Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O promotor de Justiça Flávio Mota, do MP-AM (Ministério Público do Amazonas), disse que líderes da facção criminosa FDN (Família do Norte) no Amazonas arrecadavam dinheiro para ‘caixinha’ para ajudar familiares de presos. Conforme o promotor, eles agiam como ‘juízes’ em um ‘tribunal do crime’ ordenando execuções.
Na manhã desta quinta-feira, 15, o MP e a Polícia Civil deflagraram a Operação Asfixia simultaneamente em nove estados para o combate aos núcleos financeiros da facção criminosa. Em Manaus, Alan Barbosa Rolim e Anderson Barbosa Rolim foram procurados pelos policiais com ordens de prisão, mas não foram encontrados. O terceiro alvo da ação, Márcio José Lopes Carneiro (o Márcio ‘Doido’), já estava detido no presídio federal de Mossoró (RN), segundo Flávio Mota.
“O Márcio encontra-se no presídio federal de Mossoró. Ele foi inclusive transferido para o presídio federal de Mossoró após o massacre, justamente por ter alguma participação, algum envolvimento. Os outros dois, os dois irmãos, estão soltos, realmente estão foragidos”, explicou o promotor.
Conforme o promotor, a função dos integrantes da facção que estão soltos é arrecadar dinheiro. “A principal função dessa liderança que opera nas ruas, que é chamada de frente, é arrecadar dinheiro, centralizar essa arrecadação de dinheiro que os filiados são obrigados a pagar mensalmente, aquilo que a gente chama de caixinha da facção”, explicou.
Ainda conforme o promotor, a ‘frente’ também atua na distribuição do dinheiro para familiares de presos. “Além disso, essa pessoa, essa liderança, também é responsável por pagar uma ajuda financeira, uma contribuição financeira para todos aqueles familiares de alguns presos proeminentes que se encontram detidos. Também é uma das funções dessa liderança exercer a função de disciplina. O que é isso? É aquela pessoa que atua como um juiz, decide quem vai morrer ou então autoriza quem vai ser executado”, afirmou Mota.
A origem dos recursos financeiros é do tráfico de drogas, afirma o promotor. “O principal foco é o tráfico de drogas. Foi apreendida uma certa quantia em dinheiro, coisa de dois ou três mil reais. Ainda vai ser contabilizado”, disse.
Sem prisões
De acordo com a procuradora-geral de Justiça do Amazonas, Leda Mara Albuquerque, os mandados de busca e apreensão foram todos cumpridos nesta quinta-feira, mas os de prisão ainda estão em curso. “Na verdade, foram três mandados de prisão e sete de busca e apreensão. Os de busca e apreensão nós conseguimos lograr êxito ainda pela manhã e o de prisão apenas um foi efetuado, foi cumprido satisfatoriamente. Os demais estão em curso”, disse.
Os mandados de prisão são direcionados aos supostos mentores do massacre de presos em presídios de Manaus, segundo Leda Mara. “Essas lideranças, cujos mandados foram expedidos para prisão deles, elas são supostamente os autores, os mentores intelectuais daquele massacre que ocorreu recentemente no presídio local”, afirmou.
De acordo com o MP, Alan Barbosa Rolim é considerado o novo líder da facção e age fora do sistema prisional; Márcio José Lopes Carneiro é tido como o novo líder da facção dentro do sistema carcerário; e Anderson Barbosa Rolim, irmão de Alan, participa do tráfico e venda de drogas da facção.
Investigação
De acordo com o promotor Flávio Mota, as investigações começaram em dezembro de 2018 com a interceptação de mensagens telefônicas entre ops criminosos. “As investigações começaram em dezembro do ano passado, quando o Ministério Público interceptou alguns ‘salves’, algumas mensagens que circulam entre os faccionados informando que um deles, o Alan Rolim, seria a liderança, a principal liderança fora do sistema prisional da facção local. Enquanto que o Márcio Carneiro seria a principal liderança dentro do sistema prisional”, disse o promotor.
Outras investigações deram indicações de que Alan e Márcio eram autores do massacre, segundo Mota. “Outras investigações do Ministério Público apontam que tanto o Alan quanto o Márcio seriam os autores intelectuais desse massacre. Teria partido deles os ‘salves’ que ensejaram o massacre dentro do sistema prisional em maio desse ano”, completou.
Operação Asfixia
Além de líderes de facção, policiais também foram alvos da operação. “Policiais foram presos em operações de outros Gaecos Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de outros estados. Mas, realmente, tem muita participação de policiais colaborando com o tráfico de drogas”, disse Flávio Mota.
A operação faz parte da ofensiva conjunta dos Gaecos (Grupos de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) que estão realizando, nesta quinta-feira, operações contra integrantes de organizações criminosas. Além do Amazonas, as diligências ocorrem no Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro.
(Colaborou Felipe Campinas)