Eduardo Sodré, da Folhapress
SÃO PAULO, SP – Afetada pela escassez de componentes eletrônicos, a produção de veículos cresceu 1% entre abril e maio.
Diante dos números de vendas de modelos novos e usados, o resultado mostra que a retomada da fabricação segue em descompasso com a demanda do mercado.
Segundo a Anfavea (associação das montadoras), foram fabricadas 192,8 mil unidades no último mês, número que inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
No acumulado do ano, os 981,5 mil licenciamentos entre janeiro e maio levaram à alta de 55,6% sobre igual período de 2020. A variação se deve aos dias em que as fábricas estiveram fechadas no início da pandemia de Covid-19.
Agora o ritmo tem sido prejudicado pela falta de semicondutores: de acordo com Anfavea, a escassez do componente leva a um teto técnico que limita a produção a algo entre 180 mil e 200 mil unidades por mês. Em 2014, melhor ano da indústria, a média mensal foi de 331,7 mil unidades.
Mais afetada pela crise, a General Motors só deve retomar a produção do Onix em Gravataí (RS) na virada de julho para agosto. Volkswagen e Nissan já confirmaram paralisações entre maio e junho, e o planejamento de todas as montadoras tem sido revisado semanalmente.
Sem solução no curto prazo, o problema vai afetar as vendas no segundo semestre -período que, apesar dos problemas com desemprego, inflação e crédito, era visto com otimismo devido ao avanço da vacinação e do provável crescimento do PIB nos próximos meses.
Os estoques seguem baixos. As 96,5 mil unidades disponíveis são suficientes para atender a 15 dias de comercialização. A Anfavea considera que o número está compatível com o mercado, mas há fila de espera por diversos modelos e versões no país.
Na Fiat, a picape Strada tem espera de até 150 dias. A GM também enfrenta problemas com entregas devido à parada na produção do Onix.
Os resultados registrados nas lojas mostram que o consumidor mantém o interesse em adquirir automóveis novos ou usados.
A venda de veículos leves e pesados em maio teve alta de 7,8% na comparação com abril, segundo a Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos novos).
O mês terminou com 188,7 mil unidades emplacadas, número que inclui carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.
O segmento de carros usados registrou um crescimento de 18,5% em maio em relação a abril, de acordo com a Fenauto (entidade que representa os lojistas multimarcas). Foram negociadas 1,33 milhão de unidades no último mês.
O presidente da Anfavea avalia que há consumidores migrando para o segmento de modelos usados por não terem encontrado o automóvel zero-quilômetro à disposição. Em outros casos, a compra é postergada.
“Falta de produto pode acontecer justamente pela dificuldade de aumentar a produção, mas cada caso é um caso. Essa dificuldade deve se manter no segundo semestre”, afirma Moraes.
A Anfavea explica que os semicondutores são usados no controle de funções do motor, dos sistemas de segurança e nos itens de conforto e de entretenimento.
“Há uma certa concentração [da produção] na Ásia e estamos sujeitos também a outros riscos, como o incêndio que ocorreu em uma fábrica no Japão”, diz Moraes. “O equilíbrio entre oferta e demanda se dará a partir de 2022, com certeza teremos algumas emoções até o fim deste ano.”
O presidente da Anfavea diz que há outros problemas com peças, mas são casos pontuais. Na visão do executivo, é necessário investir na produção local.
“É estratégico para um país ter fábricas de semicondutores, que são utilizados em uma grande variedade de produtos eletrônicos. Os países que pensam lá na frente estão usando o problema de hoje para investir nessa área”, afirma Moraes.
“O governo deveria pensar também nessa indústria nova, que pode ser uma base de exportação para outros países. Valorizamos muito a agricultura e a mineração, mas não podemos deixar a indústria da transformação de lado.”
As exportações cresceram 9,1% em maio na comparação com abril. Argentina, México e Colômbia foram os principais parceiros no período, mas o setor também é prejudicado pela falta de peças. O Brasil disputa os semicondutores com outros mercados e nem sempre está entre as prioridades das matrizes.
“Esse problema sempre existiu, e agora todos estão brigando pelos semicondutores, é um desafio adicional”, diz Moraes.