EDITORIAL
MANAUS – O economista Alexandre Schwartsman não está falando aleatoriamente quando diz que a indústria da Zona Franca de Manaus é “uma aberração”. Está a serviço de empresários e políticos do Sudeste, aquela região que já foi classificada pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, como melhor do que o Norte e Nordeste. Na ocasião, Zema comparou as duas regiões mais pobres do país a “uma vaquinha que produz pouco”.
Schwartsman, como a grande maioria dos economistas, não guarda qualquer isenção quando passa à condição de comentarista nos veículos de comunicação Brasil afora. Falam sempre em defesa de alguém, geralmente de quem os financia ou financia as empresas para as quais trabalham.
O argumento do economista parece coisa de amador, mas a intenção não é mostrar a pouca erudição, e sim se fazer entender por uma parcela maior da população. Diz Schwartsman que a Zona Franca de Manaus é uma aberração porque sua indústria está instalada em Manaus e o mercado consumidor está na região sudeste e sul.
Por essa lógica, os carros fabricados no Brasil não poderiam estar no Sul e Sudeste, porque os produtos da indústria automotiva também são vendidos no norte e nordeste e exportados a países da América do Sul.
Atualmente, o Brasil e os Estados Unidos são grandes consumidores de produtos acabados fabricados na China. Do outro lado do mundo o brasileiro compra os produtos chineses por aplicativos. Pela lógica de Schwartsman, a indústria chinesa é uma aberração.
A logística de transporte para escoar a produção do Polo Industrial de Manaus chegou a ser afetada pela estiagem histórica e a seca dos rios da Amazônia, mas a produção das fábricas não parou. E nem faltou insumos, como se imaginava que faltasse. Os rios começam a encher e em breve a estiagem dará lugar às chuvas do inverno amazônico.
Falta estrada para escolar a produção da indústria instalada em Manaus, sim. Mas não é por falta dela que se deve matar a Zona Franca, como quer o economista representante da indústria paulista.
O governo de São Paulo há muito vem lutando para acabar com a Zona Franca de Manaus. O estado mais rico da federação não se conforma com os incentivos fiscais concedidos pela União, sem os quais nenhuma indústria se instalaria em Manaus.
O problema é que as regiões Sudeste e Sul recebem a maior fatia dos incentivos fiscais do país. No ano passado, a isenção fiscal à agricultura e à agroindústria foi muito maior que à Zona Franca de Manaus.
Alexandre Schwartsman deveria ter a coragem de dizer a serviço de quem está quando ataca a Zona Franca de Manaus.