Por Saadya Jezine, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – Segundo levantamento realizado pela Associação dos Pacientes Renais Crônicos do Amazonas (Arcam), de janeiro a março deste ano, só no Hospital 28 de Agosto, 78 pacientes que faziam tratamento renal morreram. Thiago Coelho, representante da organização que conta com 1.600 associados em todo o Amazonas, afirma que a situação dos pacientes renais crônicos que esperam por tratamento já é chamada de “loteria da morte”.
Segundo pacientes, um corte no rapasse do governo federal e do governo do Estado para as clínicas que atendem pacientes da rede pública foi o que a resultou “na estatística alarmante”. “Se contabilizarmos com os outros quatro hospitais que atendem pacientes com problemas renais, o cenário é muito mais preocupante, porque a história se repete em todos eles”, afirma Renata Carvalho, presidente da associação.
O Hospital Santa Julia, contratado pela Susam (Secretaria de Estado e Saúde do Amazonas) em 2013 – Contrato n° 022/2013 – para realizar os procedimentos de pré-transplantes renais, transplantes, pós transplantes renais, acompanhamento ambulatorial e de intercorrências pós-transplantes teve o contrato encerrado em 29 de fevereiro deste ano. A assessoria do Santa Julia afirmou que o não cumprimento do pagamento por parte do Estado com o hospital já se estendia por mais de um ano, e que depois de muito diálogo, a diretoria do Santa Julia optou por não renovar o contrato.
Segundo Thiago Coelho, “O governo do Estado está com uma dívida atualmente num montante de R$ 8 milhões”.
Situações
Um dos problemas mais graves enfrentados por pacientes com problemas renais é a dificuldade de realizarem hemodiálise. “Os hospitais estão deixando de fazer o procedimento por conta do recurso que o Estado está deixando de pagar aos hospitais e as filas de pacientes estão aumentando. Essas precisam de regularidade no tratamento”, afirma Coelho. A hemodiálise deve ocorrer em três sessões por semana, cada uma com 4h. “Mas há pacientes que realizam as sessões quinzenalmente”, afirma o representante.
Segundo Renata Carvalho, outro problema é referente aos transplantados. “Esses pacientes precisam de um profissional chamado nefrologista. O profissional é essencial na continuidade do tratamento das pessoas transplantadas”, afirma. Através dos laudos realizados pelos médicos, os pacientes são encaminhados aos hospitais para receber os medicamentos anti rejeição. “Sem esses remédios, o transplante não tem função alguma”, complementa a presidente da associação.
Parlamentares
A deputada Alessandra Campelo (PMDB), em cessão de tempo na ALE (Assembleia Legislativa do Estado), na quarta-feira, 20, se comprometeu em levar o caso a outras instancias, como o Ministério Público Federal e Polícia Federal se não houver uma resposta do Estado. “É uma situação que atinge a saúde do Estado, mas o governo recebe recursos da União”, afirma a parlamentar, para justificar a ida aos órgãos federais.
O deputado David Almeida (PSD), informou em pronunciamento na própria sessão, que ligou para o secretário da Susan, Pedro Elias de Souza, informando sobre a situação e o mesmo afirmou ao parlamentar que Lenir Passos – responsável pelo setor de nefrologia do Hospital Adriano Jorge – estaria pela parte da tarde no local, para liberar receitas para os pacientes que necessitam do documento para o despacho do medicamento de anti rejeição. No entanto, Thiago informou que esteve no Adriano Jorge à tarde, mas a direção informou que não havia nenhum comunicado sobre o assunto.
A Susam informou em nota que recebeu a solicitação de esclarecimentos pedidos pela Equipe do AMAZONAS ATUAL sobre o assunto, mas até o fechamento da matéria, não encaminhou resposta.