MANAUS – A Amazônia vive nos últimos meses um drama multifacetado mostrando as dificuldades das populações diante de desafios de diferentes origens. Vivenciamos um permanente mal-estar, testemunhando omissões, crueldades e falta de compromisso dos poderes públicos. Tragédias anunciadas, resultados de ações mal planejadas, crimes ambientais e inépcia política.
Toda a Região Metropolitana de Manaus sofre com a ingestão de fumaça causada por
incêndios criminosos no interior e na capital. A forte presença da fumaça prejudica toda a
população, provocando problemas respiratórios e agravando outras doenças. A fumaça
também mostra uma cidade abandonada pelos gestores que foram eleitos para cuidar dela,
mas se omitem diante dos compromissos assumidos em campanhas eleitorais.
A poluição elevou a cidade ao status internacional de segunda pior do mundo para respirar,
segundo monitoramento do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental da Universidade
Estadual do Amazonas. A situação vem afetando todos os setores da sociedade: comércio,
turismo e serviços como educação, transporte e saúde. A cidade está sufocando!
Outro aspecto preocupante da crise é a falta de água potável aprofundada atualmente pela
ausência de chuvas, que atinge toda a região, deixando centenas de municípios em situação de
precária qualidade de vida. Além da falta de água vivida permanentemente nas periferias e
outros lugares pobres da cidade, a seca trouxe dificuldades de acesso à água potável até para
as populações ribeirinhas, que assistem impotentes o desaparecimento dos peixes e da
alimentação em geral.
O caldo engrossa ainda mais pela falta de esgotamento sanitário em todas as áreas da cidade,
trazendo à tona dificuldades históricas. Além do castigo da seca, que faz o rio diminuir (ou
desaparecer) diante dos olhos do manauara, grandes quantidades de esgotos drenadas para os
igarapés e rios da cidade radicalizam a degradação ambiental. A concessionária de água e
esgoto – Águas de Manaus – tenta fugir da responsabilidade, sem obter êxito, pois já são mais
de duas décadas de privatização e omissão diante do caos.
Moradores das proximidades do Igarapé do Gigante são unânimes em denunciar, por exemplo,
a responsabilidade da empresa na poluição do rio Tarumã-Açu. Até a Secretaria do Meio
Ambiente do Estado já reconhece a culpa da empresa pela situação em que se encontra o rio. O poder concedente (a prefeitura municipal), no entanto, é omisso. Conivente, a Agência
Reguladora – Ageman – não realiza a sua obrigação de fiscalizar e punir a infratora.
Manaus parece mesmo uma cidade sem lei. Acobertados, os grandes criminosos não temem a
punição. Bem articulados, garantem a impunidade. Do outro lado, a população sedenta é
sufocada e mergulhada no esgoto.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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