Em qualquer país do mundo, mesmo nos que registram alto grau de corrupção, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já teria caído. Nos países com democracia mais sólidas, por iniciativa própria, já teria renunciado à presidência da Câmara dos Deputados, depois da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas no Brasil, Cunha “canta de galo”, ameaça as instituições (governo e Ministério Público), bate o pé e diz que fica no cargo. Pior que a insolência do presidente da Câmara, no entanto, foi a manifestação da Força Sindical de apoio ao denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Questionado em Manaus sobre o significado do ato, um dirigente da Força Sindical saiu-se com essa: “No pouco tempo que está à frente da Câmara dos Deputados, ele já aprovou medidas em favor do trabalhador que os outros não aprovavam há anos”. Não listou tais medidas. Mas na hipótese de o sindicalista estar certo, a aprovação de matérias dessa natureza exime o presidente da Câmara de culpa nos crimes em que ele é denunciado no Supremo Tribunal Federal?
É claro que não! O apoio da Força Sindical a Cunha só reforça a tese de que no Brasil ninguém está interessado em combater a corrupção, mas apenas “faturar” em cima das denúncias que porventura surgem nos cenários nacional, estadual e municipal. No caso nacional, está evidente, desde que o último processo eleitoral foi finalizado, que os atores políticos atuam de olho nas eleições vindouras. De um lado, a oposição atua para enfraquecer o governo; de outro, o governo luta para se manter no poder, mesmo enfraquecido pela crise política e econômica.
A briguinha política entre oposição e situação não levará o país a melhorar as instituições e a qualidade da administração. No quesito combate à corrupção, todos falam pisando em ovos, por medo de que uma pedra acerte o seu telhado de vidro. O próprio (eterno) presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, recentemente, passou a ser investigado por corrupção passiva, no Inquérito 3901, no Supremo Tribunal Federal.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, é suspeito de vender, com outras pessoas da central sindical, “cartas sindicais, [documentos] indispensáveis ao registro de sindicatos”. As cartas são autorizações do Ministério do Trabalho para a criação de sindicatos. Ele nega as acusações, mas o ministro Gilmar Mendes encaminhou o pedido do Ministério Público Federal para a Polícia Federal, que investiga o caso desde agosto do ano passado.
Foi essa entidade que na sexta-feira entoou o coro “Cunha guerreiro do povo brasileiro”. A entidade e seus associados têm todo o direito de se manifestar a favor de quem quer que seja, inclusive de alguém com a ficha de Eduardo Cunha. Mas não pode falar em nome do povo brasileiro, que certamente, não goza de qualquer simpatia por quem pratica atos de corrupção, como os que estão na denúncia do procurador Rodrigo Janot contra o presidente da Câmara dos Deputados.
Mais uma vez, os fatos estão a revelar o quão distante o Brasil está de uma sociedade mais digna e afastada da corrupção que corrói as instituições e contamina os cidadãos como uma peste. Quando se pensa que há uma luz no fim do túnel, a chama se apaga e voltamos à estaca zero.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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