Da Redação
MANAUS – O início de aulas presenciais nas escolas públicas do Amazonas no dia 14 deste mês de fevereiro é precoce, segundo o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia (Fundação Oswaldo Cruz). Orellana alega que o ambiente epidemiológico no estado ainda não é seguro, mesmo com a vacinação. Ele argumenta que ainda há dezenas de milhares de pessoas não vacinadas com primeira dose ou sem o ciclo de imunização completo.
Essa situação, conforme o epidemiologista, pode comprometer uma cadeia de relações dentro da escola (professores e servidores em geral) e fora (transporte coletivo, lanchonetes, lan-house). Orellana defende mais tempo para alcançar condições sanitárias favoráveis. Conforme o pesquisador, o retorno de alunos às salas de aula pode ocorrer depois do dia 6 de março.
Jesem também cita que máscaras de pano, geralmente usadas pelos estudantes, não protegem adequadamente contra o contágio pelo novo coronavírus, especialmente em ambientes pouco ventilados e pequenos. O pesquisador também avalia que a estrutura sanitária nos colégios com totens de álcool em gel, pias para lavar as mãos e tapetes sanitizantes não são suficientes para proporcionar um ambiente isento do vírus.
“A ômicron [variante do novo coronavírus], por exemplo, é muito mais transmissível e pode permanecer mais tempo sobre superfícies ou pele em comparação às versões anteriores do SARS-COV-2. Portanto, é irresponsável afirmar que a variante tem baixa carga de virulência”.
Orellana também cita falta de interpretação adequada quanto ao cenário sanitário e o acompanhamento dos dados do Comitê de enfrentamento à Covid-19. “O último boletim da FVS [do dia 7 de fevereiro de 2022] informa claramente que estamos com quase 120 pacientes em estado gravíssimo na UTI e mortes por Covid-19, além de milhares de casos novos. Portanto, estamos distantes de possível controle epidêmico e em meio a 3ª onda, com o interior desassistido em termos de UTI e atendimento oportuno especializado para paciente Grave de COVID-19”.
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A maioria absoluta das crianças de 5 a 11 anos, lembra Jesem, não está sequer com a 1ª dose e o efeito protetor pleno das vacinas contra a COVID-19 é alcançado 14 dias depois da 2ª dose. Dessa forma, não há tempo para o desenvolvimento de resposta imunológica robusta. “Em outras palavras, mesmo que não seja sua intenção, o governo consolida a falsa noção de que não é importante ter o esquema vacinal completo, algo inaceitável”, enfatiza.
O cientista afirma que é um erro o retorno ao ensino presencial na ausência de condições sanitárias seguras e sem a garantia mínima de proteção. Ele cobra vigilância ativa de novos casos por parte do governo. “O estado do Amazonas deveria considerar adiar o retorno dos estudantes para depois do dia 6 de março, assumindo que as condições sanitárias seriam seguras e que teremos fartas evidências de que as escolas têm estrutura adequada e insumos que possam garantir ambientes seguros e mecanismos que permitam à sociedade monitorar surtos ou o surgimento de casos novos em regime de aula presencial”, conclui.
Protocolo da FVS-AM
A FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) disponibilizou nesta terça-feira um documento atualizado com o protocolo sanitário de prevenção à Covid-19 específico para ambientes escolares.
O objetivo, de acordo com a instituição, é evitar a disseminação da Covid-19 nas ecolas. O documento pode ser acessado aqui.
As recomendações são voltadas para escolas e instituições de ensino superior das redes pública e privada e incluem a intensificação da importância da aplicação de medidas de prevenção à Covid-19, como higiene pessoal, distanciamento social, sanitização do ambiente, monitoramento e comunicação.