
Da Redação
MANAUS – Em depoimento à CPI da Amazonas Energia nesta terça-feira (9), o deputado estadual Jair Montes (Avante), de Rondônia, disse que a CPI da Energisa, da qual foi o relator em 2020, descobriu que a concessionária de energia promovia apagões propositadamente no período do verão no estado rondoniense para “economizar”.
Montes e o presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, Alex Redano (Republicanos), foram convidados pelo presidente da CPI da Energia, Sinésio Campos (PT), para apresentar os resultados alcançados com as investigações feitas pelo Legislativo de Rondônia. Além dos apagões, os deputados citaram irregularidades em medidores de energia.
O relator da CPI da Energisa explicou que as empresas do setor compram determinada quantidade de energia das geradoras para vender aos consumidores. Entretanto, em Rondônia, no período do verão, quando aumentava a demanda por energia elétrica, a Energisa promovia os apagões para racionar a distribuição.
“Eles compram a energia na Bolsa de Valores para distribuir para a população. Mas na hora que a população começa a usar muito, no pico do verão – liga o ar condicionado, chuveiro elétrico e ferro, vai lá pra cima o consumo. Então, aquilo que eles compraram na Bolsa não dá pra abastecer todo mundo. Eles começam a criar os apagões”, disse Montes.
“É como se elas fossem no mercado comprar dez quilos de carne para 100 pessoas. Mas quando chega na hora da fome 10 quilos de carne não dá para 100 pessoas. Então, vou fazer o quê? Diminuir. Se cada pessoa come 200 gramas de carne, vai ter que diminuir para 100 gramas, para alimentar todo mundo. É a mesma coisa da energia”, completou Montes.
O deputado de Rondônia também afirmou que a comissão do estado vizinho identificou irregularidades em medidores de energia. “Uma coisa que aconteceu em Rondônia e deve estar acontecendo aqui é o seguinte: o meu relógio que está lá em casa há dez anos dava 100 kW. Ele passou a dar 130 kW e 140 kW. Por que?”, questionou Montes.
“Então, é uma outra coisa que é um desafio muito grande para a CPI porque nós não temos a estrutura para fazer a medição. Ninguém sabe o tanto de carga que a concessionária joga na rede de energia para dar essa ‘estourada’. Você pagava R$ 100 em uma conta de luz e ela começa a vir R$ 300. Aí começa o desespero”, afirmou Montes.
O parlamentar disse, ainda, que a comissão identificou que a empresa distribui o prejuízo referente as ligações clandestinas entre os consumidores que pagam regularmente. “Eles continuam rateando. Aquelas pessoas que eles falam que tem X de ‘gato’ eles rateiam na conta de quem paga corretamente”, disse Montes.
O relator da CPI da Energisa revelou um contrato milionário que a Energisa tinha firmado com o Ipem (Instituto de Presos e Medidas), órgão responsável por fazer documentos que eram chamados de “laudos” dos medidores de energia. “Ali os técnicos faziam a verificação para dizer se o relógio estava fraudado ou não”, disse o parlamentar.
“Verificamos que a Energisa tinha um contrato de 1 milhão, por ano, com o Instituto de Pesos e Medidas Rondônia. Toda a bancada e toda a capacitação era dada pela Energisa. É como se o dono do time fosse também o dono do VAR. Diante disso, conseguimos o fim do convênio entre o Ipem e a Energisa”, afirmou Montes.
De acordo com o deputado, com os documentos do Ipem, a concessionária ganhava causas na Justiça contra consumidores. “Aquilo não era laudo, era uma informação que o Ipem dava para a Energisa e ela usava aquilo para entrar no Judiciário falando: ‘olha, conforme o laudo do Ipem, o consumidor fraudou ou mexeu no relógio e vamos cobrar dele R$ 30 mil”, disse.
“Ali o Judiciário recebia aquele documento como se fosse um laudo. A gente descobriu que aquilo não era laudo. Hoje, o Tribunal de Justiça não dá mais nenhum tipo de ganho de causa para a concessionária com esse documento do Inmetro. Nós proibimos o Inmetro de trabalhar em favor da Energisa. Eles contratam outro instituto”, afirmou Montes.