e os discursos que lhe são previamente preparados. E o ‘marketing’ estrutura-se em pesquisas de opinião que revelam o que espera o povo, suas angústias, inquietações e desejos. Produz-se, a partir daí, a receita certa para a conquista dos incautos nos grandes contingentes de eleitores.
Pouco importa a real personalidade de quem disputa o mandato, suas opções e opiniões, inclinações, gestos e prazeres. Interessa é o que a seu respeito é moldado e deve ser ou não falado e levado ao conhecimento da população. Uma posição até inexistente ou jamais imaginada sobre determinado assunto ou tema é logo produzida sob medida, contanto que sirva para atender aos anseios e expectativas de um certo grupo social. E assim a mensagem é elaborada, adequada e azeitada, fazendo brotar os votos fabricados em sintonia com os eleitores.
O político é embrulhado em papel celofane dos mais coloridos e brilhosos para ser apresentado nos programas transmitidos em cadeia nacional ou regional de televisão. Bem escovadinho e penteadinho, branquinho e asséptico, ora mais severo, ora mais cândido, com uma linguagem mais dura ou mais suave, dependendo das circunstâncias, limita-se a atender a tudo o que o mestre manda, no cumprimento da tabela que lhe é imposta pelo marqueteiro.
E o grosso do eleitorado, que não tem a menor capacidade de percepção seletiva e racional, algo em torno de 80%, entra muito bem e passa a considerar em sua tosca avaliação apenas e tão somente o que for útil à estratégia de convencimento popular. Quando tiram o candidato do ‘script’, o desastre é total, especialmente para aqueles que não conseguem ler sem gaguejar uma simples sentença do tipo ‘Ivo viu a uva’ ou ‘a bola é azul’, mesmo quando submetidos ao milagre do ‘marketing’.
Conquistado o poder, por obra e graça dos grandes esquemas prestidigitadores de massa, um massacre sobre os segmentos de analfabetos reais ou funcionais, o marqueteiro paira sobre as equipes de governo. É quando deita e rola, faz e acontece. Os exemplos estão aí, inúmeros e muito próximos. E aqui a cobrança é sempre feita em valores bastante elevados, com presença permanente que se estende ao longo do mandato do eleito. No final, quem termina pagando a conta é o povo, vítima de sua própria ignorância ou da ausência absoluta de senso crítico.
Veja-se o que ocorre com o jornalista João Santana, que aparece no governo Dilma na condição de primeiro-ministro, bem acima dos demais ministros. Afinal de contas, é ele que elege os ‘postes’ do PT, a própria Dilma e mais recentemente o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que vem metendo os pés pelas mãos na administração da maior capital do país. Mas isso é irrelevante, uma vez que o que se pretendia foi alcançado, com a derrota dos inimigos de oposição ao petismo. Santana tem a capacidade de transformar a matéria bruta, alguma coisa próxima da comunicação tatibitate, em postulantes loquazes, falantes e interativos com o povão. Alguns ousam até de forma desafiadora, com intolerância e cenhos cerrados, como vez por outra se mostra a presidente Dilma Rousseff. Fora das mãos mágicas do marqueteiro, certamente experimentariam a tragédia do insucesso, previsível e inapelável.
Agora, na véspera de nova eleição presidencial, Dilma não dá um passo, não sai de casa, não coloca uma nota no ‘twitter’, não batiza, não crisma e não dá uma declaração sem o crivo e o aval de João Santana, o sacerdote do ilusionismo e condestável da República. Ao lado de Franklin Martins, ninguém melhor do que ambos no processo de construção de um projeto de poder, afinado com as aspirações elementares do universo de eleitores, ainda que somente para inglês ver. Sabem igualmente precisar as fraquezas e vulnerabilidades dos adversários, com métodos infalíveis, já na função de conselheiros permanentes no curso da administração do vitorioso nas urnas.
Alarga-se com os marqueteiros a distância no Brasil entre o discurso político e a ação de governo, porquanto vale tudo, menos perder a disputa, e haja promessas e compromissos que jamais serão cumpridos. O fundamental é a conquista, nem que para tanto deva-se falsear os fatos, a fim de esconder o que não poderia deixar de ser mostrado.
É a ditadura do ‘marketing’, que tanto mal faz ao país, ao transformar o feio no belo, a estupidez em ‘inteligência’, o tartamudeio em eloquência e a mentira na verdade.